Alessandra Elia, da Montblanc: 'A geração Z quer expressar seus pensamentos em papéis'
Para a diretora da divisão de canetas da Montblanc, Alessandra Elia, a pandemia ensinou que as novas gerações gostam da liberdade de escrever à mão, e por isso a autenticidade analógica está no topo da lista dos desejos.
Diretora da divisão de canetas da Montblanc, Alessandra Elia.
Montblanc escolheu a primavera, quando as árvores florescem e os prados ficam verdes, para fazer o lançamento mais aguardado dos últimos cinco anos, a sua Montblanc Haus, em Hamburgo, na Alemanha. O lugar, uma espécie de museu, conta a história da Montblanc desde a sua fundação. Robb Report Brasil estava entre os convidados de vários países. No jantar de lançamento, a diretora da divisão de canetas, Alessandra Elia, sentou-se ao meu lado e contou histórias sobre a marca. A conversa se estendeu no dia seguinte no Hotel Fontenay. A divisão de canetas e cultura da escrita da Montblanc tem sido o coração da marca desde sua fundação em 1906.
Há quatro anos na maison alemã, Alessandra Elia, que veio da área de beleza, mergulhou no fabuloso universo da escrita e das canetas. “Tem sido uma jornada fantástica”, diz a executiva. “É diferente com o mundo da moda ou com o mundo da beleza (de onde eu vim). Nesses mercados, você pensa o agora: quais são as próximas coleções, estações. Aqui, tenho que entender tudo o que foi feito antes. É indescritível o amor e a conexão que os colecionadores têm com a marca. Quando os encontro digo: ‘Aumentem meu conhecimento’. Sigo estudando, visitando colegas, conversando com artistas e aprendendo.” A seguir, sua entrevista.
Qual é o maior desafio em sua área?
A escrita é o centro de tudo o que fazemos. Assim tem sido historicamente na Montblanc. Há mais de 100 anos, começamos a escrever com nossos ancestrais. Este legado é nossa responsabilidade. Não apenas porque é Montblanc. É uma responsabilidade para o patrimônio da escrita, globalmente. Nós somos a maior marca, líder de mercado, e temos que continuar o legado da escrita. Temos mais de 100 anos de história e precisamos de surpresas constantes. Já tivemos no universo das canetas várias edições, nomes homenageados, e isso tem sido cada vez mais desafiador.
Nosso desafio é manter a inovação. E é difícil quando se tem tantos anos de história. Queremos manter nossos clientes, mas também conversar com as gerações mais jovens. Falando em tecnologia, as pessoas dizem: “Você não está preocupado com a tecnologia e o significado da escrita?”. Com o mundo digital, quando você digita algo, isso absorve a sua energia. Éum mundo falso. Não estou criticando o mundo moderno. Há coisas positivas, mas ele “filtra” a realidade. Não é autêntico. As gerações mais jovens querem momentos puros e analógicos e desfrutam da experiência com autenticidade.
O tempo importa. Para mim, é uma definição de luxo hoje. O mercado decanetas no mundo cresceu. Na pandemia, as pessoas tinham que se expressar de uma forma libertadora. Era um desafio para nós estarmos trancados em casa, não podendo estar com as pessoas. Portanto, o gesto de escrever era tão autêntico que não havia filtro no que se pensava. Se você estava feliz ou estressado, estava escrevendo. Essa noção de autenticidade é exat amente o que a geração Z quer. A autenticidade vem no topo da lista. E expressar seus pensamentos em papéis.
Autenticidade analógica está no topo da lista dos desejos.
Como foi sua jornada na Montblanc?
Já estive em muitas empresas, mas pela primeira vez a “curva de aprendizado” é muito profunda. Os primeiros anos na Montblanc são sobre aprender e depois quando você entende o que estamos fazendo, o que os clientes querem, qual é a nossa experiência, depois, disso a magia começa. Porque você sente que está contribuindo, trazendo as ideias certas.
É um erro um líder entrar numa empresa e desde o primeiro dia dizer: “Devemos fazer isto e aquilo.” Eu não gosto, porque você ainda não entende, e precisa ser humilde, respeitar o trabalho das pessoas que estão lá há 30 anos que definitivamente sabem muito sobre a Montblanc. Mas, claro, você tem o desafio de trazer novas ideias, “ar fresco” e, portanto, dar vida a isso tem sido um exercício interessante. É preciso preservar a herança, o passado e trazer uma nova visão, gradualmente remodelando a marca.
É uma jornada e agora estou na melhor parte. Depois de quatro anos, estou colhendo os frutos do trabalho duro, do sucesso com a equipe que construímos. Tivemos um lançamento excepcional.... Nossos lançamentos estão esgotados, atingimos recordes. Estamos trabalhando para o futuro, mas celebrando os resultados do presente.
A Montblanc Haus exibiu a exposição Patrono das Artes. Em 2022, comemoram-se 30 anos desta coleção. Qual será a próxima?
Estamos celebrando 30 anos de Patrono das Artes mas também envolvidos em um novo conceito. As artes e a cultura são as raízes do que somos. Essa coleção foi a joia de todas as nossas coleções, mas precisa de um fim para que o valor da coleção aumente. Uma sugestão é fazer novas coleções com artistas. Nós ainda não temos, trata-se de “patrono” e não de artista. Então, pensamos: por que não envolver isto na arte?
Artista/ arte contemporânea/ arquitetura/ artes visuais. Está no DNA, mas não tínhamos a coleção certa para expressar. Então, estamos mudando o Patrono das Artes para Mestre das Artes. É também sobre as “peças de edição limitada” que fazemos. Sobre o Patrono das Artes, temos as 4.010 peças porque é o alto da Montblanc e também temos as 888 peças porque é um número de sorte. Estas duas coleções são tão históricas. Os números contam a história. A próxima edição será no próximo ano. A exposição temporária (Patrono das artes Victoria and Albert Edition) está viajando pelo mundo. Acabamos de fazer um evento incrível no Victoria and Albert Museum, em Londres.
Qual é a importância do desenvolvimento de peças de escrita instrumental, de edição limitada, dedicadas a colecionadores?
Tem que durar para sempre. Não se trata do que está na moda agora. Têm que ser peças icônicas. Os colecionadores são apaixonados pelo artesanato (handmade) que trazemos. Há aspectos técnicos e valores intrínsecos do material e das pedras.