Luciane Infanti: os caminhos para o futuro do ecossistema de saúde no Brasil

Segundo especialista, a partir de 2020, houve o primeiro movimento de integração consistente de dados públicos e privados com olhar único no paciente com o projeto de lei sobre o open health.

Luciane Infanti, sócia e líder da consultoria estratégica EY-Parthenon para a América do Sul. (Foto: Divulgação)

sistema de saúde avançou dez anos em dois durante a pandemia de Covid-19. Com novas tecnologias, telessaúde e o desafio de se implementar o open health (um sistema de saúde aberta), passou por “um grande aprendizado, demonstrou resiliência e implementou novas agendas para o setor”. A análise é de Luciane Infanti, sócia e líder da consultoria estratégica EY-Parthenon para a América do Sul. 

Na semana passada, Luciane recebeu Leonardo Vedolin (CMO da Dasa), Guilherme Weigert (CEO do Grupo Conexa) e Ricardo Santoro (CIO da Oncoclínicas) para uma discussão sobre ecossistema de saúde, na 8ª edição do Healthcare Innovation Show, em São Paulo. Segundo Luciane, a partir de 2020, houve o primeiro movimento de integração consistente de dados públicos e privados com olhar único no paciente com o projeto de lei sobre o open health.  “Também houve um movimento importante na discussão da telessaúde e a formalização da telemedicina como um modelo formal de atendimento, como uma porta de entrada indo além do consultório ou do pronto-socorro. Além disso, fez-se uma discussão sobre como gerar valor no momento em que a saúde pós-pandemia virou o segundo item mais importante na vida dos brasileiros”, completa. 

De acordo com Índice de Desenvolvimento do Setor de Varejo, que captura trimestralmente o que é relevante para as famílias brasileiras, principalmente aquelas que recebem entre 2 e 5 salários mínimos, a saúde deixou de ser a quarta prioridade na vida do cidadão e passou a ser a segunda, ficando atrás de alimentação e superando moradia e educação. “Temos nessa faixa uma concentração bem importante de uma população que não tem acesso à saúde suplementar”, salienta. 

“Porta de entrada” 

Guilherme Weigert (Grupo Conexa) concorda sobre a telemedicina ser uma “porta de entrada” ao novo movimento de atendimento na área da saúde. “De fato, é um check-in. Você faz o seu check-in, entende seus dados e aí começa a ser ‘navegado’ pelo sistema de saúde.” Segundo ele, antes da pandemia, o Grupo Conexa fazia 2 mil atendimentos por mês. Atualmente são mais de 600 mil por mês. “A pandemia de Covid-19 acabou motivando a experimentação. Vemos um ponto muito importante de conexão entre o digital e o físico neste momento”, diz.   

A regulamentação da telemedicina, durante a pandemia, ajudou a derrubar uma barreira para a saúde digital. Um levantamento feito pela EY mostra que, em algumas carteiras do setor de saúde privada, 78% dos pacientes fizeram ao menos uma teleconsulta ao longo da pandemia. Dentro desse grupo, 80% dos casos foram resolvidos na própria consulta por vídeo, 15% demandaram exames laboratoriais e somente 5% foram encaminhados a um pronto socorro. 

Open Health 

Uma das jornadas do ecossistema de saúde é tirar a doença do centro de atuação e colocar o cuidado. Para Leonardo Vedolin (Dasa), houve um avanço nesse sentido. “A discussão do ecossistema começa a convergir mais para este caminho, que começa por confiança, passa pelo open health e termina em relação a financiamento”, explica. 

Segundo Weigert, o Conexa já está preparando sua estrutura e sua arquitetura no âmbito do open health, como a forma de capturar o dado, se preocupar com a tomada de decisão e a gestão de indicadores. “Outro desafio são os modelos de remuneração e de negócio que ainda estão muito focados nos eventos.” 

Para Santoro, a parte tecnológica está madura. “A tecnologia de banco de dados amadureceu muito. Do ponto de vista da prática, ainda não vi as empresas usarem toda essa informação disponível. Mas o modelo econômico está forçando para a prática.”  

Luciana comenta que o país está no terceiro projeto de lei aprovado que define os parâmetros principais de cada indivíduo brasileiro que será registrado. “O que percebemos como discussão do open health é um movimento por além de qualquer janela política, porque deixou de lado a necessidade de integração de prontuário para falar de integração de dados da saúde, dados transacionais que já são padronizados e compartilhados. O open health vem com uma força de que já há informações que podem ser integradas mesmo não havendo um prontuário único. Isso traz uma agenda de transparência”, afirma Luciane. 

Para Santoro, é natural que o governo tenha essa discussão. “Não vejo dificuldades do ponto de vista tecnológico, mas para dar o passo que realmente atinja o paciente será necessário a força do governo. As organizações, de maneira independente, não farão esse movimento por questões de competição ou financeiras.” 

Vedolin aponta duas outras questões que precisam ser debatidas: Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e segurança de informação relevantes. “O cenário de cybersecurity não é o mesmo de dez anos atrás. Temos visto vários eventos pesados. Então precisa-se pensar em como isso será endereçado dada a fragilidade de infraestrutura, arquitetura nuvem, sistema e servidores”, afirma. “Mas o que eu acho mais difícil para identificar nesse cenário é que: uma coisa é o dado, outra é a informação que o dado gera. Outra é a ação que essa informação qualificada vai gerar e outra ainda é o desfecho. É um pouco simplista imaginar que tudo isso está definido e que, a partir de agora, a questão de interoperabilidade está resolvida.”

 

Fonte: Por Agência EY