Gustavo Pimenta, da Vale: 'Temos visto uma crescente demanda em novos mercados, tanto no Sudeste Asiático quanto no Oriente Médio'

Gustavo Pimenta fala sobre transformar a Vale em uma companhia mais ágil, eficiente e sustentável.

Gustavo Pimenta_Foto Arthur Massao Felippe de Toledo (2)Gustavo Pimenta, novo presidente da Vale. (Foto: Divulgação)

Nos últimos anos, a Vale conseguiu avançar significativamente em sua transformação cultural, com orientação para a segurança das pessoas e operações, para a gestão de riscos e para a integridade de ativos. A companhia adotou um programa pioneiro de descaracterização de barragens, implementando os melhores padrões globais para a gestão das estruturas de contenção de rejeitos.

A multinacional também tem construído bases sólidas para uma trajetória promissora ao promover a excelência operacional e posicionar o conglomerado de forma estratégica na jornada da descarbonização global. Para reiterar e dar continuidade a este trabalho, Gustavo Pimenta, novo presidente da Vale, que chega para substituir o mandato de Eduardo Bartolomeo, tem sinalizado para o fortalecimento da empresa nos mais diferentes níveis.

“Segurança e excelência operacional são elementos inegociáveis dessa jornada. Adicionalmente, nossos esforços estratégicos serão concentrados em entregar um portfólio de produtos superiores, com foco maior no cliente. Em minério de ferro, vamos acelerar nossa oferta de produtos de alta qualidade, enquanto em metais básicos, pretendemos continuar a crescer, principalmente em cobre. Por fim, tenho o compromisso de aprimorar nossos relacionamentos institucionais, garantindo que iremos deixar um impacto positivo para as pessoas e o meio ambiente”, afirma Pimenta.

Produção

No final de outubro, em sua primeira videoconferência como CEO com analistas para comentar o resultado da companhia no terceiro trimestre deste ano, Pimenta enfatizou que pretende ampliar principalmente a produção de metais da transição energética, como cobre e níquel. A meta é melhorar o mix desses produtos e acelerar com custos cada vez menores, com foco na liderança do segmento.

A mineradora anunciou um lucro de R$ 13,3 bilhões no terceiro trimestre, recuo de 3,44% em relação ao mesmo período de 2023. A receita líquida somou R$ 52,978 bilhões, alta de 1,95% na mesma comparação. O desempenho operacional e de vendas melhorou em todos os negócios. No entanto, as vendas de minério de ferro aumentaram 1,3 Mt (+2%) a/a, impulsionadas pelo aumento de 18% das vendas de pelotas devido a maior produção e a forte demanda.

“No trimestre, nossa produção de minério de ferro atingiu seu nível mais elevado em mais de cinco anos, resultado do nosso foco contínuo na excelência operacional. Nossa produção de pelotas está em seu maior nível desde 2019, em linha com a estratégia de entregar produtos de alta qualidade. Na divisão de metais básicos, a produção de cobre e níquel também apresentou um sólido progresso, marcado por melhorias operacionais no Canadá”, comentou Gustavo Pimenta.

Trajetória

Gustavo Pimenta é um executivo com experiência global nos setores financeiro, de energia e mineração, e com uma carreira desenvolvida ao longo de mais de 20 anos no Brasil, Estados Unidos e Europa. Em 2021, assumiu a posição de vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale S.A, liderando a agenda de produtividade da empresa, com foco na alocação de capital, eficiência de custos e redução das emissões de gases de efeito estufa. Também foi responsável pelas áreas de Suprimentos e Energia & Descarbonização.

Antes de juntar-se à Vale, Pimenta foi executivo da AES por 12 anos, acumulando ampla experiência como CFO Global, diretor de Planejamento e Estratégia e vice-presidente de Performance e Serviços da empresa. Também atuou como vice-presidente de Estratégia e M&A no Citigroup em Nova Iorque. É formado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais e tem mestrado em Finanças e Economia pela Fundação Getúlio Vargas.

Com sua experiência, Pimenta defende a melhoria de diversos aspectos da mineradora. “Vamos juntos nessa jornada, intensificando o diálogo com todos os nossos stakeholders e priorizando a segurança das pessoas, das operações e do meio ambiente. Tenho certeza de que seguiremos avançando em nossa missão, com foco em geração e distribuição de valor, elevando a Vale a patamares ainda mais altos”, ressalta o executivo.

