"Investimento do Brasil em infraestrutura logística vem do setor privado", alerta Cesar Meireles

Setor logístico aposta em tecnologia para atender demanda crescente e otimizar sua complexa cadeia operacional.

abolCesar Meireles: investimento do Brasil em infraestrutura logística vem do setor privado. (Foto: Divulgação)

Customização, aumento do portfólio de produtos e busca pelo menor preço: estes são os principais movimentos para ampliar a competitividade do mercado logístico brasileiro de acordo com a edição 2019-2020 do Perfil dos Operadores Logísticos no Brasil, estudo realizado pela Fundação Dom Cabral para a Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol). Para isso, a injeção de recursos na aquisição de novas máquinas e equipamentos e na modernização das instalações e infraestrutura continua, mas, os softwares de gestão de armazenagem, de rastreamento, roteirização e gestão administrativa ganharam peso nessa corrida.

A complexa operação logística realizada no final de agosto, encabeçada pela Delphi Frete Internacionais e Despacho Aduaneiro para a vinda do segundo maior avião do mundo ao Brasil, o Antonov 124-100, exemplifica os diversos recursos e tecnologias possíveis no que se refere ao monitoramento logístico. A aeronave, que decolou de Mumbai, na Índia, e faz raras aparições no Brasil, pousou na capital federal trazendo 50 toneladas de equipamentos de grandes dimensões para ampliar e modernizar um dos parques industriais da Brainfarma, uma das maiores fabricantes de medicamentos do Brasil, e da Cosmed, especialista em produtos para a saúde como nutricionais e dermocosméticos.

“O processo incluiu diversos tipos de tecnologia, como rastreadores com monitoramento inteligente, que permitiu acesso ao trajeto (por pontos de geolocalização via Google Earth), velocidade, altitude, acelerações nos três eixos (batidas e quedas), temperatura e nível de carga da bateria; alarmes diversos, inclusive por cercas eletrônicas; entre outros. A operação também contou com uma ferramenta de backup e redundância de informação de todas as informações sobre o voo (número, tipo de aeronave, registro, localização em tempo real, entre outros dados técnicos”, resume o CGO da empresa, Fábio Borborema.

Redes sem fio

Em uma pesquisa realizada pela DHL Supply Chain com 800 líderes, 60% afirmaram que a relevância sobre a cadeia de suprimentos é insuficiente, sendo três os principais desafios: alcançar uma verdadeira notoriedade de ponta a ponta; a falta de uma plataforma para impulsionar as iniciativas de Internet das Coisas (IoT); e a coleta fragmentada de dados de cadeias de suprimentos inerentemente heterogêneas. Sendo assim, as três principais prioridades identificadas são a visibilidade de ponta a ponta sobre o transporte, sobre o estoque e a implementação de soluções analíticas. Mais uma vez, o monitoramento aparece em destaque e a solução está na tecnologia de rede sem fio de última geração, para 75% da amostra que pretende investir nesse ponto a curto prazo, especialmente nas redes de dados móveis 5G.

Diego Bravelli/Ministério da InfraestruturaSetor logístico aposta em tecnologia para atender demanda crescente. (Foto: Divulgação/MInfra)

Outros avanços estão criando novas oportunidades rumo a um mundo em que todas as pessoas, coisas e lugares poderão se conectar, o que impacta diretamente o setor de logística de cargas e armazenagem, entre elas as redes de longa distância de baixa potência (LPWAN) e os satélites de baixa órbita terrestre (LEO).

"Embora a IoT não seja uma novidade no setor de logística (uma vez que já existem 20 bilhões de dispositivos em uso em todo o mundo), essa história ainda está apenas no começo. Uma infinidade de tecnologias rentáveis e cada vez mais onipresentes estão avançando simultaneamente em um ritmo bastante rápido. Atualmente, elas estão se tornando mais acessíveis, o que abre inúmeras novas oportunidades para o desenvolvimento de aplicativos e casos de uso a uma velocidade sem precedentes", explica a vice-presidente sênior de Inovação e Desenvolvimento Comercial da DHL, Matthias Heutger.

No Centro de Distribuição da Nike, localizado em Louveira, São Paulo, essa evolução já é realidade. Um exemplo é o Ring Scanner - um anel wearable, que serve para registrar itens no estoque. O equipamento é composto por um mini tablet de braço e um anel de leitura de códigos de barra conectados por bluetooth. A própria infraestrutura do espaço de 26,7 mil m² contempla inovações de ponta, que o tornam sustentável, inclusive com a certificação LEED Gold E&B, do U.S. Green Building Council. Fruto de uma parceria entre a DHL Supply Chain e a GLP, líder em gestão de investimentos em real estate, logística e tecnologias relacionadas, ele agrega, por exemplo, uma usina de energia solar na cobertura, que produz 80% da demanda de energia da operação.

Investir é preciso

O Perfil dos Operadores Logísticos no Brasil consolida 275 empresas, que somam receita operacional bruta de R$ 100,8 bilhões anuais, o que representa aumento de 21% em comparação à edição anterior da pesquisa. O setor é um dos que mais emprega no País, gerando aproximadamente 1,5 milhão de postos de trabalho diretos e indiretos, arrecadando R$ 14,7 bilhões em tributos e R$ 11,5 bilhões em encargos trabalhistas.

A pandemia aumentou a demanda do segmento, como mostra os números do TruckPad – plataforma de conexão entre caminhoneiros e cargas. Antes da quarentena, o crescimento médio de transportadoras e caminhoneiros era, respectivamente, de 15% e 10% ao mês. No período de 15 de março a 15 de maio, esses números foram para 66% e 40%.

As iniciativas privadas demonstram o avanço e potencial do setor, mas a infraestrutura do País tem que acompanhar, conforme explica o diretor presidente e CEO da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL), Cesar Meireles.

“O investimento do Brasil em infraestrutura logística vem do setor privado. Apenas 0,7% do PIB tem esse fim. E esse investimento privado só continuará se houver contrapartida com marcos regulatórios claros. O projeto de lei de número 3.757, de 13 de julho deste ano, converge nesse sentido, com dois objetivos principais - trabalhar a função do operador logístico e atualizar uma das leis mais antigas e importantes para a atividade produtiva do Brasil, que é o marco regulatório para armazenagem geral regido por um decreto de 1903. Tudo isso faz parte do objetivo de dar ao País um ambiente seguro para investimento e inovação”, destaca.