Vitória de prefeita eleva a participação de eleitoras adolescentes no pleito seguinte

Já a derrota de candidatas reduz o registro eleitoral de meninas de 16 e 17 anos, conclui estudo.

Quando uma mulher se elege prefeita, a fatia de eleitoras adolescentes do município no pleito seguinte aumenta. Mas, quando a candidata é derrotada por um homem, o efeito é o contrário: cai a proporção de meninas aptas a votar de 16 e 17 anos, faixa etária em que o registro eleitoral é facultativo no Brasil.

Ao avaliar os ciclos eleitorais de 1996 a 2012, os pesquisadores Sergio Firpo, do Insper, Paulo Arvate e Renan Pieri, ambos da FGV, observaram um efeito estatisticamente significativo, embora de proporção relativamente pequena, de triunfos e derrotas de mulheres em pleitos municipais sobre o engajamento da fatia mais jovem do eleitorado.

A hipótese é a de que uma candidata vitoriosa influi, pelo exemplo, positivamente na participação política das mulheres daquela localidade, e vice-versa em caso de insucesso. As regras brasileiras, que permitem mas não obrigam o registro de adolescentes de 16 e 17 anos — à diferença da norma mandatória para adultos até os 70 —, conferiram aos pesquisadores um ambiente similar ao de um experimento para testarem sua cogitação.

 

Quadro mostra a participação feminina em chapas e cargos no Brasil. Os dados mostram que as mulheres representam 13,4% dos candidatos a prefeito no Brasil e 11,9% dos eleitos; 32,1% dos candidatos a vereadores e 13,5% dos eleitos; 19,1% dos candidatos a deputados federais e 8,8% dos eleitos; 25,9% dos candidatos a deputados estaduais e 13% dos eleitos.

A análise de saída restringiu-se aos municípios com menos de 200 mil eleitores (onde não ocorre segundo turno para definir o prefeito) em que os dois primeiros colocados eram de gêneros diferentes. Também se circunscreveu aos casos em que a margem de vitória ou derrota da candidatura feminina se aproximou de zero. Nessas situações, o que diferencia triunfo de insucesso são menos os atributos dos competidores e mais fatores incidentais — o que as aproxima dos sorteios feitos em experimentos controlados.

Nesse espectro da avaliação, a evolução da fatia de meninas de 16 e 17 anos registradas para votar dois anos depois que uma candidata a prefeita havia sido eleita ou derrotada revela uma descontinuidade quando a margem do resultado tende a zero. Dá um salto pequeno para cima em caso de vitória e outro, quase simétrico, para baixo após derrota.

A magnitude do efeito foi estimada entre 1,1 e 1,6 ponto percentual — para mais após vitória, para menos após derrota — na proporção de meninas inscritas para votar, sendo ligeiramente maior em cidades com participação de vereadoras acima da média.

Exercícios suplementares sugerem que adolescentes mais velhas, em idade de votar quando uma candidata é vitoriosa ou derrotada, transmitem para irmãs mais novas o estímulo favorável ou contrário ao engajamento, que se concretizará no registro eleitoral dois anos depois. Também indicam que acesso a informação — seja em programas para orientar adolescentes sobre eleições, seja por conexão facilitada à internet — conta favoravelmente na decisão de meninas de 16 e 17 anos de registrar-se para votar.