Países da América Latina e Caribe se unem em plano contra aumento da obesidade
Com 67,5% dos adultos e 37,6% das crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade, países passam a desenvolver plano para reduzir número.
Plano combina estratégias regulatórias, fiscais e multissetoriais.(Foto: Freepik)
Para tentar reduzir o aumento das taxas de obesidade, nove países, com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), trabalham num Plano de Aceleração com uma abordagem abrangente, que combina estratégias regulatórias, fiscais e multissetoriais. De acordo com pesquisa realizada pela organização, as taxas de sobrepeso e obesidade entre adultos nas Américas aumentaram 52% de 1990 para 2022. “Esses números são alarmantes e representam não apenas estatísticas, mas milhões de vidas afetadas por doenças crônicas, como diabetes, doenças cardiovasculares e vários tipos de câncer”, disse Anselm Hennis, diretor do Departamento de Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental da Opas.
A professora Maria Edna de Melo, professora da Faculdade de Medicina (FM) da USP, explica que as propostas apresentadas pelo plano de aceleração passam pela implementação de uma rotulagem mais eficiente, uma alimentação escolar melhor e a regulamentação de produtos que não são benéficos para a saúde. Porém, ressalva que essas ideias só funcionarão se, através de medidas regulatórias, os países fizerem o alimento saudável chegar para a população mais barato do que os alimentos não saudáveis.
Marcio Mancini, chefe da Unidade de Obesidade da Disciplina de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas (HC), completa: “Ações de promoção de alimentação saudável na infância precoce, promover, proteger e dar suporte ao aleitamento materno, campanhas públicas de alerta e de educação, padronizar e regular atividade física nas escolas, tudo isso faz parte desse plano.”
Realidades diferentes
Argentina, Barbados, Brasil, Chile, México, Panamá, Peru, Trinidad e Tobago e Uruguai são os países por trás desse projeto, porém, entre eles há diferentes realidades econômicas e culturais, o que pode dificultar a implementação do plano para todos os países, além das regulamentações dependerem de governos, que podem custar tempo tramitando no Congresso de cada país. Maria Edna explica que precisa existir uma adequação na estratégia de implementação que funcione para todos os países, como a rotulagem frontal de alimentos no Brasil, com a lupa na embalagem, ou em alguns países que têm octógonos, para que assim, mesmo um analfabeto entenda que tem algo diferente no alimento ao ver os símbolos diferentes.
Mancini destaca que haverá muita dificuldade em todos países colocarem as ideias em prática, porém, essa não é a única dificuldade social que poderia ser mudada para que as pessoas alterassem seus hábitos alimentares. Segurança pública, boa iluminação nas vias e transporte público faria as pessoas se movimentarem mais.
Maria Edna, que faz parte da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO), afirma: “As pessoas ainda estão muito amarradas, acreditando que aulinha na escola, campanhas, ‘olha, vamos comer mais saudável que isso vai funcionar’. Não, isso nunca funcionou, tanto que a obesidade só aumenta. O que vai funcionar mesmo é uma mudança do ambiente, para promover uma mudança nesse cenário para melhorar a saúde da população. Outra mudança também, que precisa acontecer entre os médicos, é que não é só orientar o paciente a fazer mudança de alimentação. Muitos vão precisar de tratamento medicamentoso e uma boa parte também de tratamento cirúrgico.”
De acordo com a OPAS, Argentina, Barbados, Chile, México, Panamá e Uruguai já começaram a desenvolver seus planos de ação. Enquanto isso, o México e o Panamá estão terminando de desenvolver seus respectivos planos nacionais.