Primeiro transplante de útero entre pacientes vivas na América Latina é realizado no HC da USP

Edmundo Baracat e Luiz Augusto Carneiro d’ Albuquerque comentam a respeito da nova tecnologia de transplante, que faz com que mulheres que desejam ser mães fiquem mais perto do seu sonho.

front-view-doctor-holding-anatomic-modelEdmundo Baracat e Luiz Augusto Carneiro d’ Albuquerque comentam a respeito da nova tecnologia de transplante, que faz com que mulheres que desejam ser mães fiquem mais perto do seu sonho. (Foto: Freepik)

O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP alcançou um marco histórico ao realizar o primeiro transplante de útero entre pacientes vivas na América Latina, uma inovação significativa tanto na área de transplantes de órgãos quanto na medicina reprodutiva. O procedimento foi realizado em parceria com uma equipe sueca da Universidade de Gotemburgo e contou com a participação de especialistas do hospital, incluindo os professores Edmundo Baracat e Luiz Augusto Carneiro d’ Albuquerque.

O transplante foi realizado com sucesso, utilizando um útero de uma irmã da receptora, que havia doado o órgão após já ter dado à luz a dois filhos. Esse aspecto do procedimento foi destacado pelo professor Carneiro, que mencionou a longa tradição do Hospital das Clínicas em transplantes e a importância da colaboração entre as equipes para a realização do transplante uterino. Em 2017, o hospital já havia feito história ao realizar o primeiro transplante de útero a partir de uma doadora falecida, que resultou no nascimento de um bebê saudável.

“Isso foi feito em conjunto com o grupo da Universidade de Gotemburgo, vieram três cirurgiões de lá e, em colaboração conosco, aqui, fizemos esse caso junto com o professor, a equipe do professor Baracat. E foi uma cirurgia longa, muito meticulosa, muito cuidadosa, mas que terminou muito bem. Então, nós estamos realmente felizes com esse novo marco aqui para a nossa medicina”, afirma.

Receptora

O professor Baracat explicou que a receptora do transplante, que sofre de uma condição conhecida como síndrome de Rokitansky, passou por uma avaliação pré-transplante rigorosa. Essa síndrome se caracteriza pela ausência de útero e parte da vagina, mas a receptora possuía ovários normais. O processo incluiu a coleta de óvulos, fertilização in vitro e o congelamento dos embriões para uso futuro após o transplante.

“Feito o transplante uterino, que é um procedimento longo, demorado, como já foi comentado, ela passa por um período de acompanhamento pós-transplante, onde ela recebe uma medicação imunossupressora, que evita a rejeição, e nós fazemos um acompanhamento ginecológico, onde verificamos, através de biópsia do colo do útero, se há ou não sinais de rejeição. Em torno de quatro a seis meses após o transplante, nós já começamos a programação da transferência dos embriões para o útero da receptora. Então esse é o procedimento que a gente faz, é todo um processo que é longo, que começa alguns anos antes, inclusive, porque nós não podemos nunca pensar em fazer um transplante sem ter embriões de boa qualidade congelados”, explica o professor.

Esperança na maternidade

Os professores também discutiram a importância emocional e social desse avanço. O desejo de ser mãe e a capacidade de gestar um filho são questões fundamentais para muitas mulheres, e esse transplante representa uma nova esperança para aquelas que enfrentam problemas de infertilidade relacionados à ausência de um útero. O professor Carneiro destacou como essa experiência ajudou a sensibilizá-lo para a realidade vivida por essas mulheres. “E é uma coisa maravilhosa. Sem dúvida alguma. É muito bom ouvir isso e realmente as mulheres ficam muito, muito felizes com esse tipo de proposta de avanço tecnológico”, afirma.

O impacto dessa inovação vai além da saúde física, atingindo aspectos emocionais e psicológicos. A possibilidade de carregar um bebê e experimentar a maternidade é um desejo profundo, que pode agora ser realizado por mulheres que, antes, se viam privadas dessa experiência. O avanço da medicina, nesse sentido, abre novas portas e oferece oportunidades que antes eram inimagináveis.

“Sem dúvida, o transplante uterino passa a ser uma opção para as mulheres que têm um fator uterino absoluto que leva à infertilidade e é extremamente importante que nós possamos oferecer, num futuro próximo, essa técnica como uma oportunidade para as mulheres que não conseguem engravidar por um problema uterino, pela falta do útero, e isso é um direito até de cidadania para a mulher poder gestar. Eu acho que o Hospital das Clínicas é pioneiro nos transplantes de uma maneira geral e passa a ser pioneiro também no transplante de útero, como nós já fizemos em 2017 com uma doadora falecida e agora o primeiro transplante intervivos da América Latina com sucesso”, conclui o professor Baracat.

A realização do primeiro transplante de útero entre pacientes vivas na América Latina é um testemunho da inovação e do compromisso do Hospital das Clínicas com a saúde da mulher. Os professores Baracat e Carneiro expressaram sua satisfação em contribuir para essa causa, ressaltando a importância de continuar investindo em pesquisas e práticas que melhorem a vida das mulheres e ofereçam novas oportunidades de realização pessoal e familiar.