O boom da IA, a NVIDIA e o papel do Brasil: Uma visão de dentro

O Brasil já é o 4º país que mais usa ChatGPT mundialmente. Entretanto, o país - e grande parte do mundo - têm sido espectadores, e não protagonistas.

LIDE FUTURO-300 DPI-197Gabriel Noyaestudante de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação em Stanford, na Califórnia. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)

Desde o lançamento do Chat GPT para o público na segunda metade de 2022, o mundo vem assistindo curiosamente o "boom da inteligência artificial" que vem acontecendo no Vale do Silício. Aos poucos, a ferramenta se tornou parte do cotidiano de muitos: o Brasil já é o 4º país que mais usa ChatGPT mundialmente. Mesmo assim, a imensa maioria dos avanços está concentrada em empresas como OpenAI, NVIDIA, e Meta; todas situadas a menos de 80 quilômetros uma da outra. Infelizmente, no quesito da inteligência artificial, o Brasil e grande parte do mundo têm sido espectadores, e não protagonistas.

Como estudante de engenharia da computação em Stanford e recentemente estagiário na NVIDIA, tive o privilégio de estar na linha de frente desta revolução tecnológica. E o que eu descobri trabalhando lá é que, na verdade, o estado atual dos modelos de IA representa uma fração minúscula do potencial que a empresa vê para o futuro.

E essa é a narrativa que está sendo pouco comentada atualmente. Mesmo com a imensa popularidade do Chat GPT e outras tecnologias de linguagem, o gigantesco investimento necessário para treinar cada um desses modelos ainda não se provou rentável: enquanto os atuais pesquisadores de IA "queimam" dinheiro na corrida ao ouro, a NVIDIA lucra "vendendo a pá". O próximo modelo da OpenAI, apelidado de "GPT-5”, sozinho custará mais de 7 bilhões de reais para ser treinado.

Mas mesmo para a NVIDIA, o fato dos modelos de linguagem "LLMs" não serem rentáveis apresenta um grande risco. Se não houver ouro, ninguém mais comprará pás. Por isso, a empresa planeja algo muito maior para os próximos anos: uma completa revolução de hardware.

Durante meu estágio, fiz parte de uma iniciativa na empresa que busca criar simulações ultra-realistas do mundo. O objetivo? Um mundo virtual indistinguível da realidade onde inteligências artificiais possam interagir livremente, aprendendo sobre a física do nosso mundo em uma fração do tempo que levariam no "lado de fora". Com isso, poderemos treinar robôs com um cérebro semelhante ao Chat GPT, mas que realmente entendem o mundo à sua volta.

Essa iniciativa é uma de muitas na NVIDIA que visam dominar toda a cadeia de valor da IA aplicada ao mundo físico, desde a concepção até a implementação final. No âmbito da robótica, a empresa está desenvolvendo simulações, modelos, e até mesmo o chip que armazenará o "cérebro" dos robôs. No quesito de veículos autônomos, a NVIDIA também está desenvolvendo simulações, além de um chip e conjunto de sensores capazes de transformar qualquer carro em autônomo.

E onde o Brasil se encaixa nesse cenário?

Primeiramente, com uma das maiores capacidades hidrelétricas do mundo, o Brasil pode se posicionar como um centro global de "data centers" sustentáveis. À medida que a demanda por poder computacional cresce com o desenvolvimento de IA e tecnologias avançadas, a necessidade de energia acessível e de fontes renováveis torna-se cada vez mais crucial.

A segunda parte são os materiais dos quais os robôs do futuro serão feitos. Com nossas vastas reservas de nióbio e quartzo, o Brasil já desempenha um papel crucial na cadeia global de suprimentos para a fabricação de semicondutores e chips e, com investimentos e decisões corretas, esse papel pode crescer ainda mais.

Em termos intelectuais, a crescente comunidade de desenvolvedores e pesquisadores em IA no Brasil também é um ativo valioso. Temos o talento e a criatividade necessários para contribuir significativamente para o avanço global desta tecnologia. O que precisamos agora é de investimento em educação, pesquisa e infraestrutura relacionadas à IA.

Iniciativas como o LIDE Futuro, onde a liderança das maiores empresas do Brasil se encontram, são fundamentais para essa visão. Nós nos posicionamos na vanguarda da revolução de inteligência artificial, e queremos ajudar o jovem brasileiro a protagonizar essa transição.

*Gabriel Noya faz parte do Conselho de Gestão do LIDE Futuro. Ele é estudante de engenharia elétrica e ciências da computação na Universidade de Stanford (EUA).