Balanços em empresas brasileiras de capital aberto em 2024 mostram aumento médio de receita de 7,7% e ganho de margem operacional de 14,0 pontos percentuais

Setores de destaque incluíram água e saneamento, alimentos processados, agropecuária; comércio; além de construção e engenharia.

Alessandro Marchesino, sócio e líder de Mercado de Capitais da PwC Brasil.Alessandro Marchesino, sócio e líder de Mercado de Capitais da PwC Brasil.(Foto: Divulgação)

Dentre as empresas brasileiras de capital aberto e com ações negociadas na bolsa ao final de 2024, cerca de 95% divulgaram seus resultados referentes ao exercício de 2024 até 31 de março de 2025.

Desta amostra, a receita líquida das empresas aumentou em média, 7,7% em 2024 (em valores nominais) quando comparadas a 2023, com destaque para os setores como água e saneamento (28,4%), serviços diversos (28,4%), material de transporte (20,5%), construção civil (19,3%), madeira e papel (16,6%), transporte (14,6%), alimentos processados (14,3%), viagens e lazer (12,5%), máquinas e equipamentos (10,5%) e agropecuária (10,1%). Em termos reais, a receita líquida das empresas aumentou, em média 2,8% acima da inflação oficial (IPCA) para o ano de 2024.

Em termos de rentabilidade, na média geral, o levantamento revela aumento de margem operacional de 14,0p.p., de 33,1% em 2023 para 47,2% em 2024, e crescimento de margem EBITDA de 10,1p.p., de 37,8% para 47,9%. A diferença da margem operacional para a margem EBITDA, nesse caso, é que o cálculo de EBITDA desconsidera depreciação e amortização, que correspondem a efeitos “não-caixa” na Demonstração de Resultados.

Na média geral, as despesas financeiras das empresas aumentaram em 74,9% no ano, potencialmente pelos efeitos de aumento das taxas de juros e câmbio. Ainda assim, na média e em termos nominais, o lucro líquido permanece praticamente estável. “Ou seja, as empresas conseguiram compensar o cenário financeiro mais desafiador com eficiência operacional”, comenta Alessandro Marchesino, sócio e líder de Mercado de Capitais da PwC Brasil.

Em relação ao endividamento das empresas, na média, a dívida bruta total aumentou 19,7%. Houve também um leve aumento do índice de dívida bruta sobre o total do ativo, de 37,7% para 40,1%. No entanto, observa-se desalavancagem importante em alguns setores, como comércio (de 23,7% para 17,2%), serviços diversos (de 38,8% para 32,4%), telecomunicações (de 30,5% para 27,9%) e construção civil (de 29,3% para 27,7%).

“Trata-se de uma boa notícia. As empresas demonstraram resiliência”, afirmou Marchesino. Ele explica que houve no período, ainda, uma leve redução, na média, da dívida de curto prazo em relação à dívida total, de 32,1% para 29,4%, com destaque para as indústrias de exploração de imóveis (de 23,6% para 10,9%), energia elétrica (de 26,8% para 17,5%), comércio (de 48,5% para 39,4%), além de químicos (de 54,0% para 48,8%), construção civil (de 33,1% para 28,4%) e alimentos processados (de 29,6% para 25,1%).

Alguns desses segmentos traduziram esta redução em melhorias nos índices de liquidez corrente, que relaciona o ativo circulante e o passivo circulante. Enquanto, na média geral, o índice permaneceu praticamente estável entre 2023 e 2024, houve aumento do referido índice para o setor de comércio, de 1,6x pra 2,2x, e para o setor de exploração de imóveis, de 1,9x para 2,2x, por exemplo.

Em relação ao Capex, na média geral da amostra, houve um aumento em 2024, comparativamente a 2023, de 22,9%, puxado principalmente por crescimento significativo nos setores de água e saneamento (85,1%), petróleo, gás e biocombustíveis (56,7%); e energia elétrica (32,1%).

Setores de Destaque em 2024

Água e saneamento: crescimento de receita e ganho em margens, com maior espaço para investimentos

• Aumento de receita líquida de 28,4%, com crescimento da margem EBITDA em 4,8p.p., de 35,1% em 2023 para 39,9% em 2024;
• Índices de alavancagem razoavelmente estáveis, apesar do aumento nominal da dívida bruta em 30,2% e do capex em 85,1%.

Alimentos processados: crescimento, rentabilidade e melhoria da estrutura de capital

• Aumento de receita líquida de 14,3%, com crescimento da margem EBITDA em 3,9p.p., de 17,1% em 2023 para 21,0% em 2024;
• Aumento da dívida bruta (nominal) em 21,2%, porém com índice de dívida bruta sobre ativo razoavelmente estável;
• Aumento de capex (nominal) em 13,9%;
• Redução da dívida de curto prazo em relação à dívida bruta em 4,4p.p. (de 29,6% para 25,1%);
• Melhoria da cobertura de juros (lucro operacional sobre despesas financeiras) de 1,4x para 1,6x.

Agropecuária: crescimento e rentabilidade

• Aumento de receita líquida de 10,1% e crescimento do lucro operacional em 16,9%;
• Crescimento de 3,2p.p. em margem bruta, de 43,1% para 46,3%;
• Aumento de margem EBITDA de 5,1p.p., de 30,2% para 35,3%.
Comércio: desalavancagem e melhoria da estrutura de capital
• Aumento de receita líquida de 4,2%, com leve crescimento da margem EBITDA de 11,7% em 2023 para 12,0% em 2024;
• Redução de dívida bruta em 45,5%, com consequente redução da dívida bruta pelo ativo total em 6,4p.p. (de 23,7% para 17,2% em 2024);
• Redução da dívida de curto prazo em relação à dívida total, de 48,5% para 39,4%, com aumento da liquidez corrente de 1,6x para 2,2x.

Construção e engenharia: rentabilidade e melhoria da estrutura de capital

• Receita líquida nominalmente estável, mas com crescimento de margem operacional em 29,1p.p. (de 10,0% para 39,2%) e de margem EBITDA em 33,0p.p. (de 12,4% em 2023 para 45,4% em 2024);
• Redução de dívida bruta (nominal) em 10,0%, com índices de dívida bruta sobre ativo e liquidez corrente razoavelmente estáveis;
• Melhoria da cobertura de juros (lucro operacional sobre despesas financeiras) de 1,7x para 2,7x.
O setor de intermediários financeiros (bancos e sociedades de crédito) não foi considerado nas análises acima devido às diferenças em padrões contábeis. E em relação a este setor, que inclui 17 instituições, a análise da PwC traz as seguintes observações:
• Em média, houve aumento de Receita de Intermediação Financeira de 11,6% em 2024 quando comparada a 2023, com crescimento da receita operacional de crédito em 6,5%;
• O lucro operacional teve um crescimento de 16,7% em 2024, com leve ganho de margem de 0,2p.p. (de 16,0% em 2023 para 16,2% em 2024);
• A despesa para provisão para créditos de liquidação duvidosa (despesa de PCLD) reduziu-se em 3,8% em 2024 contra 2023 (em comparação a um aumento de 12,7% em 2023 comparado a 2022).