Rede de conservação marinha forma jovens lideranças pelo futuro do oceano
Iniciativa da Rede Biomar aconteceu em Caravelas (BA) e envolveu mais de 60 jovens de diversas regiões do país, integrantes de coletivos da rede.
Iniciativa da Rede Biomar aconteceu em Caravelas (BA) e envolveu mais de 60 jovens. (Foto: Fernanda Rebello/Divulgação)
Territorialidade, juventude, arte, ciência e futuro foram algumas das palavras que nortearam o V Encontro Jovem Mar, realizado no final de setembro em Caravelas (BA), reunindo coletivos jovens de conservação marinha ligados aos projetos que compõem a Rede Biomar - Albatroz, Baleia Jubarte, Coral Vivo, Golfinho Rotador e Meros do Brasil, todos patrocinados pela Petrobras. A quinta edição do evento foi organizada pelos projetos Albatroz e Meros do Brasil.
Com o tema "Territorialidade, Ciência Oceânica e Cultura Popular: os coletivos jovens e a invenção do mundo", o evento se propôs a envolver e mobilizar os mais de 60 participantes, vindos de diversos estados do país no contexto da Década do Oceano, com atividades voltadas a integrar e reforçar o potencial da juventude na construção da sua própria visão de futuro, e promover a valorização da diversidade cultural para o desenvolvimento sustentável.
Os coletivos jovens da Rede Biomar foram criados com o intuito de formar lideranças na conservação marinha no Brasil e atuarem de forma direta com as comunidades nos territórios onde estão localizados, compartilhando conhecimentos, reflexões e atividades pela vida do oceano e das pessoas. A cidade de Caravelas foi escolhida por contemplar diversos aspectos convergentes a estes objetivos: é um território importante para a conservação de espécies como os meros e as baleias-jubarte, e concentra forte bagagem histórica devido à ancestralidade com raízes africanas e de povos originários como os pataxós e tupinambás.
“Caravelas é um território de muito valor cultural. Aqui nós temos a possibilidade de produzir e compartilhar a ciência por meio da arte, que é o que mais gostamos enquanto jovens”, afirmou Pâmila Cristina Rosário, do coletivo jovem do Projeto Meros do Brasil. A vibração dos jovens, a vontade de querer participar, de compartilhar conhecimento por meio de expressões culturais criativas foi o que chamou a atenção de Gregório Maciel, gerente de Reflorestamento e Projetos Ambientais da Petrobras, que também acompanhou o encontro. “Estamos constituindo lideranças. Os jovens de hoje serão pessoas que amanhã vão tomar decisões em organizações, sejam públicas ou privadas. Eles vão levar para a vida esses valores de conservação do meio ambiente e sustentabilidade que estão conhecendo nesses coletivos. É um legado de longo prazo que proporcionamos”, avalia.
Encontro Jovem Mar também atende a um chamado global para a mobilização de jovens para a construção de um futuro mais justo. (Foto: Arianne Fonseca/Divulgação)
Para Maíra Borgonha, gerente geral do Projeto Meros do Brasil, a quinta edição do Encontro Jovem Mar também atende a um chamado global para a mobilização de jovens para a construção de um futuro mais justo, empático e sensibilizado sobre o meio ambiente. “Saímos de um período de pandemia em que o mundo que conhecíamos já não existe mais da mesma forma, e isso trouxe à tona muitas vontades - uma delas é de nos entendermos como seres humanos, como cidadãos no lugar em que estamos”, afirma.
“Se não conhecemos a nossa identidade, a nossa origem, não saberemos para onde ir. Estamos passando o bastão do mundo para os jovens, então nosso encontro é uma oportunidade para que eles possam sonhar com o mundo que desejam, celebrar a vida e entender que estamos abrindo espaço para que assumam o futuro do planeta”.
