Giovanni Schiavone: Como a tecnologia define e move a nova função fiscal na economia digital?

Especialista desmistifica que acreditar que, quando nos preparamos e tomamos decisões que parecem bem fundamentadas, o resultado será sempre o melhor possível.

Giovanni SchiavoneGiovanni Schiavone, líder de Tax Technology and Transformation da EY (Foto: Agência EY)

 

Qual é o papel do acaso nos resultados de uma empresa? Talvez a primeira reação seja dizer que o acaso não tem lugar no mundo de negócios moderno. Tendemos a nos afastar desse tipo de discussão porque, geralmente, o acaso aplicado ao mundo de negócios esteja associado a resultados negativos ou a algo ruim. Faz parte da nossa cultura acreditar que, quando nos preparamos e tomamos decisões que parecem bem fundamentadas, o resultado será sempre o melhor possível. Mas nem sempre isso é verdade. 

Existe um fenômeno estatístico chamado regressão à média, o qual define que, em qualquer série de eventos aleatórios, há grande probabilidade de um acontecimento extraordinário ser seguido de outro mais corriqueiro, em virtude apenas do acaso. 

O acaso não pode ser eliminado. Então, é preciso elevar a média, garantindo que a resultante de todas as decisões – ótimas, boas e ruins - leve a um resultado perfeito.  

Para não ficar à mercê do acaso, as áreas financeiras e fiscais das empresas podem contar com a tecnologia aliada ao conhecimento profundo dos tomadores de decisão, de olho em alcançar as metas da companhia e dos stakeholders, com base em dados, analytics e metodologias bem desenvolvidas. 

A pesquisa de TFO - EY Tax and Finance Operations 2022 ouviu CEOs das principais organizações do mundo e descobriu que 87% deles estão se transformando e mudando o seu modelo operacional financeiro, incluindo Tax, por conta de uma série de fatores que vão desde a pressão por receita e rentabilidade até a preocupação em não acompanhar os concorrentes. 

A pesquisa também mostra que 95% das empresas planejam realocar parte de seu orçamento tributário e financeiro das atividades rotineiras (como compliance fiscal) para atividades estratégicas, em áreas como governança tributária, planejamento e controvérsia, nos próximos dois anos. 

Além disso, 96% dos entrevistados entendem que as competências técnicas estão sendo alavancadas por meio de habilidades com processos, dados e sistemas. De fato, a pesquisa EY Global Corporate Reporting Survey 2021 mostra que analytics é a principal prioridade tecnológica de finanças, nos próximos três anos. 

Este recurso será importante para relatórios aprimorados, já que a análise avançada pode ajudar as organizações a estruturar, sintetizar, interpretar e obter insights de grandes volumes de dados, criando, inclusive, relatórios ESG confiáveis e úteis. 

A pesquisa TFO mostra ainda que os dados e a tecnologia ajudaram as empresas a sobreviver à pandemia e muitas buscam, agora, soluções para permanecer em conformidade e conectadas. 

Ao contarem com tecnologia avançada e dados à disposição, as funções fiscais e financeiras podem agregar mais valor para toda a empresa, muitas vezes, a um custo menor, porque ampliam sua capacidade de projetar melhor as implicações fiscais de decisões comerciais mais amplas, desde aquisições e disposições até o impacto de mudanças na legislação tributária. 

A prova disso é que o próprio Fisco já se transformou, mais que triplicando nos últimos dez anos seu poder de recuperação de crédito tributário. Além disso, o Fisco se tornou muito mais assertivo em suas fiscalizações. 

Nesse cenário, 37% dos entrevistados acreditam que a falta de um plano sustentável para dados e tecnologia é a maior barreira para alcançar a visão de sua função tributária e financeira. 

Neste sentido, as lideranças das áreas tributárias deverão assumir seus papéis como agentes de mudança, especialmente no que diz respeito a construir e liderar a função fiscal do futuro. Além de gerenciar atividades tradicionais como planejamento, reporting, compliance e controversy, será ainda necessária a adoção de modelos operacionais evolutivos, ferramentas, facilitadores e conjuntos de habilidades, para estarem sempre atualizados em um ambiente que demanda transparência e resiliência. 

As funções fiscais e financeiras precisarão focar em três principais desafios: talentos, legislação e regulamentação, bem como tecnologia e dados. O estudo TFO mostra que pessoas com habilidades técnicas e de dados, processos e tecnologia fiscais especializadas estão em falta e 95% dos entrevistados acreditam que seu pessoal tributário e financeiro precisa aumentar suas habilidades técnicas fiscais com dados, processos e habilidades tecnológicas nos próximos dois anos. 

Para fazer frente a esse gap de talentos, as empresas vêm contando, cada vez mais, com seus provedores de serviços, em busca de perspicácia técnica e tecnológica para acelerar e elevar o impacto do departamento fiscal e financeiro. 

Essa nova função fiscal, mais eficiente, tecnológica e estratégica não funciona por si mesma. As soluções ajudam a empoderar os profissionais e a fundamentar o trabalho no dia a dia e, só assim, os resultados de todas as milhares de decisões tomadas por centenas de pessoas, todos os dias, serão condizentes com o que se espera das empresas hoje. 

A transformação oferece aos líderes fiscais e financeiros o poder de moldar a estratégia, inovar e impactar os negócios, ampliando o entendimento completo de decisões mais amplas, para muito além das funções de costume, tornando o acaso, inclusive, um aliado positivo nos resultados.

 

Fonte: Agência EY