Sistemas aeroportuários precisam se estruturar para amenizar impacto das mudanças climáticas

Eduardo Leal Medeiros conta que as enchentes no Rio Grande do Sul evidenciaram os impactos do mau investimento no Aeroporto Salgado Filho.

Marcelo Camargo_Avião_agenciabrasil.ebc (2)Sistema aeroportuário deve se adequar às mudanças climáticas. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O Aeroporto Internacional Salgado Filho, no Rio Grande do Sul, foi severamente afetado pelas enchentes que atingiram o Estado e só deve reabrir em setembro. O professor Jorge Eduardo Leal Medeiros, da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo, analisa os próximos passos de reestruturação do aeroporto para voltar ao funcionamento e quais critérios devem ser seguidos pelas estruturas aeroportuárias para prevenir os impactos das novas questões climáticas.

Segundo o especialista, as cheias dos rios que formam o Guaíba aconteceram de uma forma excepcional e por isso os estragos foram tão grandes, mas ele acredita que não foram dedicados investimentos necessários à manutenção do conjunto de diques e das bombas responsáveis pelo escoamento. Dessa forma, Medeiros afirma que os resultados dos maus investimentos e falta de administração só foram sentidos após a tragédia.

“O que tem que ser feito agora é atuar nesse sentido de melhorar a defesa. Mas, no caso do Aeroporto de Porto Alegre, o impacto foi brutal, porque ele tem uma movimentação anual na ordem de 8 milhões de passageiros, o que representa aproximadamente 3,5% ou 4% de toda a demanda aérea comercial do País”, conta.

Danos

De acordo com o professor, as pistas de pouso não sofreram impactos tão fortes e ainda será analisada a necessidade de reparos, principalmente na pavimentação. O terminal de passageiros, no entanto, demanda grandes restaurações na parte de escadas rolantes, iluminação e equipamentos embutidos no subsolo e o prazo de retomar o funcionamento em setembro, segundo Medeiros, é adequado para sanar todas as carências. Ele conta que a parte de equipamentos e suportes também será analisada minuciosamente porque certamente foram afetadas.

Conforme o docente, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) já autorizou a base aérea de Canoas, próxima à Porto Alegre, a operar cinco voos diários para atender uma série de demandas da região. Medeiros conta que provavelmente a Anac também vai liberar outros espaços aéreos de pequenas cidades do interior gaúcho para a efetivação dessa pequena quantidade de voos.

Prevenção

De acordo com Eduardo Leal Medeiros, o caso do Aeroporto Salgado Filho evidencia a importância de adequação do sistema aeroportuário às mudanças climáticas e aos possíveis desastres naturais. Na parte sustentável e de amenização dos gases de efeito estufa, ele conta que já existe grande preocupação das autoridades competentes, mas ainda precisam ser pensadas maneiras de implementar cada vez mais a utilização de fontes renováveis nos equipamentos dos aeroportos, como ocorre em Brasília, em que 60% da energia utilizada é hidráulica.

“Então é preciso cada vez mais nos preocupar com essa questão de proteger o ar, como proteger essas águas que eventualmente podem voltar a se dirigir às cidades. O governo também precisa providenciar com rapidez o aumento na capacidade de voos das bases aéreas próximas a Porto Alegre. Isso é uma discussão muito séria e precisa ser pensado se esses voos serão de curta ou de média distância e se serão voos que vão atender também às cidades do interior do Estado que não têm aeroportos”, finaliza.