Cultura popular e Cordão da Diversidade
No primeiro dia de encontro, os jovens se debruçaram sobre atividades de integração, valorização histórica e cultural do território de Caravelas, além de discussões sobre os desafios do mundo de hoje, o que desejam para o futuro do oceano e do planeta, e o que é possível fazer para contribuir para esses objetivos. Eles também tiveram o primeiro contato com as atividades do Movimento Cultural Arte Manha, que ofereceu oficinas ligadas a expressões artísticas como percussão, serigrafia, papietagem, tranças afro, canto coral e dança. No mesmo período, o Coletivo Jovem Albatroz ofereceu uma oficina de captação de imagens.
Essas linguagens artísticas foram importantes para as atividades do segundo dia do V Encontro Jovem Mar. Nele, os jovens criaram de forma coletiva uma bandeira que representa o manifesto dos anseios do Coletivo Jovem Mar, por meio da pintura, desenho e poesia. Ela foi utilizada como o estandarte do grupo no Cordão da Diversidade, que levou mais de uma centena de pessoas às ruas do centro de Caravelas, no embalo da percussão e das danças afro-indígenas. O desfile também apresentou as espécies-bandeira da Rede Biomar, e compartilhou com o público a mensagem de conservação dos cinco coletivos jovens.
Jovens criaram de forma coletiva uma bandeira que representa o manifesto dos anseios do Coletivo Jovem Mar. (Foto: Cristian Tigre/Divulgação)
Fundador do Movimento Cultural Arte Manha e coordenador do Projeto Meros do Brasil na Bahia, Dó Galdino explicou que o território de Caravelas é importante para a conservação de diversas espécies marinhas diretamente ligadas ao turismo e a pesca, parte importante da cultura local. “Nossos ancestrais tupinambás, os povos pataxós que ocuparam o extremo Sul da Bahia eram pescadores e marinheiros. E nosso povo está diretamente relacionado com a cultura do mar, eles são os maiores conhecedores das espécies que habitam a região, e por isso precisamos dialogar mais com os povos ancestrais e originários, para entender melhor ao longo do tempo o que vem acontecendo com esses bichos, suas populações, seus habitats.”
O Arte Manha trabalha em parceria com o Meros do Brasil utilizando expressões artísticas para divulgação científica popular e educação ambiental. “A arte é uma ferramenta valiosíssima para a Década do Oceano. Primeiro precisamos conhecer tudo sobre a política de conservação da espécie e estudá-la a fundo para podermos trazer para a manifestação cultural. Escutar uma boa música, ver uma boa escultura, assistir a uma peça de teatro bem elaborada, permite que a pessoa absorva a mensagem. A arte provoca e convoca para a interpretação”, salienta Dó.
Descobrindo o Arquipélago de Abrolhos
No último dia de encontro, os jovens embarcaram com destino a um dos locais de maior biodiversidade do Brasil: o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. A viagem de barco de mais de quatro horas até o santuário, que fica há aproximadamente 36 milhas náuticas (70 quilômetros) da costa, contou com a identificação e o avistamento de dezenas de baleias-jubarte, entre adultas e filhotes, que se concentram no banco de Abrolhos nas semanas finais da temporada de reprodução.
Ao chegarem ao arquipélago, foram recebidos por uma equipe de monitores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade que acompanhou os jovens por uma visita guiada à Ilha da Siriba, ninhal reprodutivo de aves como atobás-brancos (Sula dactylatra), beneditos (Anous stolidus) e grazinas (Phaethon aethereus).
O mergulho para avistamento e identificação de espécies marinhas também fez parte do roteiro. (Foto: Esmeralda Andrade/Divulgação)
O mergulho para avistamento e identificação de espécies marinhas também fez parte do roteiro. Com águas cristalinas, os jovens tiveram encontros inesquecíveis com espécies de tartarugas, raias, corais e peixes como badejos e budiões.
“A programação do V Encontro Jovem Mar foi pensada para que todos os jovens pudessem aproveitar a oportunidade de estarem juntos após a pandemia e mergulhar na arte, no diálogo, e na ciência para criar o mundo que eles desejam para o futuro”, explica Thaís Lopes, educadora ambiental responsável pelo Coletivo Jovem Albatroz. “A Década do Oceano nos permite mergulhar em reflexões sobre o futuro do nosso planeta que se traduzem em ações de impacto”.