Rodolpho Tobler: Mercado de trabalho: depois do efeito da recuperação da Covid-19, agora é por conta da economia

Economista responsável pela análise e divulgação do IAEmp, afirma que essa tendência iniciada no segundo trimestre ainda guardou sinais de recuperação do impacto da Covid-19 em algumas atividades.

05/10

Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE (Divulgação/FGV - IBRE)

Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) do FGV IBRE divulgado nesta quarta-feira (5) aponta que, no curto prazo, as perspectivas para o mercado de trabalho brasileiro permanecem positivas. O resultado do Indicador – que é calculado com base nos componentes das Sondagens do IBRE mais aderentes às séries de mercado de trabalho – registrou variação positiva de 1,5 ponto em setembro, para 83,8 pontos, mantendo um movimento contínuo de alta observado desde abril deste ano.

Rodolpho Tobler, economista responsável pela análise e divulgação do IAEmp, afirma que essa tendência iniciada no segundo trimestre ainda guardou sinais de recuperação do impacto da Covid-19 em algumas atividades. “Há dois fatores que considero importantes para explicar esse comportamento. O primeiro foi a retomada de atividades de serviço que ainda na virada de 2021/22 ainda sofreram com a onda de Covid-19 provocada pela variante ômicron, e a verificação de um aquecimento da economia mais forte que o esperado, e que passou a ser alimentado por medidas de estímulo econômico promovidas pelo governo”, afirma. Daqui para frente, entretanto, Tobler afirma que a manutenção dessa sinalização positiva dependerá do desempenho da atividade econômica. “As projeções são de que a economia deverá sofrer alguma retração no fim deste ano e início de 2023, assim que a disposição a contratar também deverá sofrer oscilações”, afirma.  

Entre os componentes analisados para o cálculo do indicador, a tendência de negócios na indústria da transformação foi o que apresentou a maior variação, de 0,9. O pior resultado, de -0,2, também veio da indústria, no quesito emprego previsto. “É compreensível identificar certa cautela nesse setor no curto prazo, dado o cenário eleitoral, os custos que implicam novas contratações”, diz Tobler, lembrando que na indústria os empregos com carteira assinada são mais frequentes, o que reforça esse comportamento identificado como estável, em compasso de espera. A perspectiva de que no horizonte de seis meses o cenário possa melhorar, entretanto, é muito positivo, ressalta.

Contribuição, em pontos, para a variação do  Indicador Antecedente de Emprego 


Fonte: FGV IBRE.

No caso do setor de serviços, os resultados se invertem, com a situação atual dos negócios superando, em variação, a percepção dos empresários quanto à tendência dos negócios para o futuro, que apresentou estabilidade em relação a agosto. “Os serviços ainda vivem a empolgação da volta de uma demanda reprimida, e essa dinâmica ainda deve se estender até o fim do ano, superando a sazonalidade, com as famílias aproveitando mais as festas e as férias de verão. Para o início de 2023, entretanto, sabem que os sinais podem mudar.”

Indicador de Antecedente de Emprego (IAEmp)
(pontos)


Fonte: FGV IBRE.

O IAEmp de setembro aproxima-se do resultado observado em novembro do ano passado, mas ainda está longe do pico de 2021, registrado em agosto, com 90,1 ponto, quando o país superou o pior momento da pandemia em termos de mortalidade, observado no primeiro semestre, começava a colher os frutos do avanço da vacinação. Depois disso, entretanto, a pressão inflacionária tomou conta do radar de empresas e mercados, e o IAEmp iniciou uma trajetória de queda que durou até março deste ano, quando o indicador chegou a 75 pontos.

 

Fonte: FGV/IBRE