O desafio empresarial de descarbonização no Brasil e no mundo

Tema entrou no radar de discussões da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas.

O Dia da Descarbonização fomentou a arena de discussões com lançamento de estudos inéditos. (Foto: Pixabay)

A Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP 27) foi marcada por múltiplas discussões simultâneas e complementares entre diversos setores, líderes e stakeholders do mundo. Entre as dezenas de milhares de pessoas  e delegações que transitam entre as geografias dos pavilhões, o tema crucial que estrutura a agenda das programações é a implementação. Contudo, sabemos que, antes de implementar qualquer mecanismo de transformação, é preciso descarbonizar. 

PANORAMA GLOBAL

Na última sexta-feira, dia 11, o Dia da Descarbonização fomentou a arena de discussões com lançamento de estudos inéditos, plataformas e recursos sobre o tema. Para começar, acompanhamos o discurso de Joe Biden, atual presidente dos Estados Unidos, que anunciou iniciativas norte-americanas e fortes compromissos globais, incluindo a implementação ativa de mecanismos de adaptação em regiões específicas do Sul Global. Biden reforçou que os EUA são um dos maiores países emissores de gases de efeito estufa (GEE), e isso demanda ações ainda mais emergenciais diante dos danos irreparáveis que a crise climática está desencadeando nos países do sul. Em seu discurso, o líder direcionou a atenção para que os países aumentem a ambição de seus compromissos de mitigação, que significa a redução das emissões, defendendo as medidas climáticas tomadas durante o seu governo.

“É mais urgente do que nunca dobrar nossos compromissos climáticos. A guerra da Rússia só aumenta a urgência da necessidade de fazer a transição do mundo para abandonar sua dependência de combustíveis fósseis”, destacou Biden. “A ciência é devastadoramente clara. Temos que fazer progressos vitais até o fim desta década”, disse o presidente Biden. 

Não podemos deixar de mencionar o impacto da passagem de John Kerry, enviado especial para o clima dos EUA, que anunciou oficialmente a "nova iniciativa global de compensação de carbono", na última semana. O objetivo-chave é conectar empresas privadas americanas com ações de transição energética em países em desenvolvimento.

 

PANORAMA NACIONAL 

Nesta cúpula do clima, temos a representação de 636 representantes de diferentes indústrias de combustíveis fósseis. Um dos destaques no que tange ao setor privado foi o lançamento de um programa inédito para apoiar a implementação de ações climáticas nas empresas que representam aproximadamente 50% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. A plataforma Net Zero, idealizada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), em parceria com o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), é uma iniciativa cujo objetivo é criar metas empresariais de neutralidade climática em todas as esferas por meio do apoio prático à implementação de processos de descarbonização.

A iniciativa inédita não apenas reconhece que esforços individuais das empresas não são suficientes para o desafio nacional de descarbonização que temos de enfrentar, mas propõe um caminho coletivo que o setor privado possa trilhar na redução das emissões. Sabemos que a missão empresarial de zerar as emissões até 2050 é ambiciosa e desafiadora. Segundo o Oxford Net Zero & New Climate Institute, apenas 35% das empresas conseguem alcançar critérios mínimos para atingir esse objetivo nacional e global. Nesse sentido, um passo importante foi o lançamento de um guia com cinco princípios e 10 recomendações para que as empresas tenham objetivos de mitigação mais assertivos e, definitivamente, se distanciem do greenwashing.

Entre as recomendações do painel da UNFCCC para compromissos net zero, destacamos a definição de parâmetros do que seria um compromisso net zero ideal, por meio de um plano centrado em parâmetros científicos, além da previsão de um corte de 50% das emissões líquidas até 2030. Além disso, o offsetting, que é uso de créditos de carbono de qualidade para reduzir emissões seria uma das principais estratégias para toda a cadeia de valor. 

O Dia da Descarbonização na COP 27 reforçou o quanto o setor privado desempenha um papel fundamental para a redução das emissões rumo à economia carbono neutro. Entre as prioridades, destacamos a necessidade de estabelecer metas com bases científicas e de longo prazo. Assim, podemos, de fato, construir modelos eficazes de negócios de baixo carbono, sustentáveis e resilientes ao clima.

“O monitoramento das emissões deve ser cada vez mais preciso, o que obrigará as empresas a agir rápido não apenas realizando o offset de carbono, mas principalmente transformando seus negócios”, salienta Ricardo Assumpção, sócio-líder de ESG para América Latina Sul e CSO da EY Brasil.

 

Fonte: Agência EY