Esgotamento relacionado ao uso excessivo de dispositivos eletrônicos tem nome: Burnon

Miryam Maziero destaca que a interação incessante com dispositivos eletrônicos não deixa o cérebro descansar.

woman-home-using-smartphone-front-computer-while-having-coffeeBournon está relacionado ao esgotamento pelo funcionamento constante do cérebro. (Foto: Freepik)

A tecnologia já faz parte da vida das pessoas. Hoje em dia é difícil quem não faz uso de um celular, computador, tablet. Já existe até um termo que vem sendo utilizado para definir esse estado de esgotamento relacionado ao uso excessivo de tecnologia, é o Burnon. Miryam Maziero, psicóloga do trabalho do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que algumas profissões estão mais sujeitas ao problema. São, principalmente, aquelas áreas profissionais em que o trabalhador está em home office, que precisa usar intensamente as telas, ou outras profissões que demandam intensa interação com dispositivos eletrônicos. Esse ainda é um conceito novo que vem sendo discutido.

Sintomas 

Os sintomas do burnout e do burnon são os mesmos, um grande esgotamento. Mas o que diferencia um do outro é o fato de o esgotamento no bournon ser ocasionado por um funcionamento constante do cérebro. É como se a pessoa não desligasse nunca. Existe um desgaste, um cansaço mental e também fadiga ocular; ainda podem acontecer dores de cabeça e irritabilidade, dificuldade de concentração e, muitas vezes, insônia. Já o bournout está ligado a estressores presentes no ambiente de trabalho.

A psiquiatra lembra que “o sono é um poderoso medidor de como está o nosso estresse. Pode haver também sensação de sobrecarga cognitiva e uma certa desconexão emocional, pelo estado de esgotamento em que o psiquismo se encontra. Uma questão relacionada ao burnon diz respeito à tendência de se sentir constantemente conectado ao trabalho ou à tecnologia mesmo fora do horário do expediente. Isso é um grande complicador. Pois para haver descanso é necessário um afastamento psicológico do trabalho. Então devemos pensar que ao organizarmos o nosso dia deveremos ter espaços para o trabalho, espaços para o término do trabalho e a entrada na nossa vida familiar e nossa vida de lazer”, orienta.

Descanso das telas

É necessário o distanciamento psicológico do trabalho para haver descanso, restauração da mente, para somente depois iniciar um novo dia, um novo ciclo de trabalho. Para lidar com os sintomas do burnon é preciso reduzir o tempo de uso das telas, fazer pausas constantes e fazer alguma atividade. “Subir um lance de escada, ir até o bebedouro ou a estação de café para parar um pouco. Outra prática interessante é poder fazer talvez um relaxamento, um exercício de respiração, um alongamento ou então algo mais estruturado como mindfulness ou yoga para ter um relaxamento e um certo distanciamento, para haver desconexão pelo menos por alguns minutos”, acrescenta Myriam.

Se os sintomas persistirem e afetarem as relações familiares, sociais e no trabalho, é necessário buscar ajuda médica. A falta de tratamento pode ocasionar problemas físicos e mentais mais graves, como distúrbios visuais permanentes, transtornos do sono mais crônicos, ansiedade e depressão. A professora Miryam explica que “podemos pensar que no burnon e no burnout como um adoecimento, um esgotamento que pode levar a uma doença. Um grande alerta para o indivíduo de que é a hora certa para fazer uma parada, reavaliar sua vida, para buscar uma solução diferente do que está sendo executado. O ideal é trocar a quantidade pela qualidade”, alerta.