'O real digital coloca o Brasil na vanguarda da inovação financeira global', afirma Paulo Henrique Costa, presidente do Banco BRB
Conferência, realizada nesta terça-feira (29), reuniu autoridades, parlamentares e empresários dos setores de finanças, sustentabilidade, agronegócio e transição energética.
LIDE Brazil Conference London reuniu autoridades, parlamentares e empresários brasileiros e britânicos. (Foto: Felipe Gonçalves/LIDE)
O LIDE Brazil Conference London, realizado nesta terça-feira (29) no Hotel Savoy, reuniu autoridades, parlamentares e empresários dos setores de finanças, sustentabilidade, agronegócio e transição energética. O evento discutiu o potencial dos investimentos no Brasil e oportunidades de colaboração com a Grã-Bretanha. Na primeira metade da sessão, o real digital, open finance, agronegócio e sustentabilidade estiveram em pauta entre os convidados.
Breno Silva, presidente do LIDE UK, ressaltou a forma como o Brasil pode se posicionar de forma coordenada para explorar todo seu potencial: "o mundo para nosso país como uma solução para problemas como segurança alimentar, energética e sustentabilidade".
Antônio Patriota, embaixador do Brasil em Londres. (Foto: Felipe Gonçalves/LIDE)
O momento oportuno em que acontece a LIDE Brazil Conference London foi destacado pelo embaixador do Brasil em Londres, Antônio Patriota, presidente Michel Temer e Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso Nacional.
"Um novo governo começou na Grã-Bretanha, com muito foco na sustentabilidade. O UK já é um grande investidor no brasil, apesar dos desafios do Brexit, devemos olhar pelo lado das oportunidades, temos uma perspectiva de uma relação comercial mais próxima, quem sabe até de um acordo comercial."
João Doria, co-chairman do Grupo LIDE enfatizou o valor democrático do evento. (Foto: Felipe Gonçalves/LIDE)
João Doria, co-chairman do Grupo LIDE, ressaltou a importância do valor democrático e construtivo da conferência para discutir problemas, causas e resultados que o Brasil pode oferecer no âmbito internacional.
No primeiro painel, "A experiência brasileira com a moeda digital e o open finance", Vanessa Rubio Márquez, acadêmica e pesquisadora da London School of Economics and Political Science, explorou o crescimento da economia digital.
Segundo ela, temos de dez a 20 interações diárias com essa economia, desde aplicativos de pagamento, delivery, reprodutores de música, aplicativos de leitura, plataformas de compras e buscadores. Em 2021, o Brasil foi um dos cinco maiores países ativos no comércio digital.
"Precisamos olhar para a regulação de entidades públicas e quanto o governo precisa se envolver no movimento, qualidade de dados, comunicação, energia, força de trabalho, uma série de elementos que são pertinentes ao setor público que precisam ser definidos para que melhores regulações sejam criadas para uma economia digital sustentável".
Paulo Henrique Costa, presidente do Banco BRB, explicou que o Brasil é referência na adoção de novas tecnologias, com mais de 160 milhões de pessoas já tendo feito ou recebido uma transferência via PIX. Segundo ele, 88% dos brasileiros são usuários ativos de serviços financeiros acessíveis, inovadores e inclusivos - o que abre as portas para a revolução do open finance, que traz a criação de novos produtos e serviços entre instituições financeiras com transparência, ofertas personalizadas e democratização do crédito.
"A mudança de paradigma do real digital com uso de blockchain como um novo modelo de negócios de intermediação e ativação desses contratos será uma referência para a indústria financeira global", explicou. O open finance permite que transações sejam realizadas em tempo real, dentro e fora do Brasil, com a tokenização de ativos de forma segura, com pagamentos online e offline.
Robert Wigle, presidente da UK Finance, destacou que a Grã-Bretanha tem muito a aprender com o Brasil quando o assunto é inovação, acessibilidade e digitalização da economia. "A colaboração entre a Grã-Bretanha e o Brasil nos termos de empresas e serviços está abrindo novos caminhos", disse. "Precisamos continuar avançando e sendo pioneiros na nova era de serviços, modernização de produtos e serviços bancários. A moeda digital é só o início dessa transformação: quero que o UK seja líder na tokenização de ativos globais".
