Pesquisa revela que 40% dos brasileiros percebem o trabalho como fonte significativa de estresse e desgaste mental
34% dos entrevistados afirmaram que as empresas não adotam práticas voltadas para a saúde mental.
Tatiana Pimenta, CEO da Vittude. (Foto: Juliana Frug/Divulgação)
Segundo o estudo "Saúde Mental em Foco: Desafios e Perspectivas dos Trabalhadores Brasileiros - Edição 2024", realizado pela Vittude, referência no desenvolvimento e gestão estratégica de programas de saúde mental para empresas, em parceria com Opinion Box, referência em soluções de pesquisa de mercado no Brasil, 40% das pessoas percebem o trabalho como fonte significativa de estresse e desgaste mental. E não para por aí: 34% afirmaram que as companhias em que trabalham não adotam práticas voltadas para a saúde mental; enquanto 36% não enxergam a eficácia dos programas implementados. O conteúdo também analisou o NPS das organizações em relação à promoção da saúde mental, e o resultado é preocupante: -19.
“Em 2021, durante o auge da pandemia, realizamos nosso primeiro estudo ‘Saúde Mental em Foco’, com o objetivo de monitorar como estava a saúde mental dos brasileiros em meio a um dos períodos mais desafiadores da história recente. Hoje, três anos depois, queremos proporcionar às empresas insights valiosos e informações precisas para que possam atuar de forma proativa na promoção da saúde mental e na criação de ambientes de trabalho onde todos se sintam seguros, valorizados e incluídos. Acreditamos que um mapeamento anual como este é fundamental para construir uma série histórica robusta, que não apenas ilumina o presente, mas também guia o futuro”, destaca Tatiana Pimenta, CEO e cofundadora da Vittude.
O relatório completo, que a partir de agora passa a ser anual, tem como objetivo monitorar de perto o estado da saúde mental dos trabalhadores brasileiros, oferecendo um olhar atento sobre suas necessidades, percepções e desafios. Para produção do conteúdo, foram ouvidas 2.013 pessoas em todo o Brasil, entre homens e mulheres, com mais de 16 anos.
O impacto do trabalho
Quando analisada a saúde mental em relação a diferentes contextos da vida, o trabalho se mostrou como uma das áreas mais influentes para os entrevistados. Cerca de 25% relataram se sentir muito bem em relação à saúde mental no trabalho, porém 18% se sentem mal ou muito mal no contexto de suas vidas profissionais, o que indica que é uma área de grande impacto para o bem-estar emocional. Perguntados sobre o quanto acreditam que o trabalho impacta negativamente sua saúde mental, 40% das pessoas o percebem como uma fonte significativa de estresse e desgaste mental.
“Para aqueles que se sentem muito bem ou relativamente bem no trabalho, o ambiente profissional pode estar servindo como um espaço de realização e crescimento. Entretanto, para os 18% que se sentem mal ou muito mal, o meio pode estar funcionando como um vetor de sofrimento psíquico, com efeitos potencialmente graves para sua saúde mental, e é crucial que as empresas reconheçam o papel central que desempenham na vida de seus colaboradores e assumam a responsabilidade de criar condições que favoreçam o bem-estar e a saúde mental.”, afirma a CEO da Vittude.
Embora muitas companhias tenham adotado algumas medidas para cuidar da saúde mental de seus colaboradores, os dados mostram que há uma lacuna significativa entre o que é oferecido e o que é necessário: 34% dos entrevistados afirmaram que as organizações em que trabalham não adotam nenhuma prática voltada neste sentido.
Práticas adotadas pelas empresas
Entre as ações adotadas, 24% das empresas promovem palestras, webinares e eventos sobre o tema, enquanto 23% possuem políticas claras de combate à discriminação e assédio e oferecem treinamentos sobre saúde mental e segurança psicológica. Além disso, 22% das companhias têm equipes de saúde e bem-estar à disposição dos colaboradores. No entanto, apenas 17% oferecem sessões de terapia pelo plano de saúde, e apenas 9% subsidiam as consultas integralmente.
Com isso, o custo se torna um fator relevante na busca por tratamentos de saúde mental. Cerca de 27% dos entrevistados que não fazem terapia apontaram o custo como uma barreira significativa, indicando que os altos preços das sessões (com 23% pagando mais de R$300 mensais) são um obstáculo para muitos.
“Esses números mostram que, embora algumas empresas tenham começado a implementar ações voltadas para a saúde mental, muitas ainda estão longe de fornecer o suporte necessário aos seus colaboradores. Em tempos de mudanças regulatórias que moldarão o futuro das organizações, como a Lei 14831/24 e a atualização da NR-1, que estabeleceram diretrizes que visam a proteção da saúde mental e a promoção da segurança psicológica nos locais de trabalho, as que se adaptarem rapidamente não apenas estarão em conformidade legal, mas também colherão os benefícios de um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo”, pontua Tatiana.
Net Promoter Score (NPS)
De acordo com a pesquisa, o NPS (metodologia usada para medir a lealdade e satisfação dos clientes) das organizações em relação à promoção da saúde mental ficou em -19, um resultado preocupante. Para chegar a esse número, foi verificado que 46% dos colaboradores são detratores, ou seja, quase metade não recomendariam suas empresas como promotoras da saúde mental, refletindo uma insatisfação profunda e uma percepção de que as práticas voltadas para o bem-estar psicológico estão aquém do esperado. Além disso, 27% se classificaram como neutros, indicando que, embora não estejam insatisfeitos, também não estão suficientemente convencidos da eficácia ou não conhecem as ações de suas companhias para promover a saúde mental.
“O resultado de NPS negativo revela um cenário crítico e reflete que, para a maioria dos trabalhadores, as empresas não estão fazendo o suficiente para garantir que o ambiente de trabalho seja um espaço seguro e propício para o bem-estar psicológico. O alto número de detratores sugere que muitas práticas de saúde mental são inexistentes, ineficazes ou não suficientemente visíveis aos colaboradores. Serve de alerta para que as organizações repensem suas estratégias, pois não basta adotar medidas simbólicas ou pontuais. É essencial promover uma cultura de cuidado genuíno e implementar práticas que façam a diferença na saúde mental dos colaboradores”, finaliza a cofundadora da Vittude.