Floresta tecnológica
Como o novo Museu de Ciências da Amazônia vai transformar a pacata cidade de Belterra — a “cidade de Henry Ford”, no Pará — em um polo de biotecnologia e sustentabilidade.
O MuCA, com estrutura de Gino Caldatto Barbosa e interior de Arthur Casas.
Na região do Baixo Amazonas, no Pará, às margens do longo Rio Tapajós, encontram-se cenários e histórias pouco conhecidos no Brasil. Com cerca de 17 mil habitantes, a pacata Belterra também é comumente conhecida como a “cidade de Henry Ford”, pois foi neste local que o negócio do revolucionário do setor automobilístico pousou em 1920 e construiu aos poucos um império em busca de recursos naturais para produzir e exportar látex para fábricas de pneu nos Estados Unidos – que durou apenas até meados de 1940.
A cidade, que carrega em sua história um símbolo da máxima exploração da Floresta Amazônica, inicia uma nova fase com a abertura do Museu de Ciências da Amazônia (MuCA), idealizado pelo empreendedor de bioeconomia Luiz Felipe Moura, pretendendo ser um novo símbolo do desenvolvimento da região em colaboração e em prol da comunidade local.
O projeto, que tem estrutura criada por Gino Caldatto Barbosa e o interior assinado por Arthur Casas, toma corpo com um museu vivo na selva — sendo considerado o primeiro laboratório de ciência avançada da Floresta Amazônica — em uma iniciativa voltada para a pesquisa e a preservação da biodiversidade nativa. O complexo do MuCA ainda conta com laboratórios, áreas expositivas, espaços de educação e cultura, sala de cinema, além de uma ala voltada à valorização do ecoturismo e da gastronomia regional, com hospedagem, bar e restaurante.
Com grandes apoiadores e órgãos públicos, o MuCA atraiu a atenção da Amyris, empresa americana de biotecnologia e líder global em beleza limpa e sustentável, para fomentar o desenvolvimento de novos ingredientes e fortalecer a ponte com a indústria.
Camila Farnezi, diretora da Biossance na América Latina: conservar o ambiente para prosperar.
Pela convivência harmônica
Investindo em tecnologia para criar alternativas que garantam uma convivência mais harmônica com a natureza, por meio de uma série de ingredientes limpos, a Amyris foi fundada em 2003 por cientistas da Universidade de Berkeley, na Califórnia, e foi a responsável por descobrir uma alternativa sustentável para a cura da malária após investimento da Fundação Bill & Melinda Gates. Atualmente, a biotech conta com marcas como Biossance, Rose Inc e Costa Brazil em seu portfólio.
Camila Farnezi, responsável pelo desenvolvimento de produtos na Amyris e diretora América Latina de Biossance e Rose Inc, acredita fortemente em como a ciência e a tecnologia podem ser aliadas do
meio ambiente, inclusive evitando a extração em grande escala e consequentemente o desequilíbrio da natureza através da reprodução de moléculas bioidênticas de animais, plantas e microorganismos locais.
Um exemplo desse raciocínio é o esqualano, uma molécula derivada da cana-de-açúcar brasileira desenvolvida e patenteada pela Amyris que substitui o esqualeno – que até então era extraído do fígado dos tubarões matando mais de 2 milhões destes animais por ano para suprir as necessidades da indústria cosmética.
Produtos à base de esqualano, molécula derivada da canade-açúcar brasileira.
Plataforma de oportunidades
Farnezi se envolveu com o projeto do MuCA não apenas pela empresa como também pessoalmente, tornando-se uma das conselheiras da iniciativa. “O Museu de Ciências da Amazônia tem a missão de assumir responsabilidades com a comunidade do Tapajós focadas na educação e apoiadas pela bioeconomia e biodiversidade amazônica, pilares fundamentais que
apoiam projetos verdes do museu e atuam dentro de princípios ESG. O MuCA defende a aplicação prática desses princípios e se consolida como uma plataforma de oportunidades para a iniciativa privada atuar em concordância com essas diretrizes no território de maior biodiversidade do planeta”, comenta Farnezi.
“É evidente que podemos e devemos aliar conservação ambiental e prosperidade econômica. E não há lugar melhor no planeta para testar a capacidade dessa indústria e proteger nossos recursos
naturais do que a Floresta Amazônica“, finaliza.
A floresta cerca o laboratório de ciência avançada.