Momento

Demonstrando na prática os objetivos dessa nova jornada, em sua primeira videoconferência, o novo CEO da Vale apontou que a mineradora segue com a meta de eliminar todas as barragens à montante no Brasil. Gustavo Pimenta destacou que o acordo oficializado com o governo, de R$ 170 bilhões para reparação dos danos decorrentes do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, em 2015, foi uma solução benéfica para todos os envolvidos.

“O Acordo Definitivo permitiu uma resolução mutuamente benéfica para todas as partes em termos justos e eficazes, ao mesmo tempo que criou certeza e segurança jurídica. É o resultado de um processo de mediação de alto nível conduzido pelo Tribunal Regional Federal da 6ª Região, com diálogo aberto e transparência. O engajamento das autoridades brasileiras e dos entes públicos garantiu legitimidade ao acordo, que foi respaldado por critérios sociais, ambientais e técnicos. Este importante acordo também reforça nosso compromisso com a sociedade brasileira e com um futuro melhor para as pessoas, as comunidades e o meio ambiente”, disse.

Iniciativa

Ainda no âmbito da sustentabilidade, Petrobras e Vale assinaram um acordo para fornecimento de produtos voltados à descarbonização, que inclui o uso do Diesel R em veículos do setor de mineração. O documento prevê oportunidades de negócios em baixo carbono, como o diesel coprocessado com conteúdo renovável e gás natural.

Esta é a primeira venda do diesel coprocessado com conteúdo renovável, produzido a partir do coprocessamento de derivados de petróleo com matérias-primas vegetais. O diesel B R5 tem 14% de biodiesel, mistura obrigatória, resultando em um combustível com 18,3% de conteúdo sustentável.

A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, destaca que o acordo "é mais uma concretização do objetivo da Petrobras de aperfeiçoar a capacidade produtiva e a estrutura logística da empresa, para entregar produtos mais verdes", segundo nota divulgada pela estatal. Já o presidente da Vale, Gustavo Pimenta, enfatizou que a empresa também tem o compromisso de promover "a descarbonização das suas operações e de oferecer soluções para reduzir as emissões de seus clientes, aproveitando, assim, o diferencial competitivo do Brasil em combustíveis renováveis”, encerra.

Fundo de minerais estratégicos

A Vale e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciaram que o consórcio formado pela Ore Investments e a JGP BB Asset foi selecionado em primeiro lugar na chamada pública para a escolha de um Fundo de Investimento em Participações (FIP) com foco em projetos de pesquisa, desenvolvimento, implantação ou operação de ativos de minerais estratégicos para transição energética, descarbonização e minerais fertilizantes. Esse é primeiro fundo de investimento em participações do BNDES focado em mineração.

“A Vale é uma grande produtora de minerais para a transição energética e tem orgulho de integrar uma iniciativa que vai potencializar os investimentos em metais críticos e promover o crescimento das cadeias produtivas nacionais. O grande interesse pela gestão do fundo evidencia a robustez do mercado de exploração e produção de minerais estratégicos no Brasil”, afirma Gustavo Pimenta.

Ponto de vista

Quais os primeiros passos para conduzir a empresa ao protagonismo na produção de metais que farão a transição energética?

No ano passado, tomamos a decisão de dar mais autonomia e foco no nosso negócio de metais de transição energética.  Estou muito animado com o resultado dessa decisão e a evolução da Vale Base Metals de lá para cá. Nosso grande objetivo é crescer esse negócio, de forma sustentável e competitiva, principalmente no cobre, em que temos muitos recursos e reservas a serem desenvolvidos. A demanda por esses minerais de transição será enorme e o maior desafio está no crescimento da oferta. Temos uma oportunidade única de nos posicionarmos como um dos grandes produtores de metais de transição energética do mundo e essa será uma prioridade da companhia nos próximos anos.

Essa agenda é muito alinhada com as prioridades do Governo brasileiro, que deseja fazer do país um protagonista da transição energética, ao mesmo tempo em que traz desenvolvimento social para o país.  Nesse sentido, temos dialogado com o Governo Federal e com os governadores dos Estados em que atuamos, para assegurar que nosso crescimento siga sendo sustentável e cada vez mais voltado para uma agenda social.  Queremos deixar um legado para o país e para a sociedade.

