Moscow Mule: saiba como três fracassos deram origem a um sucesso na coquetelaria
Ele é um dos drinks mais vendidos nos bares brasileiros. Feito com vodka, ganhou popularidade no verão, devido à baixa temperatura em que é servido e seu sabor cítrico. A caneca do Moscow Mule passou de herança de família a símbolo de modernidade na coquetelaria.
Ele é um dos drinks mais vendidos nos bares brasileiros. (Foto: Divulgação)
Há quase oito décadas, uma imigrante russa recém-chegada à América tinha um grande problema para resolver. Sophie Berezinski desembarcou do navio com duas mil unidades de canecas de cobre maciço, frutos da fábrica que seu pai tinha na terra natal. Lá trabalhara desde jovem, acompanhando-o na produção e desenvolvimento do design de copos. Mal sabia ela que essas canecas ganhariam, futuramente, lugar de destaque em bares e restaurantes de todo o mundo em forma de cocktail: o Moscow Mule.
Sophie trouxera as canecas na bagagem como lembrança sentimental do pai, com quem tinha uma ligação muito especial. Ainda na Rússia, ela e o pai não tiveram sucesso na tarefa de vender os copos, por isso a jovem decidira trazê-los aos Estados Unidos. Seu marido, Max Berezinski, no entanto, não suportava ver as canecas empilhadas pela casa, tomando espaço nos cômodos, e decidiu dar-lhe um ultimato: vender de uma vez as canecas de cobre ou livrar-se delas o quanto antes.
Como responsável pelo design das mugs e conhecendo sua qualidade como ninguém, Sophie não teve outra escolha: encontrar um bom comprador para elas.
Além de extremamente durável, o cobre também era um excelente condutor de temperatura. Isto tornava as canecas ótimos utensílios para bares e restaurantes, ainda mais na Califórnia, onde o verão era tão quente como jamais vira.
Shopie e Max Berezinski. (Foto: Moscow Copper & Co)
Tríade de ingredientes
Afinal, por que vodka, limão e ginger beer? Acredite se quiser, essa mistura perfeita foi obra do acaso na vida da imigrante russa. Ao vagar pelas ruas de Santa Mônica para tentar vendê-las a quem quer que fosse, a imigrante encontrou o pub Cock n Bull, na Sunset Boulevard. Por lá, conheceu dois comerciantes, para quem mostrou suas canecas e contou um pouco de sua história.
Um deles era John Martin, que havia comprado há cerca de dez anos uma destilaria de vodka - spirit pouco interessante para os americanos até meados da década de 60. Ele estava com dificuldades em introduzir a bebida nos bares e adegas locais e buscava novas formas para fazer isso. O outro empresário era Jack Morgan, dono do Cock n Bull e produtor de uma marca de ginger beer que também não estava obtendo sucesso nos negócios.
Ao perceberem que poderiam unir-se em torno de algum produto rentável para todos, dedicaram horas para criar uma bebida que misturasse vodka, ginger beer e fosse servida na notável caneca de Sophie. O drink precisaria ser simples, saboroso e ressaltar o melhor de cada um dos produtos. O cobre da mug ajudaria a vendê-lo, pois além de chamar atenção da clientela, tornava o cocktail ainda mais refrescante.
O ano era 1941. Nascia, assim, o Moscow Mule.
Caneca de cobre antiga. (Foto: Moscow Copper & Co)
Sobre o Cock NBull
Localizado no número 9170 da famosa avenida Sunset Boulevard, a casa era antro das boas comidas e bebidas inglesas. Carnes, peixes servidos com batata e outros pratos típicos faziam com que suas mesas fossem disputadas por aqueles que sentiam saudades do velho continente e também por grandes estrelas de Hollywood. Orson Welles, John Carradine, Sal Mineo e Peter OToole, por exemplo, eram clientes assíduos. O ator Jack Webb tinha sua própria mesa no local e o galã Richard Burton trocava de assento favorito a cada novo casamento.
Roqueiros como Jim Morrison, Keith Moon, Joe Cocker, Rod Stewart e até Madonna paravam para tomar uma cerveja no balcão de madeira maciça entre uma turnê e outra. Com o crescimento das casas noturnas e discotecas, o Cock nBull cerrou suas portas definitivamente em 1987, após seu jubileu de ouro, dando lugar a uma concessionária da Jaguar, que ostentava uma placa em homenagem ao pub.
Fachada do antigo pub Cock nBull. (Foto: Moscow Copper & Co)
Nova febre mundial
Se antes o Moscow Mule passava despercebido pelos cardápios de bares e restaurantes, hoje é uma estrela com direito a inúmeros twists e releituras. Aqui mesmo no Brasil, por exemplo, o mixologista Marcelo Serrano foi o responsável por colocar o cocktail em evidência novamente, com a criação da espuma de gengibre mais densa e saborosa que é servida sobre o drink. Além de conferir um visual chamativo para o drink, tem sabor e refrescância mais acentuada.
A coquetelaria internacional também não está de fora da tendência. Se em meados e 2010, as taças borgogne ganharam o mundo com a febre da Gin Tônica, podemos dizer que algo parecido aconteceu com o Moscow Mule. As canecas de cobre foram surgindo na tentativa de resgatar a apresentação original do cocktail e hoje já estão presentes em quase todos os bares de alta coquetelaria.
Sua febre é tamanha que JJ Resnick, bisneto da imigrante russa, cansou de ver a bebida sendo servida em copos que em nada lembravam os originais de Sophie Berezinski. Para que o drink fosse servido como manda o figurino, ele decidiu criar a Moscow Copper & Co, que fabrica desde mugs até materiais de bar, cantis, além de vender sua própria fórmula de ginger beer.
Caneca de cobre. (Foto: Moscow Copper & Co)
Moscow Mule
Ingredientes
60 ml de Absolut Vodka
15 ml de suco de limão tahiti
180 ml de ginger beer
Modo de preparo
Em um caneca de cobre, adicione gelo, vodka, suco de limão e complete com ginger beer. Por fim, decore com uma meia-lua de limão.
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