Empresários se reúnem na tentativa de desenvolver economicamente a região do Pantanal em prol da natureza

A iniciativa privada tem sido responsável por centenas de ações de preservação ambiental no Brasil, principalmente na região amazônica e no Pantanal, ambas fortemente prejudicas pelas queimadas, agricultura predatória e grilagem de terra.

_operacao_pantanal_incendio_Empresários se reúnem na tentativa de desenvolver economicamente a região do Pantanal em prol da natureza. (Foto: Agência Brasil)

A iniciativa privada tem sido responsável por centenas de ações de preservação ambiental no Brasil, principalmente na região amazônica e no Pantanal, ambas fortemente prejudicas pelas queimadas, agricultura predatória e grilagem de terra. Um bom exemplo é o projeto encabeçado por Roberto Klabin e outros empresários, que pretende criar um corredor particular de conservação no Pantanal. Atualmente, a área possui 151 mil hectares de extensão, que somados a um parque próximo, chega a 229 mil hectares.

A ideia é desenvolver um núcleo sustentável por meio da comercialização de créditos de carbono, aluguel de pastagem e ecoturismo, além de alcançar a marca de 600 mil hectares, o que tornará a área o maior projeto de conservação privado do Brasil e um dos maiores do mundo. “Quando começamos a montar esse corredor privado, vários empresários acharam que acabaríamos com a economia local”, diz Roberto Klabin, que atua na região desde 1985.

O empresário também é proprietário do Refúgio Ecológico Caiman, parte do megaprojeto e unidade derivada de uma fazenda muito maior, que era de sua família e havia sido fundada por imigrantes ingleses em 1912. “Aos 10 anos de idade eu ia passar as férias na mesma localidade com meus pais e me recordo que a natureza era o que mais me chamava a atenção. Aqueles dias marcaram demais minha vida”, conta.

Um ideal

Quando tinha 28 anos, a família do empresário decidiu dividir a fazenda e o pedaço que coube a Klabin foi justamente o lugar que hoje é ocupado pelo Refúgio Ecológico Caiman, com 53 mil hectares. “A fazenda tinha 75 anos e, praticamente, está intocável, sua natureza estava preservada e eu queria que ela continuasse com essa essência”, comenta. Para ajudá-lo na missão de conservar o local, o empresário convidou pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) que o auxiliaram a delimitar uma área para criação da reserva privada.

“Esses pesquisadores passaram um longo período na fazenda, o que me levou a pensar se não seria uma boa ideia mostrar a beleza do Pantanal para outras pessoas”, revela. Naquela época, ainda não se falava de ecoturismo. Havia safaris na África, mas não se falava do conceito em território brasileiro. “Eu tomei como inspiração a região de MalaHala, na África do Sul, e transformei a antiga sede da fazenda na primeira pousada da região, contratando jovens universitários para serem os guias”, acrescenta.

Quando começou a levar o ecoturismo para região pantaneira, Klabin lembra que foi motivo de muita desconfiança por parte de moradores locais. “As pessoas achavam que eu estava impondo um conceito que nada tinha a ver com as tradições locais. Meu argumento para elas era que eu iria aumentar a oferta de emprego para região”.

Dificuldades

Em 2019, a Fazenda Caiman foi atingida por um incêndio que destruiu metade da propriedade. “Foi muito difícil conseguir controlar o fogo, porque, mesmo quando as chamas pareciam sob controle, sabíamos que elas poderiam retornar a qualquer momento”, relembra Klabin. O incêndio fez com que o empresário revisse alguns procedimentos de segurança. “Desde setembro do ano passado, ficamos sem receber hospedes. Quando chegou 2020, achamos que as coisas melhorariam, mas veio a pandemia e atrapalhou nossos planos”, lamenta.

Mesmo com os graves incêndios que atingiram a estância em 2019, Klabin comemora o fato da propriedade não ter sofrido com os mesmos problemas em 2020. “Posso dizer que já começamos a nos recuperar. Dois meses depois do fogo, pudemos observar regiões que estavam queimadas ficando verdes novamente. Perdemos fauna e flora, mas os animais ficaram concentrados na sede, que não pegou fogo”, elucida.

Experiência

Outra ação importante na ampliação e sequência do projeto de criação do corredor sustentável no Pantanal, foi a compra da Fazenda Santa Sofia, em Aquidauana, no Mato Grosso do Sul. Com 34 mil hectares, a iniciativa também partiu de Roberto Klabin, além de Teresa Bracher e do ex-piloto Mario Haberfeld, idealizador do Onçafari, projeto focado na preservação das onças-pintadas e lobos-guará. O projeto de Haberfeld começou na própria Caiman há nove anos.

Mario Haberfeld, que ganhou fama como piloto de corrida e sempre foi apaixonado pela natureza, se aposentou das pistas e decidiu viajar o mundo para apreciar diferentes formas de vida selvagem. Foi até o Canadá para observar ursos polares, viajou para a China com o intuito de ver ursos pandas, foi também à Uganda para observar o modo de vida dos gorilas, mas foi uma junção de experiências na África do Sul que mudaram sua trajetória. Em uma das viagens, mais especificamente na região de Sabi Sands, ele teve a disruptiva ideia de aplicar o modelo utilizado lá no Brasil.

“O Sabi Sands era muito similar ao Pantanal, pois consistia em uma região de áreas privadas, nas quais haviam fazendas de caça, criação de gado e de carneiros. Por lá, eles tinham os mesmos conflitos humano-fauna que o Pantanal apresenta hoje”, explica Haberfeld.

Equilíbrio

Mas, o que é o conflito humano-fauna? Por sua natureza selvagem, predadores costumam matar o gado para se alimentar. E, como forma de retaliação, os fazendeiros acabavam perseguindo e matando esses animais. A partir de determinado momento, um dos fazendeiros africanos parou de matar estes predadores e decidiu iniciar uma aproximação. Ao longo do tempo, os animais que viviam na propriedade dele já não eram mais caçados e, aos poucos, começaram a aceitar a presença dele junto de um veículo. Desta experiência, surge o movimento de habituação.

“Ele se interessou pela observação de vida selvagem e abriu suas portas para outros hóspedes e turistas, para que todos pudessem observá-los também. A iniciativa acabou gerando mais lucro do que ele imaginava, superando o retorno por meio da criação de gado. Tamanho sucesso também começou a interessar meus vizinhos fazendeiros, que optaram por seguir o mesmo caminho”, conta Haberfeld.

Por fim, a área reservada para conservação de vida selvagem cresceu bastante. O que antes era pasto, deu lugar ao aumento de floresta nativa, trazendo de volta, em maior volume, os animais que ali viviam. E, onde existia apenas gado, hoje tornou-se uma área 100% dedicada ao ecoturismo.

“Com toda minha experiência de vida, percebi que as condições eram muito similares às do Pantanal, e decidi aplicar o mesmo modelo no Brasil. Juntei-me ao Simon Bellingham (africano, muito experiente guia de safáris) e juntos, em 2011, fundarmos o Onçafari”, finaliza.

O monitoramento diário das onças-pintadas e lobos-guarás nas bases de atuação do Onçafari permite que pesquisadores saibam cada vez mais sobre esses animais. Nesses últimos meses, o destaque tem sido o número e as histórias das mais novas mães no Onçafari. “Foram registradas ao menos nove onças-pintadas com filhotes no Refúgio Ecológico Caiman, além de três possíveis onças com filhotes ainda entocados”, conclui Mario Haberfeld.