Em quais áreas e segmentos a companhia deve dar maior atenção?

Segurança continua sendo nossa prioridade. Seguiremos em nossa busca incessante por um ambiente de trabalho seguro e saudável. Dito isso, a Vale tem um imenso potencial e vamos nos posicionar como uma referência no setor. Para isso, estamos partindo do nosso sólido progresso nos últimos anos para desenvolver a visão “Vale 2030”, que se baseará em três pilares fundamentais.

Primeiro, uma cultura orientada para resultado: vamos acelerar a nossa transformação cultural, mantendo nosso foco em segurança e excelência operacional, ao mesmo tempo em que nos tornaremos uma organização mais ágil e eficiente. Assim, vamos melhorar substancialmente nossa competitividade e posicionar novamente a Vale na parte inferior da curva de custo global da indústria.

Também buscaremos um portfólio superior, tornando mais ágil a execução da nossa estratégia de minério de ferro premium. A companhia tem um dos mais ricos recursos de minério de ferro do mundo e vai ampliar a capacidade de produção nos próximos anos. Mais do que o volume em si, esse movimento nos dará flexibilidade para operar sob diferentes condições de mercado. Esse portfólio flexível nos permitirá apoiar nossos clientes em sua jornada de descarbonização. Tudo isso se soma à nossa plataforma única de Metais Básicos, como disse antes.

Em terceiro lugar, é essencial que os nossos stakeholders nos vejam como um parceiro confiável. Para isso, trabalharemos em estreita colaboração com a sociedade para deixar um legado positivo das nossas atividades, criando, ao mesmo tempo, relações responsáveis e de confiança. Não tenho dúvida de que seremos capazes de alcançar tais objetivos e, com isso, reposicionar a Vale novamente como um grande orgulho nacional.

Buscar novos mercados para reduzir a dependência da economia chinesa estão entre suas prioridades?

A China seguirá sendo o maior produtor de aço do mundo e um grande parceiro comercial da Vale. O que observamos neste momento é uma mudança no padrão de demanda por aço e, consequentemente, de minério de ferro, com uma redução da participação do mercado imobiliário chinês e um crescimento relevante da demanda para manufatura. Isso tem ajudado a suavizar o efeito sobre os preços internacionais. Aliado a isso, temos visto uma crescente demanda em novos mercados, tanto no Sudeste Asiático quanto no Oriente Médio, esse último se beneficiando de acesso a gás natural competitivo. Nossa visão é de que, no médio e longo prazo, a demanda global por aço seguirá crescendo com aumento populacional e o desenvolvimento econômico. E esse crescimento será voltado a uma produção de aço com menor pegada de carbono, o que para a Vale é muito benéfico, uma vez que continuamos a ter o minério de ferro de melhor qualidade do mundo.

Qual a importância de sua experiência internacional nesta nova etapa de sua carreira e condução da Vale nos próximos anos?

Atuei por cerca de 15 anos fora do Brasil e, com certeza, essa experiência só tem a acrescentar em minha carreira. Uma vivência internacional amplia a nossa visão de mundo e de mercado e a oportunidade de conhecer outros setores também foi algo que contribuiu muito para o profissional que sou hoje.

Uma das razões pelas quais eu decidi voltar ao Brasil é por acreditar profundamente que o que temos aqui na Vale é uma grande oportunidade, que podemos construir algo muito positivo em parceria com os Governos Federal e Estaduais. Estamos iniciando um novo capítulo e, com ele, surgem novos desafios. Precisamos acelerar nossa evolução para sermos líderes em mineração sustentável, com menor impacto ambiental, mais diálogo e conexão com os diversos setores da sociedade. Tudo isso, claro, com a entrega de resultados positivos.

Vou dedicar muito do meu tempo a construir relacionamentos com os diversos públicos, como comunidades, poder concedente e investidores. Com o Governo manteremos um diálogo construtivo e voltado a soluções sustentáveis.  Estou muito otimista com o futuro da Vale e do Brasil, pois os interesses da empresa e do país são os mesmos.  Vamos trabalhar juntos para assegurar a convergência na agenda da empresa com a agenda do Brasil.