“Investimento de quase 3,5 bilhões nos permitiu a criação de próxima geração de medicamentos", diz Fabio Barone
Em ritmo de ascensão, laboratórios investem em tecnologia e ampliam seus portfólios com foco na produtividade.
Fabio Barone: alcançamos 19 bilhões de euros em vendas líquidas. (Foto: Divulgação)
Estudos apontam que até 2030 a estimativa é de que o setor da saúde animal – que inclui a bovinocultura, suinocultura, avicultura e aquicultura, duplique de tamanho atinja mais de 50 bilhões de euros no mundo. Neste cenário, o Brasil, reconhecido como uma potência do agronegócio, conta com importantes diferenciais competitivos, a exemplo da alta produtividade de grãos – insumo básico das rações – condições climáticas favoráveis, cadeias produtivas consolidadas, alto mérito genético nos rebanhos e protocolos de biosseguridade entre os mais confiáveis do planeta.
Isaac Ferreira de Lima Junior, zootecnista, mestre em Produção Animal e diretor estadual em Alagoas da Associação Brasileira de Zootecnistas (ABZ), ressalta que, mais do nunca, observa-se a importância na composição de equipes de perfil multidisciplinar, atuando de forma estratégica para a otimização dos recursos e para a garantia das vantagens competitivas nos mercados de concorrência global. No Brasil, estes setores representaram, em 2019, um volume de 150 mil toneladas de carne, com geração de receita de quase US$ 574 milhões, fazendo com que a exportação de carnes ocupe a 6ª posição entre os principais produtos de venda externa brasileira, segundo dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). “Seguramente, a garantia da sanidade dos rebanhos e a inocuidade dos seus produtos ao longo de toda a cadeia produtiva serão fundamentais. A sanidade animal deverá ser vista sobretudo na profilaxia, na biosseguridade dos sistemas produtivos, garantindo a qualidade do produto nacional, atrelado à preservação dos recursos e o desenvolvimento sustentável”, avalia.
No comparativo com outros países, Lima Junior garante que seguimos em ritmo de ascensão, tendo em vista que o Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina e de aves, o quarto maior de suínos e de leite. Segundo projeções da FAO, o consumo mundial aumentará 1,4% ao ano até 2024 e isso exigirá um incremento de produção de 3,8% no período, para atender a essa demanda por proteína animal. Além disso, o mercado internacional continua aquecido para a exportação, puxado pelo crescente consumo do mercado oriental, sobretudo a China.
Portfólio diversificado
Em agosto, a Elanco Saúde Animal anunciou oficialmente a finalização do processo de aquisição da Bayer Saúde Animal – transação avaliada em US$ 6,89 bilhões. Ocupando agora o posto de segunda maior empresa do segmento no mundo e terceira no Brasil, a companhia também passa a ser uma das empresas com maior portfólio de produtos do setor, dando sustentação aos negócios. “Os investimentos combinados e as linhas de pesquisa das duas empresas inserem a Elanco em posição bastante estratégica para promover inovações significativas. Porém, mais do que isso, a aquisição da Bayer Saúde Animal fortalece a nossa estratégia de Inovação, Portfólio e Produtividade (IPP)”, destaca Fernanda Hoe, diretora de Marketing da Elanco para América Latina.
No Brasil, a empresa emprega mais de 300 funcionários e dispõe de soluções inovadoras para aves, bovinos e suínos. Entre elas a vacina contra Salmonella em aves, um vasto portfólio para Integridade Intestinal de Aves e Suínos e para diversos desafios de doença e melhoria da produtividade em bovinos.
De acordo com a executiva, o pipeline de Pesquisa e Desenvolvimento da Elanco passa a ser reforçado com cinco lançamentos que virão da Bayer, elevando o total previsto para 25 até 2024, sendo que cinco deles devem ser lançados até o final de 2021. A transação também agrega novos recursos de P&D, tanto a nível global como local, incluindo plataformas inovadoras de tecnologia de dosagem e administração de medicamentos, fornecendo, ainda, direitos de acesso ao pipeline de pesquisa e desenvolvimento da Bayer Crop Science e a determinados recursos farmacêuticos clínicos.
“A aquisição da Bayer Saúde Animal fortalece a nossa estratégia”, diz Fernanda Hoe, da Elanco.
A união de portfólios complementares de animais de produção permite que a Elanco atenda um espectro amplo do setor e aproveite melhor os dados e serviços em prol dos clientes. A transação adiciona uma série de marcas-chave para bovinos, aprimora o portfólio global de bioproteção e expande a presença da empresa no segmento de aquacultura.
“Temos feito um progresso significativo nos últimos dois anos de jornada como empresa independente ao nos dedicarmos exclusivamente à saúde animal, levando em conta os impactos diretos de doenças como a Febre Suína Africana e a pandemia causada pela Covid-19. É um marco importante na jornada da Elanco, pois queremos ampliar nosso posicionamento global sobre a necessidade de melhorar a saúde dos animais, das pessoas e do planeta. A pandemia causou interrupções no fornecimento de alimentos e o desemprego está crescendo cada vez mais, bem como os desafios relacionados à segurança alimentar ao redor o mundo”, declara Jeff Simmons, presidente global e CEO da Elanco.