Carla Ferreira, vice-presidente da Câmara do Comércio na Grã-Bretanha, trouxe comparações entre as experiências brasileiras e inglesas no open finance e open banking. Segundo ela, se a Grã- Bretanha inovou com as sandboxes regulatórias, trazendo um exemplo para o mundo.
"O Brasil hoje está na vanguarda das operações do open finance. Se o Reino Unido tinha a vantagem de early adopter, o Brasil hoje consegue escalar o ambiente com rapidez, sendo uma inspiração para o Reino Unido, inspirando a colaboração econômica e abrindo oportunidades comerciais entre os dois países", finalizou.
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, defendeu uma agenda integrada de Inteligência Artificial. (Foto: Felipe Gonçalves/LIDE)
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, abordou os principais desafios da economia do mundo pós-pandemia e apresentou a agenda integrada de Inteligência Artificial e o agregador de serviços financeiros do BC.
"Se imaginarmos que todos os países terão meios de pagamento instantâneos eficientes no futuro, poderemos fazer transações internacionais de forma facilitada", apontou. "Trabalhamos hoje com a governança porque países diferentes têm mecanismos diferentes, por isso precisamos ter uma taxonomia comum para fazermos os pagamentos de forma instantânea em nível global".
Sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento do agronegócio no Brasil
Mariana Lisboa, líder global da Suzano, deu início ao segundo painel do dia, apresentando as inovações da empresa no setor de sustentabilidade, com metas públicas assumidas pela empresa ligadas às principais ODS. Até 2030, pretendem oferecer produtos renováveis e conservar a biodiversidade e se tornar uma empresa net zero.
Segundo ela, o setor florestal brasileiro tem papel fundamental para a transição para uma economia de baixo carbono para atingir a meta climática brasileira.
Também destacou a importância da equidade de gênero, com apenas 18% do setor florestal representado por mulheres: "embora mais de 70% das empresas filiadas ao setor de árvores tenham metas relacionadas a mulheres no setor de liderança, há muito a ser feito".
Roberto Rodrigues, Embaixador da FAO para o Cooperativismo. (Foto: Felipe Gonçalves/LIDE)
Embaixador da FAO para o Cooperativismo e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, apresentou as potencialidades do país: "o Brasil é o único país com um modelo de agricultura tropical sustentável replicável e será líder no trabalho pela segurança alimentar".
Para falar sobre crise climática e os novos desafios do Brasil, Izabella Teixeira, co-presidente do International Resource Panel da ONU e ex-ministra do Meio Ambiente, afirmou que hoje se vive uma nova era com a chegada das mudanças climáticas. A partir do aumento de 1,5 C de temperatura global, houve uma aceleração dessas mudanças, abrindo dois caminhos no combate climático: o keep walking com segurança energética de origem fóssil e o give up carbon, com foco em energias renováveis.
"No Brasil, os dois coexistem e devem coexistir de forma estratégica. Caminhamos para ser um grande provedor em bioenergia com a agricultura e industrialização verde", afirmou. "Temos tecnologia, ativos, paz, recursos naturais, o que falta para o país é ambição climática e a presença do setor privado estar na sala para discutir o assunto".
O senador Weverton Rocha (PDT-MA) abordou proposições legislativas para o fortalecimento do agronegócio sustentável, como o Marco Legal de Garantias, que formulou regras sobre a garantia real dada em empréstimos que beneficiarão o agronegócio; aprovação de arcabouço fiscal, trazendo estabilidade macroeconômica para o país, a regularização da Amazônia Legal, entre outros.
Autoridades brasileiras apontam os desafios e oportunidades do desenvolvimento sustentável. (Foto: Felipe Gonçalves/LIDE)
Eduardo Riedel, governador do Mato Grosso do Sul, compartilhou com o público as experiências do estado e seus pilares da visão de futuro: segurança alimentar, transição energética, sustentabilidade e inclusão social. Segundo ele, o estado está na vanguarda da gestão de território.
