Elizabeth Bagley: ‘Nossos acordos são passos importantes para avançar a parceria comercial, reduzir barreiras e ajudar a promover investimentos’

Embaixadora dos EUA no Brasil retoma a relação diplomática no país após o cargo ter ficado vago por 18 meses.

52667502355_fb2bee247f_oPresidente Luiz Inácio Lula da Silva e a embaixadoraElizabeth Bagley. (Foto: Divulgação)

Após um ano e seis meses com o cargo de embaixador dos EUA no Brasil vago, Elizabeth Bagley, importante liderança do Partido Democrata, chega ao país, em fevereiro deste ano, para ocupar o posto e retomar a importante e histórica relação entre as duas nações. O novo momento diplomático reflete em setores econômicos, comerciais e políticos. Para entender melhor as perspectivas, conversamos com a embaixadora, em uma entrevista exclusiva, em que detalha projetos e ações que visam uma aproximação entre os governos.

A conteúdo completo você pode conferir na Revista LIDE, disponível a partir de amanhã (30) no nosso site: www.revistalide.com.br.

Atualmente, quais os principais acordos e projetos podem aproximar mais as duas nações no âmbito?comercial e diplomático?

Brasil e EUA têm vários mecanismos bilaterais para trabalhar em conjunto a fim de fortalecer e aprofundar nosso comércio e investimento. Por exemplo, o Protocolo ao Acordo de Cooperação Comercial e Econômica (ATEC), que entrou em vigor em fevereiro do ano passado, que é uma abordagem de "senso comum" às regras comerciais com benefícios para ambos os países. A representante de Comércio dos EUA, Katherine Tai, visitou o Brasil, agora em março deste ano, para discutir oportunidades de expandir o comércio bilateral, inclusive, por meio da ATEC. Além disso, o Diálogo Comercial, iniciado em 2006 - enquanto Lula era presidente do Brasil, nos dá uma plataforma para trabalhar em questões técnicas relacionadas a temas como propriedade intelectual, normas e avaliação de conformidade, comércio digital, e facilitação do comércio, entre outros. Outro grupo importante é o U.S.-Brazil CEO Forum, que reúne CEOs das principais empresas norte-americanas e brasileiras para desenvolver recomendações políticas conjuntas sobre formas de aumentar o comércio entre os países e os investimentos e, em seguida, trabalhar com os governos para engajamento. Em 2022, o Brasil e os EUA assinaram um Acordo de Reconhecimento Mútuo de Operador Econômico Autorizado, que ajuda a facilitar e acelerar o comércio e as viagens, e os brasileiros agora também podem participar do programa Global Entry, que descomplica as viagens de negócios. Nossos acordos, como o ATEC, são passos importantes para avançar a parceria comercial, reduzir barreiras e ajudar a promover investimentos, e estamos trabalhando para expandir esses compromissos para incorporar novas áreas.?É importante ressaltar que 80% dos setores de comércio bilateral tiveram um aumento no ano passado, um sinal de crescimento maduro e de potencial impressionante em nosso relacionamento. Procuramos novas oportunidades em setores-chave, tais como saúde, agricultura sustentável, energia limpa, manufatura avançada, semicondutores e outras áreas de crescimento onde tanto o Brasil quanto os EUA trazem capacidades únicas para a mesa.

O Brasil deve ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU? Qual sua opinião sobre uma eventual reforma do órgão?

Em fevereiro deste ano, quando os presidentes Biden e Lula se reuniram na Casa Branca, ambos os lados afirmaram a intenção de fortalecer nossa cooperação em instituições multilaterais, particularmente no contexto da próxima presidência brasileira do G20. Também pretendemos trabalhar juntos para uma reforma significativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas, como a expansão do órgão para incluir assentos permanentes para países da África e da América Latina e Caribe, a fim de sermos mais representativos do quadro mais amplo de membros da ONU e aumentar sua capacidade de tratar de questões de paz e segurança global. Esperamos que novas conversas sobre essa questão ocorram nos próximos meses.

Na sua opinião, qual o papel para o Brasil e para o Presidente Lula em relação a busca pela paz na Ucrânia e a Rússia?

A guerra injustificada da Rússia contra a Ucrânia exige nossa ação coletiva. Todas as nações podem contribuir para trazer uma paz justa e duradoura e um fim às hostilidades.?A voz do Brasil é importante. O Brasil, com assento no Conselho de Segurança da ONU, pode desempenhar papel significativo com outras nações democráticas, por meio de votações e se posicionando contra este tipo de agressão. Assim como os EUA, o Brasil aspira a defender os princípios da Carta das Nações Unidas, bem como os valores profundamente enraizados dos direitos humanos e da não-agressão. A violência russa no conflito, ameaçou estes valores, e nós encorajamos todos os países democráticos a levantar sua voz em defesa de nossos princípios comuns. Apreciamos que o Brasil tem demonstrado sua generosidade ao receber refugiados da Venezuela, do Afeganistão e, mais recentemente, da Ucrânia, pessoas que procuram escapar da miséria e da guerra.
Ressaltamos a importância de todos os países usarem sua influência com o Kremlin para que Putin retire suas forças do território ucraniano. Entendemos que o presidente Lula está desenvolvendo uma proposta, e saudamos quaisquer esforços genuínos em direção à paz. Somos claros sobre o fato de que a Rússia continua sendo o único obstáculo à paz na Ucrânia, e continuamos comprometidos com um princípio fundamental – os problemas da Ucrânia não podem ser solucionados sem a Ucrânia. Qualquer proposta de paz, primordialmente, deve envolver os ucranianos.

Em quais projetos e ações sociais e educativas a embaixada norte-americana tem atuado?

A Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil oferecem, nos dois países, vários programas que unem nossos dois povos e constroem laços duradouros. Em 2021, por exemplo, mais de 33 mil brasileiros estudaram, treinaram ou participaram de programas de intercâmbio nos EUA, tornando o Brasil o quinto país que mais manda estudantes e intercambistas para o nosso país. Cerca de 1,7 mil pessoas participam, ano após ano, de programas de diplomacia pública no Brasil financiados pelo governo dos EUA. Nossas equipes trabalham com governos estaduais, universidades, Institutos Federais, centros binacionais e outras instituições em apoio às iniciativas de ensino e aprendizagem da língua inglesa. Anualmente, compartilhamos técnicas de ensino de inglês com centenas de professores brasileiros, além de executar programas de língua inglesa para estudantes do ensino médio, jovens profissionais e empresários, ativistas e acadêmicos afro-brasileiros e indígenas. Isso reforça que a educação é um dos pilares mais fortes de nosso relacionamento.

A senhora atuou como representante especial na Assembleia Geral das Nações Unidas, representante especial para Parcerias Globais e embaixadora dos Estados Unidos em Portugal? Fale sobre a importância dessa experiência?

Como primeira embaixadora dos EUA em Portugal, meu papel foi importante para demonstrar o compromisso dos EUA com a liderança das mulheres, e estou orgulhosa do trabalho que fizemos para fortalecer o relacionamento bilateral. Durante minha atuação no Departamento de Estado, em várias funções importantes e de alto nível, fui encarregada de lidar com questões globais e como conselheira de confiança de três secretárias de Estado. Essas foram experiências memoráveis, pelas quais sou grata. E o cargo de embaixadora em Portugal, foi meu primeiro contato com o Brasil, período em que alguns dos meus vizinhos brasileiros se tornaram meus melhores amigos, e foi a partir dessa convivência que comecei a aprender sobre música brasileira, comida, o espírito de grande energia, e tantas coisas que agora estou aprendendo a apreciar.