'O Brasil é uma potência e vai seguir crescendo', diz Miguel Goulart, CEO da BRF

Na liderança de 100 mil funcionários, executivo explica como a BRF se prepara para crescer no mercado global de proteínas.

miguel goulartNa liderança de 100 mil funcionários, Miguel Goulart explica como a BRF se prepara para crescer no mercado global de proteínas. (Foto: Divulgação)

Em setembro de 2022, a BRF, gigante da indústria alimentícia e dona das marcas Sadia e Perdigão, anunciou uma mudança importante: a chegada de Miguel Goulart ao cargo de CEO. Veterinário de formação, Goulart já passou por empresas como Minerva e JBS, além de ter liderado a Marfrig antes de assumir o comando da BRF. Com uma trajetória impressionante e um olhar atento ao futuro da indústria de proteínas, ele compartilhou sua visão sobre desafios, inovações e oportunidades do setor.

A demanda por proteínas ainda é maior do que a oferta?

Isso é mais válido do que nunca. Em um setor onde a demanda supera a oferta, as empresas trabalham com a segurança de que venderão o que produzem. Com o consumo voltando ao normal e a inflação em níveis controlados, a tendência é que as famílias destinem mais recursos para a alimentação, o que fortalece nosso mercado.

O mercado de exportação mudou nos últimos anos?

Com certeza. A China, por exemplo, passou de um comprador secundário para o principal importador de proteínas no mundo. Hoje, 32% da carne bovina importada globalmente vai para a China, e o frango segue um caminho semelhante. Ainda há muito espaço para crescer nesse mercado, pois o consumo per capita chinês de carne bovina e de frango é bem inferior ao de carne suína.

O que torna a carne brasileira tão reconhecida mundialmente?

O Brasil tem vantagens naturais: solo, clima favorável e uma vocação para a pecuária. Além disso, temos uma produção de grãos competitiva, o que nos permite oferecer proteína animal de qualidade a custos mais baixos. A combinação desses fatores faz do Brasil uma potência global na produção de carne.

A BRF tem mais de 100 mil funcionários. Como é o treinamento dessa equipe?

Investimos fortemente na qualificação das pessoas. Em 2023, realizamos mais de 6 milhões de horas de treinamento e capacitamos 8 mil líderes. Os treinamentos acontecem tanto presencialmente quanto online, e temos até uma universidade interna na BRF. A qualificação é essencial, porque nossa produção depende não só de máquinas, mas de pessoas bem preparadas.

Como é liderar uma equipe de 100 mil pessoas?

É um trabalho de equipe. A BRF tem um conselho de administração altamente qualificado e executivos experientes para transformar a estratégia em prática. Nosso modelo de gestão é baseado em melhoria contínua, monitorando indicadores de desempenho e garantindo que cada processo seja eficiente e bem executado.

O que você valoriza em um profissional que deseja crescer na BRF?

Ambição, preparo e disposição para aceitar desafios. Valorizamos profissionais que buscam crescimento, que respeitam os valores da empresa e que têm visão de longo prazo.

Como um veterinário de Bagé chegou a CEO de uma das maiores empresas do Brasil?

Foi um caminho improvável, mas que trilhei com dedicação. Sempre respeitei meus valores, trabalhei duro e busquei aprender constantemente. Acredito que o esforço contínuo e a capacidade de adaptação foram fundamentais para minha trajetória.

Como a BRF se prepara para a alta demanda do fim de ano?

Nosso quarto trimestre é uma maratona. Faturamos mais de R$ 15 bilhões nesse período e temos 57% do mercado de produtos natalinos. Para dar conta da demanda, montamos milhões de kits e reforçamos nossa equipe temporariamente.

A automação está transformando a indústria de alimentos?

Sim, mas a mão de obra humana continua essencial. A automação melhora processos, mas as pessoas ainda são indispensáveis para garantir qualidade e eficiência. Nosso desafio é equilibrar tecnologia e trabalho humano para obter os melhores resultados.

Como a inteligência artificial está sendo aplicada na BRF?

A inteligência artificial já faz parte do nosso dia a dia. Trabalhamos com modelos preditivos para precificação, logística e até gestão de pessoas. O desafio é saber usar essas ferramentas da forma mais eficiente para o nosso setor.

A demanda por alimentos mais saudáveis influencia a BRF?

Sem dúvida. O consumidor de hoje busca informações nutricionais detalhadas e quer transparência. Temos um compromisso com qualidade e rastreabilidade, garantindo que nossos produtos atendam às exigências do mercado.

O que você diria para os jovens que estão começando no mercado de trabalho?

Persistência, disciplina e disposição para aprender são fundamentais. Além disso, liderar pelo exemplo faz toda a diferença. A maneira como você trata os outros e encara os desafios define sua trajetória profissional.