"Saímos de uma lógica de ações punitivas para uma lógica de ativos ambientais, usando diferentes instrumentos para premiar iniciativas de desenvolvimento sustentável", afirmou. "Queremos atingir o objetivo de ser um estado carbono neutro até 2030, estamos prontos para uma nova era para o Brasil".
Governador do estado vizinho, Mato Grosso, Mauro Mendes, apontou o problema das ilegalidades ambientais que colocam o país em risco, como o desmatamento, que prejudicam o comércio internacional do Brasil e sua reputação. Caso esses problemas não sejam combatidos, em sua opinião, o país pode encarar grandes dificuldades no cenário global. O estado é o maior produtor de etanol de milho, algodão e outras commodities, com crescimento industrial e do PIB, e mais de 93 milhões de toneladas de alimentos produzidos na safra 2023/2024, com grandes oportunidades no setor de infraestrutura e mineração.
"Entre oportunidades e desafios, o Brasil está bem-posicionado", disse. "Precisamos criar soluções rápidas para combater as ilegalidades ambientais e fazer nossa lição de casa".
ESG e Economia real: Aliados para um futuro sustentável
Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso Nacional defendeu o crescimento sustentável do Brasil. (Foto: Felipe Gonçalves/LIDE)
Abrindo o último painel da manhã, Irajá Silvestre, senador (PSD-TO) e membro da Comissão de Assuntos Econômicos, levantou a importância da aprovação da instalação de cassinos no Brasil enquanto relator da matéria de jogo responsável no Senado. Ele listou a criação de empregos, impulsionamento turístico, aumento de arrecadação de impostos e a definição de regras claras e requisitos para separar o joio do trigo: aprovando a operação de empresas sérias e o banimento de empresas ilegais e associações criminosas.
Patricia Iglesias, especialista e ex-presidente da CETESB, trouxe à discussão a ligação entre as atividades econômicas e a sustentabilidade, afirmando que não basta seguir os requisitos legais, mas buscar novas tecnologias e eficiência. Ela defendeu a regulamentação do crédito de carbono no país como um bem acessório: "Precisamos de segurança jurídica nesse setor e precisamos fomentar a redução das emissões em construção conjunta de soluções com a iniciativa privada".
José Luis Blasco, CEO da Acciona Carbon, explicou que o setor está diretamente ligado aos investimentos em produtividade, com 78% dos ODS ligados diretamente às questões de infraestrutura. Por esse motivo é necessário que esse setor esteja na linha de frente, propondo soluções multifuncionais, integradas às paisagens, coexistindo com a natureza e promovendo a circularidade radical para resistir às mudanças climáticas.
Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal, compartilhou em sua fala os principais investimentos e avanços feitos no distrito pela parceria entre o setor público, a população e a iniciativa privada, que permitiu a criação de programas sociais, crescimento do turismo e ganhos em segurança pública. "Com isso, Brasília deixa de ser uma cidade administrativa, e passa a ser uma cidade interessante para o empresariado, realizando o sonho de JK, se tornando o ponto de integração do país e criando uma nova referência para o desenvolvimento do Brasil".
Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso Nacional, fez uma ligação dos conceitos ESG como condicionantes para o crescimento sustentável não só de uma empresa, mas de uma sociedade e de um país, como o Brasil. A economia real do país precisa de uma reforma tributária que permita ao país um crescimento econômico pleno que permita investimentos em sustentabilidade, princípios de governança e proteção social -- visto que o Brasil ainda lida com problemas como a fome e a miséria, em que os programas sociais são valiosos para o desenvolvimento.
O LIDE Brazil Conference London, uma iniciativa do LIDE, Folha de S. Paulo e UOL teve patrocínio da Ambipar, Banco BRB, CEDAE, CNseg, Hapvida NotreDame Intermédica, Itaminas, Paper Excellence e Shell. Apoio da ABRAS, Acciona, Attend Ambiental, BTG Pactual, Cosan, CVC, Emae, Febraban Tech, Governo de Mato Grosso, Governo de Mato Grosso do Sul, Governo do Rio de Janeiro, Primefy e Suzano. As operadoras e transportadoras oficiais são Maringá Turismo e Britsh Airways.