Fábio Barbosa: 'As empresas precisam entender que é possível olhar a questão ambiental e social e ainda serem lucrativas'

Fábio Colletti Barbosa, CEO da Natura &Co, fala sobre o posicionamento da marca em questões sustentáveis e o projeto futuro de desenvolvimento.

Fábio Colletti Barbosa_DivulgaçãoFábio Colletti Barbosa, CEO da Natura &Co. (Foto: Divulgação)

Quando o assunto é indústria sustentável, a Natura é referência, trazendo em sua marca o cuidado com o meio ambiente desde a produção da semente até as embalagens. Para conversar sobre esse posicionamento e os próximos passos da empresa, Fábio Colletti Barbosa, CEO da Natura &Co, é o convidado do programa Show Business, comandado pela jornalista Sônia Racy.

O executivo, que tem uma extensa carreira de gestão, já tendo presidido o Banco Real, passado pelo Santander Brasil, Febraban, Grupo Abril e Nestlé, tem como missão um novo momento da empresa, com foco em consolidação.

Como você faz para gerir tantas demandas? Como é o cenário atual?

Sou meio agitado. Mas quando eu estava no conselho da Natura, chegou o momento de encerrar o ciclo de aquisições, como a Tha Body Shop e a compra da Avon, mudando o foco para consolidação, portanto, pensar não só no crescimento, mas também na rentabilidade, na recuperação das margens e no fortalecimento destas novas marcas. Para esta nova fase me pediram ajuda para trazer e hoje estou neste cargo para expandir a ideia de parar de crescer e consolidar.

Você então já conhecia um pouco do processo da empresa. O que preparam para o futuro?

Estou no conselho da Natura há mais ou menos cinco anos, mas conheço a marca há muito tempo e tenho uma identificação grande quanto aos valores, a preocupação ambiental e transparências. Enquanto estava no Banco Real eu compartilhei iniciativas da Natura que as empresas entendessem que é possível sim olhar a questão ambiental e social e ainda ser lucrativa- isso em um mundo que acredita que ou você faz um ou outro. Como citei, acompanhei esse processo de expansão e agora queremos acelerar a consolidação das marcas, como a presença da Avon e Natura na América Latina e deixar a The Body Shop ainda mais forte onde já está e rejuvenescer a marca.

Existe algum projeto de upgrade para a Avon?

Nosso objetivo com a Avon é rejuvenescer a marca, que sempre teve a pauta central as mulheres, que começou há mais de cem anos com a ideia de gerar renda para as mulheres que não podiam sair de casa. Assim como a Natura que tem forte a venda direta com as revendedoras, mas que traz a questão de sustentabilidade mais forte.

Você acha que essa preocupação ambiental veio para ficar?

Acredita que isso seja uma questão geracional. Se a minha geração não deixou um mundo melhor para os nossos filhos, nos deixou filhos melhores para o nosso mundo. Os jovens têm consciência ambiental, social, ética e cidadão que a minha geração não teve. Eles possuem outro padrão de consumo, um olhar para a responsabilidade da empresa. E cada dia no mercado entra um jovem com essa preocupação e sai uma pessoa mais velha que achava tudo isso uma bobagem. Portanto, essa tendência veio para ficar. O consumidor que saber a reputação da empresa, assim como investidor.

Como anda o processo de fiscalização da pauta ESG?

As normas de ESG ainda são um grande problema por ter uma discrepância entre as agências que avaliam- algumas dão nota alta e outras baixas para a mesma empresa. Por isso, o que está acontecendo é estabelecer critérios para que seja possível avaliar de fato se a companhia está dentro dos conformes que está fazendo ou deveria fazer. Acredito que isso tenha que ser feito por uma empresa independente, e na minha percepção, privada. A previsão é que esta avaliação se torne internacional, pois os investidores querem saber se a empresa está alinhada com os seus valores.

O que a Natura faz nesta questão ambiental?

Uma das coisas da Natura são as relações, sempre foi a questão das consultoras e a beleza da mulher na valorização de como ela é, sem usar modelos que são inalcançáveis. E nesta parte ambiental, desde a questão das origens dos materiais, o trabalho em comunidades e pesquisas estão dentro do trabalho. Muito mais que o ambiental, essa preocupação também é social, gerando renda para que essas pessoas não precisem derrubar a floresta. As embalagens e cultura interna também valorizam a sustentabilidade, com materiais com refil, descartáveis e reutilizáveis. Temos o objetivo de reduzir o consumo de plástico e temos metas internas que podem interferir se a pessoa irá ou não receber um bônus no fim do ano.

Como manter o homem de pé junto com a floresta- sem que ele tenha que migrar ou derrubá-la?

Existe hoje uma premissa de manter a floreta em pé que está causando prejuízos ao Brasil com a imagem internacional, à medida que o consumidor quer saber a origem dos produtos. Agora, é preciso pensar também em gerar renda, e o projeto da Natura gera prioriza isso- todos os projetos pensam nisso.