Contratações internacionais remotas crescem mais de 50% no Brasil

Segundo especialista, os principais fatores para esse crescimento são os salários pagos em dólar e a flexibilidade dada aos profissionais.

photo-female-entrepreneur-speaks-via-cell-phone-looks-thoughtfully-into-window-analyzes-paperwork-from-accounting-departmentSetores mais beneficiados são os de tecnologia e de engenharia de software. (Foto: Freepik)

Está crescendo o percentual de trabalhadores brasileiros contratados por empresas estrangeiras para trabalho remoto. O crescimento foi de 53% entre 2023 e 2024, de acordo com o relatório Contratação Internacional e Remota realizado pela Deel, plataforma de recursos humanos para equipes globais. Os setores mais beneficiados são os de tecnologia e de engenharia de software, como aconteceu com o programador Samuel Joaquim, de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.

Os motivos para esse aumento se referem à parte monetária e à flexibilidade que as empresas internacionais fornecem. “Os trabalhadores recebem o pagamento em uma moeda mais valorizada que o real, seja em euro ou libra”, explica o professor Ildeberto Aparecido Rodello, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP.

Outro motivo, segundo o professor, é a experiência de trabalhar para uma empresa internacional e agregar isso no currículo. “A flexibilidade de horário proporcionada pode ser um outro motivo, uma vez que o profissional pode manter uma flexibilidade de tempo, de rotina, quanto ao seu trabalho.”

Sem sair de casa, em Ribeirão Preto, Samuel Joaquim trabalhou por três anos como desenvolvedor de software em uma startup da área da saúde localizada no Vale do Silício, nos Estados Unidos. Ele diz que uma das principais vantagens é o salário, “bastante atraente, pago em dólar, e tem a experiência de trabalhar diretamente para uma startup na região que é considerada o epicentro da inovação na área da tecnologia há muitos anos”.

Entretanto, Joaquim diz que alguns outros benefícios acabam sendo limitados. “Não tem plano de saúde, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), décimo terceiro, por isso é necessário se planejar antecipadamente, quanto vai gastar por mês com plano de saúde ou até fazer uma previdência complementar.”

Ele conta que um dos principais desafios durante o processo de contratação e adaptação foi saber se comunicar na língua oficial da empresa, no caso, o inglês. “Não precisa ter um inglês perfeito para ser contratado, mas precisa conseguir entender muito bem e fazer com que outras pessoas nos entendam. Nós podemos até errar uma pronúncia ou esquecer outra palavra, mas é importante saber contornar para que a mensagem seja compreendida.”

O programador diz que espera continuar trabalhando dessa forma no futuro, mas que também não descarta oportunidades no Brasil. “Estamos com uma cultura crescente de startups de tecnologia no Brasil, inclusive trabalhei em algumas. Se você começar a trabalhar bem no começo dessa startup, significa que você pode ajudar a moldar a empresa, ter mais voz, decidir caminhos para seguir no começo, e isso é muito legal.”

Ascensão do home-office

As contratações internacionais no modelo home-office vêm crescendo desde a pandemia. Uma pesquisa feita pela plataforma Husky de transferências internacionais apontou que, em março de 2020, havia 1.251 trabalhadores brasileiros que atuavam no exterior e usavam a plataforma para converter o salário de dólar para reais. No final de novembro de 2022, o número cresceu para 11.284.

O professor aponta que essa é uma oportunidade principalmente para os jovens que estão entrando no mercado de trabalho. “Estamos em um mundo globalizado, onde podemos atuar em qualquer país de forma remota. Houve muitas coisas ruins na pandemia, mas uma das coisas boas que ela trouxe foi essa capacidade das pessoas poderem atuar de forma remota e que pode ser para empresas internacionais.”

Rodello aconselha que os interessados em buscar oportunidades internacionais precisam se preparar, “aprender inglês é mandatório, pois essas empresas são multiculturais, com pessoas de diversos países”. Outro ponto de atenção para os profissionais são as soft skills, ou seja, habilidades comportamentais, emocionais e sociais que determinam como uma pessoa reage em determinadas situações, principalmente em relação a capacidade de se relacionar e ter flexibilidade nas adaptações, explica o professor.