Empresas estão elevando suas cadeias de suprimentos à prioridade do negócio, com foco em sustentabilidade

Levantamento mostra preocupação com a cadeia de suprimentos, que responde por mais de 90% das emissões de gases de efeito estufa de uma organização, por exemplo.

Estudo apontoa que cada vez mais consumidores, colaboradores, investidores, ativistas e até mesmo fornecedores fazem perguntas de implicações ambientais e sociais (Foto: Pixabay)

“As empresas estão repensando seus modelos de negócio para colocar suas cadeias de suprimentos no centro deles, com foco em sustentabilidade e ênfase no objetivo de carbono net zero. Como evidência disso, de acordo com o estudo "Sustainable Supply Chain Research 2022", elaborado pela EY, oito em cada dez priorizam as iniciativas de ESG e sustentabilidade. Quase três em cada dez têm o compromisso de fazer com que suas cadeias de suprimentos sejam net zero até 2030. Parcela relevante dos setores de manufatura, varejo e governo espera cumprir esse objetivo ainda antes: até 2025.

No Brasil, a falta de orçamento é a maior barreira para desenvolver programas que tornem sustentável a cadeia de suprimentos. Por outro lado, o país se destaca na utilização da inteligência artificial e do machine learning na cadeia de suprimentos, com 71% dos entrevistados pela pesquisa dizendo que são bem-sucedidos nessa tarefa.

O percentual do Brasil é superior ao da média registrada no levantamento, que contou com a participação de 525 grandes empresas ocidentais de setores como varejo, saúde, governo, tecnologia, energia, manufatura, mobilidade, alimentação e agricultura, ouvindo seus executivos seniores de cadeias de suprimentos. Além do Brasil, os seguintes países foram contemplados: Argentina, Canadá, Estados Unidos e México.

De forma geral, os executivos entrevistados querem aumentar a visibilidade e resiliência de suas cadeias de suprimentos de ponta a ponta e, para isso, colocam os objetivos de sustentabilidade no topo da lista de prioridades. No entanto, enquanto muitos deles mantêm para suas cadeias uma estratégia de sustentabilidade de longo prazo (cinco a dez anos, por exemplo), poucos têm uma forma eficaz de mensurar o progresso.

“Sem a tecnologia adequada para coletar e analisar dados de várias fontes, as métricas de desempenho tendem a ser menos avançadas e baseadas em dados qualitativos, e não quantitativos”, diz Jerri Biscuola, sócio de supply chain e operações da EY. “Nossa pesquisa mostra que apenas 50% das companhias relatam KPIs básicos sobre sustentabilidade e riscos da cadeia de suprimentos. Isso faz com que objetivos de negócio sejam de difícil alcance”, completa.

Ainda segundo o levantamento, à medida que as empresas aumentam suas conexões digitais em toda a cadeia de suprimentos, a colaboração entre os fornecedores fica mais fácil. Por isso, a recomendação é investir em ferramentas digitais, análise de dados e compartilhamento de informações para capturar métricas, desenvolver scorecards de fornecedores, definir benchmarks e KPIs, bem como estabelecer uma governança.

Ofertas de tecnologia, como torres de controle e aplicativos de sustentabilidade baseados em nuvem, podem ajudar a identificar formas de tornar mais eficiente a operação, incluindo a melhor maneira de utilizar os recursos. “Quando uma organização domina essas atividades, ela pode liderar a criação de um ecossistema de fornecedores que ajudarão a desenvolver produtos e práticas sustentáveis”, observa Jerri.

Essa preocupação com a cadeia de suprimentos, que responde por mais de 90% das emissões de gases de efeito estufa de uma organização, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, não é explicada apenas pela contribuição significativa que pode dar para a organização atingir suas metas ESG. As cadeias de suprimentos, de acordo com estimativa da EY, representam de 50% a 70% dos custos operacionais de uma empresa (incluindo nessa conta gastos com fornecimento de materiais, fabricação, armazenamento e transporte).

Cadeias de suprimentos sob análise

Conflitos geopolíticos, atrasos da logística que depende dos portos, falta de energia elétrica e eventos climáticos mantiveram, nos últimos anos, as cadeias de suprimentos no noticiário. Sem contar os problemas que atingiram fabricantes específicos, como a escassez de chips de silício na pandemia, situação que ainda perdura.

No período crítico da pandemia, os hospitais ficaram sem respiradores e equipamentos de proteção pessoal, exigindo da logística capacidade de entrega maior, especialmente nos lugares mais isolados de países continentais como o Brasil. Espaço, ainda, para escassez de mão de obra nas principais economias do mundo; relatórios sobre condições de trabalho inseguras; e instalações insalubres de produção de alimentos – tudo isso se insere de alguma forma na cadeia de suprimentos, tornando-a estratégica para as organizações.

Além disso, cada vez mais consumidores, colaboradores, investidores, ativistas e até mesmo fornecedores fazem perguntas de implicações ambientais e sociais sobre como os produtos são produzidos e consumidos. Os suprimentos foram obtidos de forma sustentável? As condições de trabalho foram justas e éticas? O produto foi projetado para ser durável e o fabricante providenciou reciclagem ou descarte seguro? Quais são os planos da empresa para chegar ao net zero de emissão de carbono? Suas práticas operacionais impulsionam inclusão e sustentabilidade?

Essas perguntas apontam para a necessidade de uma mudança holística que force os executivos a reexaminar suas operações e dê a eles a oportunidade de buscar eficiência e sustentabilidade.   

O que é uma cadeia sustentável de suprimentos?

É aquela que contempla práticas ESG em todo o ciclo de vida de bens e serviços. Ou seja, são empreendidos esforços para garantir a sustentabilidade (ambiental, social e de governança) em toda a cadeia de suprimentos, que é considerada o meio de cumprir metas de sustentabilidade e compromissos públicos assumidos pela organização.

Uma cadeia sustentável de suprimentos não considera somente quanto cada produto custa financeiramente, mas também o impacto dele para os trabalhadores envolvidos e para o meio ambiente em termos de materiais, energia e recursos naturais consumidos. Para tornar essa relação mais clara, os dados, mais precisamente a inteligência obtida a partir deles, ajudam as cadeias de suprimentos a se tornarem mais sustentáveis, resilientes e confiáveis, contribuindo para a continuidade da organização, protegendo seus lucros e sua marca, bem como sua reputação junto à comunidade.

Fonte: por Agência EY