A coquetelaria de 007, um espião de gosto refinado
Como lembrar do agente 007 sem um copo nas mãos? O personagem James Bond não só se consagrou por sua sagacidade ao enfrentar terríveis inimigos, como também popularizou alguns de seus drinks preferidos da ficção no universo real da coquetelaria.
Talvez muitos não tenham percebido, mas o espião a serviço da rainha é um dos maiores bebedores da história da cinematografia. (Foto: Reprodução)
Assim como um bom drink é protagonista no dia a dia do bar, a sétima arte também é repleta de referências à coquetelaria. Bebidas inusitadas dão cara e personalidade aos personagens já conhecidos pelo público de filmes e séries.
Um caso clássico é o de James Bond. Além de agente secreto, 007 é, sem sombra de dúvidas, um dedicado apreciador da coquetelaria. No primeiro livro da série, Casino Royale, de 1953, ele tornou-se o criador de um dos mais famosos coquetéis da história.
O espião aparece debruçado sobre o balcão de um bar explicando ao bartender sua receita: uma medida de vodka, três de gin e 1/2 de Kina Lillet, decorado com uma fatia longa e fina de casca de limão. Ao degustar a bebida, Bond sugere ao bartender que ficaria melhor se tivesse utilizado vodka de grãos.
Bond, sua musa inspiradora, Vesper Lynd, e o drink batizado em sua homenagem. (Foto: Reprodução)
Utilize ingredientes de qualidade. O Clube do Barman aconselha Beefeater London Dry e Absolut Elyx, feita com grãos e um processo que emprega uma coluna de cobre, conferindo um sabor único, a cereja do bolo na criação de 007. Pode receber 1/8 de colher de chá de quinino em pó, para lembrar o Kina Lillet
Vesper Martini
Ingredientes
3 Partes de Beefeater London Dry Gin
1 Parte de Absolut Elyx Vodka
½ Parte de Lillet Blanc
1 Zest de limão siciliano
Modo de preparo
Complete uma coqueteleira com cubos de gelo. Adicione todos os ingredientes. Agite e faça uma dupla coagem para uma taça coquetel. Decore com um longo zest de limão siciliano.
No filme Casino Royale, de 2006, uma adaptação do livro escrito mais de 50 anos antes, James aparece em cena segurando o copo 26 vezes. Seis delas tem um Vesper em mãos. Uma pesquisa realizada pelo British Medical Journal concluiu que o personagem, de acordo com os livros escritos, consumiria uma média de 92 doses de bebida por semana, um número inacreditável que só é possível mesmo na ficção. Outros pesquisadores estimam que o agente consumiria até 130 doses por semana. Graças à frequência absurda de consumo relatada nas obras, podemos conhecer com bastante precisão os gostos do superespião, que variam de acordo com a situação e seu estado de espírito.
A obra de arte dentro do copo só seria batizada depois que James conheceu seu grande affair, a agente especial Vesper Lynd. Ao saber o nome daquela por quem se apaixonara, surgira a ideia: “Vesper. Parece um nome perfeito e muito apropriado para o momento em que meu coquetel for bebido ao redor do mundo inteiro. Posso usá-lo?”.
Após a publicação do livro, até mesmo as vendas de gin no Reino Unido aumentaram, dada a influência positiva da publicação. Tempos depois, o já famoso drink criado por Bond (ou por seu mentor, Ian Fleming), feito com Kina, sofreu um golpe quando este importante ingrediente deixou de ser fabricado. Atualmente é aceito que o Vesper seja produzido com Lillet Blanc.
Shaken, not stirred
Na hora de pedir seus drinks com vodka, Bond era exigente. Sua preferência por “shaken, not stirred” (batida, não mexida) tornou-se um de seus jargões.
O pedido se justificava: grande parte das vodkas utilizadas nos bares à época eram feitas a partir da destilação de álcool de batatas. Isso deu origem a uma bebida com traços mais gordurosos do que a vodka de grãos. Ao batê-la com gelo, as moléculas de gordura se desprendem da vodka e grudam no gelo que, em seguida, é descartado, tornando o produto final mais palatável.
Ian Fleming. (Foto: Reprodução)
Um século antes, L. O. Smith aprimorava o método revolucionário de destilação contínua para a produção de Absolut. O processo de exportação mundial da bebida sueca se iniciaria apenas duas décadas depois do lançamento do livro, nos anos 70.
Carta variada
O gosto refinado de Bond, diga-se de passagem, vai além da criação do Vesper e do Vodka Martini. Sua preferência na maior parte dos livros é o Vodka Martini, mas ele tem variado bastante ultimamente, principalmente nas telas. Em um de seus filmes mais recentes, Spectre Contra 007, Bond troca o costumeiro pedido por Dirty. No histórico etílico do personagem, consta ainda que ele já foi até mesmo garoto propaganda de Bourbon. Outros clássicos, como Gin Tonica, Mojitos e Negronis também passaram pelas mãos do agente.
James Bond. (Foto: Reprodução)
Em suma, os drinks consumidos por 007 ao longo dos livros e filmes da franquia refletem sua elegância e personalidade: clássico, simples e requintado.
A mente por trás do personagem
Ian Fleming, o criador de James Bond, serviu o exército e foi jornalista antes de se juntar ao serviço de inteligência britânico durante a 2ª Guerra Mundial, o que serviu de inspiração para seus livros e filmes. A coquetelaria era sua outra paixão. Fanático por gin – dizem que consumia uma garrafa por dia até seu médico sugerir a troca por Bourbon. Laurence Olivier, Vivian Leigh e Katharine Hepburn eram alguns de seus convidados habituais para encontros regados a bons drinks. O Duke’s Hotel, cujo bar costumava frequentar, chegou inclusive a criar algumas versões de martini especialmente para sua degustação.
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