Rodrigo Soares: 'Não há mais espaço para empresas que não dão importância ao tratamento de conflitos'
Embates interpessoais, comuns nas relações humanas, podem ser oportunidades de crescimento organizacional e bem-estar coletivo.
Rodrigo Chagas Soares, sócio de Granadeiro Guimarães Advogados. (Foto: Divulgação)
O atrito entre ideias, comportamentos e interesses é próprio das relações humanas e, assim como em todo espaço de convivência, está presente no dia a dia organizacional.
Contudo, se, por um lado, situações de embate interpessoal podem desencadear tensões, instabilidades internas, competitividade, absenteísmos, turnover e litígios processuais, por outro, podem ser oportunidades de integração e amadurecimento corporativo.Tudo depende de como o conflito é gerido.
De acordo com Rodrigo Chagas Soares, sócio de Granadeiro Guimarães Advogados, para tratar adequadamente antagonismos entre pessoas no trabalho, é necessário compreender sua natureza, que pode ser: de relacionamento, de informações, de interesses, de hierarquias ou de valores. Ao identificar a causa do impasse, empresas podem desenvolver soluções que promovam a escuta ativa, o autoconhecimento, a inclusão e o bem-estar.
“Dar voz àqueles que necessitam ter voz é o primeiro passo para tutelar um ambiente saudável e equilibrado”, afirma o advogado.
Para Soares, mais do que criar “canais de denúncia”, voltados à aplicação de medidas disciplinares, é preciso investir na prevenção e na comunicação aberta, em que o conflito, externado por colaboradores, encontre uma resolução assertiva e empática.
“A gestão de conflitos trabalhistas não deve ser feita de maneira punitiva, mas compreensiva. É importante, por exemplo, ouvir colaboradores, solicitando que encaminhem propostas sobre as falhas de gestão e emitam sugestões sobre a melhor forma de tratamento interno dos conflitos para que, enfim, se crie um Procedimento Empresarial centrado no público interno: principal ativo de uma organização”.
Nesse sentido, a mediação, ferramenta que ampara as relações interpessoais, é o caminho mais fértil. Com um mediador, figura externa e imparcial, é possível praticar a escuta ativa e conciliar as partes em embate por meio de soluções consensuais.
“Para as empresas, a mediação também é importante porque permite a identificação imediata dos causadores de um ambiente de trabalho psicologicamente insalubre, reduzindo condenações judiciais. Um Sistema de Tratamento de Conflito efetivo reduz a litigiosidade trabalhista e, principalmente, estimula as pessoas a buscarem um relacionamento interpessoal produtivo, leve e despido de máculas”, destaca Soares.
Programas de treinamento contínuo, focados em inteligência emocional e comunicação não-violenta, são outros instrumentos importantes para criar um ambiente mais colaborativo e preventivo. Ainda, feedbacks estruturados, dados de forma regular e construtiva, podem evitar que pequenos desentendimentos se transformem em grandes impasses.
O tratamento adequado de conflitos interpessoais também demanda culturas organizacionais diversas e inclusivas.O incentivo à formação de comitês diversidade, por exemplo, pode dar voz aos colaboradores e oferecer perspectivas inovadoras para a resolução de divergências.
“Não há mais espaço para empresas que não dão importância à diversidade e ao tratamento de conflitos. É o mínimo que se pode esperar. Além das questões fundamentais sobre etnia, raça, orientação sexual, há que se debruçar sobre a personalidade de cada pessoa”, ressalta.
Por último, é preciso investir em lideranças capazes de inspirar e cativar pelo exemplo e de assegurar, de forma participativa, espaços de bem-estar.
“Um líder não pode silenciar diante de um conflito, afinal, o conflito deve ser tratado tão logo quanto surja. Porém, a todos os colaboradores compete igual observância sobre o que ocorre com seu colega de trabalho. Para um líder, essa premissa deve ser, sobremaneira, observada; para os demais, uma regra mínima de convivência humana. A falta de gestão de conflito no interior da empresa negligencia emoções e condutas de pessoas, desmotivando-as”, finaliza.
A soma de boas práticas de gestão a uma liderança capacitada para agir com empatia e assertividade, ajudam a consolidar um ambiente de trabalho mais saudável, produtivo e, acima de tudo, respeitoso, onde os conflitos não são ignorados, mas tratados como oportunidades de evolução.