5 tendências nas relações de trabalho no pós-pandemia
Uma das principais mudanças sentidas por gestores foi a possibilidade de fazer mais com menos, institucionalizando o relacionamento à distância e direcionando investimentos em marketing e tecnologia.
As relações de trabalho sofreram muitas transformações desde o início da pandemia, em março de 2020. O próprio hábito de consumo e o processo de comunicação interpessoal mudaram em função do distanciamento e das medidas preventivas adotadas pelo Governo Federal, impactando diversos setores da economia.
Em ritmo de retomada, algumas premissas antigas do relacionamento profissional devem ficar para trás no mundo corporativo, apresentando novos paradigmas para gestores. E investimentos realizados nesse processo de transformação, principalmente em marketing e tecnologia, talvez perdurem e não caiam no desuso, mesmo após o controle da Covid-19.
Segurança da informação
Proteger as informações trocadas diariamente com clientes e colaboradores que adotaram o regime de home office foi uma das primeiras dificuldades enfrentadas por gestores e que demandou investimentos financeiros.
“A primeira e grande preocupação a partir do início da pandemia foi mobilizar a área de tecnologia para assegurar a criptografia de ponta a ponta dos softwares de comunicação e a autenticação de dois fatores em aplicativos de celular que tem acesso à rede corporativa”, afirma Jenise Carvalho, advogada e sócia-administradora do escritório MJ Alves e Burle.
Em meio a esse cenário, assuntos como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), e o eminente início das sanções, aceleraram a adoção de tecnologias e direcionaram os investimentos dos gestores.
“Houve uma grande mobilização das equipes de TI para, primeiro, alocar colaboradores em casa, mantendo o nível de segurança na troca de informações. E novos desafios foram surgindo entorno do suporte remoto à profissionais e clientes, juntamente com o desenvolvimento de grandes projetos que envolvem tecnologia, como a adoção de novos softwares e a LGPD”, segundo Rafael Gagliardi, sócio da consultoria LETS Marketing, focado em comunicação, marketing e desenvolvimento de negócios para o mercado jurídico.
No mercado jurídico – setor marcado pelo alto nível de sensibilidade nos dados gerados e compartilhados –, 47% dos advogados destinaram recursos financeiros para a tecnologia no último ano, segundo a pesquisa ‘Mapa Jurídico Nacional’, promovida pela LETS Marketing.
Jenise Carvalho, sócia-administradora do escritório MJ Alves e Burle. (Foto: Divulgação)
Trabalho remoto
Relações construídas e mantidas por meio de encontros presenciais passaram, do dia para a noite, a não existir. Isso implicou em retirar da rotina momentos importantes para troca de informações, aprendizado das equipes internas e prospecção de clientes.
A replicação dessas ações no ambiente digital foi necessária para a manutenção do contato e das operações, e as ferramentas de comunicação virtual se fizeram extremamente necessárias.
“De um certo modo, ganhamos em produtividade e adotamos uma etiqueta virtual, que pede mais clareza e objetividade”, pontua Ana Candida Albano, CMO do escritório Briganti Advogados. “O grande desafio foi humanizar essas relações de trabalho”, pontua.
Diante disso, mesmo antes do isolamento, grande parte dos empresários já tinha o costume de fazer videoconferência na impossibilidade de realização de viagens, por exemplo. “Assim, a partir de março do ano passado, o que era exceção se tornou parte do dia a dia”, segundo Jenise Carvalho.
Há muita discussão sobre a possibilidade de o trabalho permanecer em formato híbrido. “Esse é um caminho sem volta e as empresas precisarão se adaptar a este formato o quanto antes para conseguir manter os níveis de produtividade e o engajamento de clientes e colaboradores. Esses serão os próximos desafios”, lembra a advogada.
Ainda sobre a pesquisa da LETS Marketing, 19% dos respondentes acabaram desinvestindo em suas estruturas físicas, apostando na produtividade por meio do trabalho remoto.
Muitas das práticas que vieram com a pandemia permanecerão, isso porque, junto com elas, vieram a redução de custos e a comodidade dos clientes, segundo os gestores entrevistados.
Ana Candida Albano, CMO do escritório Briganti Advogados. (Foto: Divulgação)
Transformação Digital
O movimento do uso de ferramentas digitais veio no contexto da pandemia. As redes sociais, por exemplo, se tornaram um dos principais canais para receber informação e comunicar.
“A pandemia acelerou o processo de transformação digital até em minha casa”, constata Ana Candida. “Investimento em mídias sociais, plataformas para eventos, gerenciamento e compartilhamento de informação e a constante busca por melhorias em todos os aspectos digitais viraram processos institucionais, disseminados amplamente entre os profissionais encarregados da gestão”.
Ações de marketing e comunicação, antes presenciais, migraram quase totalmente para o digital. Esse simples evento mostrou para os gestores que gastos, antes direcionados para logística, aluguel de espaços, decoração e serviços profissionais, deixaram de fazer parte do budget, mas “é preciso muito mais inteligência, planejamento estratégico e um mindset voltado para inovação”, alerta Ana Candida.
A pesquisa ‘Mapa Jurídico Nacional’ também mostrou que 53% dos participantes destinaram recursos, prioritariamente, para ações de marketing. Para Gagliardi, “profissionais estão mais acessíveis por meio da utilização das redes
sociais e intensificaram o trabalho de divulgação técnica e científica, um movimento natural, baseado no aumento considerável de pessoas interagindo e consumindo no meio virtual, quando em situação de isolamento”.
A transformação digital traz em si uma mudança de mentalidade nas empresas, com o objetivo de acompanhar a modernização do mercado e os avanços tecnológicos forçados pela pandemia.
Ampliação de fronteiras nas relações
A sede de uma empresa, há muito tempo, deixou de ser um limitador para atuação em outros territórios. Mesmo assim, a pandemia acentuou um cenário reforçando que empresários não estão mais confinados ao endereço de seus escritórios para captar clientes e contratar profissionais. “Não há amarras no relacionamento com clientes em função da estrutura física”, diz Daniel Carbonari, fundador da agência Unitri Design, localizada na capital de São Paulo.
Jenise Carvalho, atuante no Distrito Federal, ainda reforça dizendo que “é perceptível o aumento da procura por clientes de diversos estados do Brasil desde o início da pandemia”.
Para Sergio Fadel, consultor de gestão e marketing, a utilização da tecnologia, novos formatos de comunicação e hábitos no trabalho ampliaram, e muito, a possibilidade de contato e geração de novos negócios em outras cidades ou estados. “Além disso, a reclusão social impulsionou a aproximação virtual – seja por meio do telefone, do aplicativo WhatsApp ou do computador, o que, por fim, acabou facilitando as formas de contato”, finaliza.
Manutenção das relações humanizadas
Sem dúvidas, veremos uma linha de aprendizado com toda a eficiência operacional adquirida no período mais crítico da pandemia, com mudanças significativas nas relações após o período de imunização da população brasileira. Há gestores que acreditam em um caminho sem volta. Mas lembram que, por trás de cada cliente, funcionário ou fornecedor, há uma pessoa.
Para Ana Candida, “com o fim da pandemia e a volta de reuniões presenciais, teremos aprendido a valorizar um pouco mais o contato humano”.
É provável que a retomada das relações como conhecíamos aconteça de forma gradual, junto com o aumento do nível de segurança em torno da contaminação da Covid-19, mas constatamos o quão importante é estabelecer contato com outro ser humano e como a distância nos faz investir e inovar em outras formas de aproximação, essenciais para qualquer tipo e forma de fazer negócio.