Maior proximidade
Já a divisão de saúde animal da alemã Boehringer Ingelheim, empresa que iniciou operações no Brasil há 35 anos, tem dado passos importantes no agronegócio nacional. Em 2017, o laboratório reforçou a relevância da divisão da empresa com a aquisição da Merial, o que a posicionou local e globalmente como uma das principais indústrias do segmento de saúde animal mundialmente.
“Em âmbito geral, alcançamos 19 bilhões de euros em vendas líquidas no ano passado, sendo que 4 bilhões de euros correspondem à área de saúde animal. Para atingirmos tais números, é fundamental que nos dediquemos à inovação, pesquisa e desenvolvimento. Por isso, em 2019, o investimento de quase 3,5 bilhões de euros em Pesquisa e Desenvolvimento nos deu suporte para seguirmos inovando e permitiu a criação de próxima geração de medicamentos que irão melhorar a qualidade de vida de humanos e animais”, salienta Fabio Barone, head da área de saúde animal da Boehringer Ingelheim.
A companhia enfatiza que investe no conceito de One Health, ou Saúde Única, em que a saúde dos animais está interligada a das pessoas em função da segurança alimentar, do convívio com os pets e da saúde pública veterinária. Para os próximos anos, a perspectiva é continuar desenvolvendo soluções que atendam às necessidades do produtor sem perder o foco no bem-estar animal e na segurança alimentar. “São estes os pilares definidos para que possamos seguir no rumo do crescimento”, destaca o executivo.
Olhando para o mercado em geral, Barone ressalta que as exportações de carne bovina podem alcançar a marca de 2 milhões de toneladas neste ano, ou seja, 7% a mais que em 2019. “A partir desses dados, prevemos um aumento na demanda nacional por nossos produtos, já que os produtores internos necessitam que seus animais estejam saudáveis para a produção e suas propriedades tenham um manejo sanitário correto. O cenário é otimista”, comemora.
Prevenção e tratamento
Com um legado de mais de 65 anos de história, a Zoetis dedica-se exclusivamente à saúde animal, oferecendo produtos que atendem médicos-veterinários, pecuaristas e proprietários de animais de produção e de animais de companhia, em mais de 120 países.
De acordo com Luis Xavier Rojas, vice-presidente sênior e diretor-presidente da Zoetis Brasil, a empresa direciona investimentos anuais em Pesquisa e Desenvolvimento que superam 450 milhões de dólares e, atualmente, é composta por mais de mil cientistas no mundo para oferecer as melhores soluções para todo o ciclo de cuidados com os animais: predizer, prevenir, diagnosticar e tratar. “Essas soluções requerem alto conhecimento por parte dos médicos-veterinários. Por isso, temos parcerias com universidades e uma equipe técnica altamente qualificada que levam conhecimento aos veterinários, para que eles possam oferecer a solução mais adequada para a saúde e o bem-estar animal”, enfatiza.
No agronegócio, a Zoetis evoluiu para a direção de cuidado contínuo, o que na opinião do executivo, oferece caminho importante para a companhia, seus clientes e o setor como um todo. “Mais do que fornecer ferramentas e recursos para o cliente tomar decisões mais lucrativas, temos uma equipe dedicada a ajudar os produtores de carne e leite a tomarem decisões mais inteligentes por meio de tecnologias que identificam precocemente os animais mais produtivos. Os testes genômicos podem construir um rebanho mais saudável e lucrativo. Isso é possível graças à tecnologia do Clarifide”, afirma.
Outro ponto que Rojas destaca é a Pecuária 4.0, que, devido à automação e ao completo controle possibilitados pela tecnologia, tornou a pecuária brasileira reconhecida mundialmente e posicionou o Brasil como um dos maiores produtores do mundo. “Lançamos recentemente o mais avançado sistema para monitoramento de vacas leiteiras, o Smartbow, que fornece ao pecuarista informações em tempo real sobre a saúde e a reprodução do rebanho. Esse é um exemplo de que estamos focados em levar inovação e tecnologia ao campo, proporcionando crescimento de produtividade intenso nas atividades”, acrescenta.
De acordo com o diretor-presidente, outros exemplos chegarão em breve ao Brasil, como o StableLab, dispositivo portátil direcionado para cavalos, que permite obter em 10 minutos medida quantitativa precisa do Soro Amilóide A (SAA). Isso fornece esclarecimento precioso em grande número de situações, tanto na clínica quanto no campo, além de vacinas, robótica e automação e um vasto portfólio de produtos e serviços altamente tecnológicos e avançados, assim como a chegada da vacina para tilápias, no Brasil, que consolida a entrada da Zoetis na aquacultura.