Governança de startups do agronegócio não acompanham a expectativa dos investidores

Percepção é da pesquisa “Jornada da Confiança” realizada pela PwC Brasil.

Maurício Moraes. sócio da PwC Brasil e líder para a indústria do agronegócioMaurício Moraes,sócio da PwC Brasil e líder para a indústria do agronegócio. (Foto: Reprodução/Linkedin Maurício Moraes)

O estágio de maturidade em relação à governança adotada pelas startups do agronegócio, principalmente em fases iniciais e finais, não tem acompanhado a expectativa dos investidores. É o que mostra a pesquisa “Jornada da Confiança”, realizada pela PwC Brasil. Pela primeira vez, uma pesquisa mediu o estágio de maturidade das empresas em cada uma das etapas de evolução e em cada pilar do negócio, no que se refere à governança corporativa.

Ao considerar que “Estratégia e sociedade” trata-se dos aspectos de relacionamento entre sócios, o estudo aponta que este é o pilar mais importante para a empresa alcançar, a médio e longo prazo, a maturidade e chegar à fase de escala/crescimento. Ainda de acordo com o estudo, na fase de ideação, 100% das empresas estão acima do nível de maturidade esperado. E na validação, nenhuma empresa do levantamento da PwC pratica as atividades esperadas, que são a criação de uma rede de mentores e conselheiros e a definição de mecanismos de remuneração.

Já em escala, em que o desafio é crescer em um ritmo acelerado, garantindo a expansão do negócio, 57% dos investidores têm expectativa de ver um plano de sucessão elaborado e 32% esperam que a empresa tenha um conselho de administração para apoiar os sócios.

“O mundo está em constante mudança e é necessário que as empresas consigam entender as novas perspectivas ao longo das cadeias produtivas, de consumo, logística e de governança. O papel das startups ligadas ao agronegócio abraça o dinamismo das relações atuais para criar diferenciais inovadores e capturar oportunidades em todos os elos da cadeia de valor”, comenta o sócio da PwC Brasil e líder para a indústria do agronegócio, Maurício Moraes.

As empresas responderam a questões do framework criado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), amparado em quatro pilares: 1. Estratégia e sociedade; 2. Pessoas e recursos; 3. Tecnologia e propriedade intelectual; e 4. Processos e accountability. Ao todo, a pesquisa foi realizada com 33 empreendedores do agronegócio e 37 investidores.

O CEO do AgTech Garage e sócio da PwC Brasil, José Tomé, explica que os investidores estão cada vez mais exigentes com as startups e pedem por demonstrações claras da solidez dos negócios. “Entender como as startups estão posicionadas em relação ao tema da governança é um dos principais caminhos para a criação de um ambiente de confiança, transparência e integridade no ecossistema de inovação”, destaca.

Estratégia e sociedade

No que se refere ao pilar “Estratégia e sociedade”, na etapa de desenvolvimento da ideia e da construção das regras da startup apenas 30% dos investidores esperam que a empresa tenha definida a forma de contribuição dos sócios em relação à empresa. A expectativa dos investidores é ainda menor (19%) pela espera que as startups tenham definidas as regras de saída.

No entanto, na validação um terço das startups do setor do agronegócio participantes da pesquisa está em desacordo com a recomendação do framework nesta fase, por não cumprirem a prática prevista no processo de evolução da startup, que é a formalização do contrato social. Ao pular para tração, apenas 25% dos respondentes praticam o que é esperado neste pilar. A maior parte deles (19%) adota práticas avançadas, como processos formais de revisão da estratégia e de gestão de riscos.

Por fim, apenas um quarto das startups na fase de escala adota todas as práticas recomendadas e apresenta mecanismos de governança com nível alto de maturidade. Metade tem código de ética e conduta formalizado, justamente o item com maior expectativa entre os investidores, 38% de indicações.

“Os investidores exigem cada vez mais das empresas a confirmação de que os conceitos de governança, mais do que um discurso, estão realmente sendo aplicados. O nosso estudo permite ver exatamente como o ecossistema de startups está percorrendo sua jornada da teoria para a prática da governança”, conclui o sócio e líder de Startups e Investidores da PwC Brasil, Rodrigo Marcatti.

Pessoas e recursos

Os números da PwC apontam que não se espera que as startups sejam envolvidas em atividades ligadas ao pilar de pessoas e recursos humanos, todo capital intelectual envolvendo recursos palpáveis ou não à construção de uma startup.

Os números seguem baixos na etapa seguinte, 13% das startups na fase de tração praticam todas as atividades recomendadas. Entretanto, o percentual é maior do que o registrado para a média de empresas de todas as indústrias (7%). Além disso, 1% adota práticas esperadas na fase seguinte e relacionadas ao plano de sucessão.

Na contramão desta expectativa, nenhuma startup do agronegócio na fase de escala pratica todas as atividades recomendadas quando avaliada a governança no aspecto de pessoas.

Tecnologia e propriedade intelectual

Quase um terço dos investidores (27%) esperam ver a prática de propriedade intelectual implementada na fase de ideação, porém metade das startups do agronegócio ainda não adota em níveis recomendados.

A diferença fica maior na fase de validação, 50% dos investidores esperam que as startups abordem formalmente no acordo de fundadores questões relacionadas à propriedade intelectual e confidencialidade dos envolvidos no empreendimento, mas apenas 33% das empresas do agronegócio o fazem – um pouco mais do que a média de todas as indústrias participantes da pesquisa (27%).

Para José Tomé, o estágio de maturidade ainda segue baixo no momento de adequação do produto ao mercado. “Os números mostram que somente 25% das startups do agronegócio seguem o que é recomendado para este pilar de governança na fase de transição. Em escala, 58% das startups do agronegócio não adotam as práticas recomendadas, mas mesmo com o percentual alto, ainda maior que a média de 75% registrada para todas as indústrias pesquisadas na pesquisa”, conclui.

Processos e accountability

Sem resultados apurados para a fase de ideação, de modo que as startups nesta fase ainda não estão em operação, na etapa seguinte, 35% dos investidores esperam que seja adotada a prática recomendada em relação a processos e accountability, mas nenhuma startup do segmento de agronegócio classificada na fase de validação o faz. O resultado está bem abaixo da média geral, que é de 49%.

Na fase de tração, entre as startups do agronegócio que adotam a prática recomendada neste pilar, 6% já cumprem pelo menos uma das atividades esperadas na próxima categoria. Por outro lado, 13% do total de participantes mostram um avanço prematuro, pois, embora adiantadas, ainda não cumprem práticas recomendadas em relação a processos e accountability.

José Tomé evidencia que o percentual de startups do setor que adotam todas as práticas recomendadas nesse pilar de governança para a fase de escala é baixo (17%), mas, ainda assim, está acima da média de todas as indústrias (5%). “Mais da metade dos investidores espera ver órgãos de fiscalização e controle complementares implantados na startup, como conselho fiscal, comitê de auditoria, auditoria independente e auditoria interna, entretanto apenas 33% das empresas declaram adotar essa prática, em comparação com uma média de 18% para todas as indústrias”, destaca.