Nova virada no futebol pode ser transformação de clubes em empresas

Projeto aprovado pela Câmara e pelo Senado autoriza que entidades captem recursos no mercado como sociedades anônimas.

congresso_nacional_0Projeto aprovado pela Câmara e pelo Senado autoriza que entidades captem recursos. (Foto: Agência Brasil)

Muitos clubes de futebol no Brasil enfrentam problemas administrativos que comprometem o desempenho dentro e fora do campo. Dívidas altas, disputas políticas entre grupos internos e falhas de gestão e governança provocam, em casos extremos, até o encerramento das atividades. Para tentar reverter esse quadro ruim que atinge grande parte das agremiações esportivas, uma das alternativas é transformar os clubes em empresas. 

Para isso, um projeto de lei foi aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, e sancionado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. A nova lei cria o Sistema de Futebol Brasileiro, com a tipificação da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), e estabelece normas de governança, controle e transparência. A nova lei foi publicada no Diário Oficial da União, em 9 de agosto, e já está em vigor. 

“A partir do momento em que o clube se transforma em empresa, é possível haver um planejamento administrativo de médio e longo prazo”, explica Gustavo Hazan, gerente sênior para Mercado Esportivo da EY. A consultoria, uma das maiores do mundo, fez um estudo global sobre a transformação de clubes de futebol em empresas, com o objetivo de melhorar a administração das agremiações, atrair investidores, melhorar a situação financeira e, por consequência, o desempenho como um todo, dentro e fora dos gramados.

O estudo da EY se baseia na experiência da Europa, onde mais de 90% dos clubes das maiores ligas de futebol deixaram de ser apenas associações esportivas, muitas vezes com estatutos antiquados e desentendimento de grupos de sócios, para se transformarem em empresas. Nesse modelo, a gestão é profissionalizada e o time passa a ser uma sociedade anônima, com a possibilidade de atrair investidores de pequeno, médio e grande porte. 

Segundo o levantamento da EY, os clubes-empresas europeus tiveram um aumento significativo de suas receitas, passando de 600 milhões de euros por ano, na década de 1990, para até 5,8 bilhões de euros por ano atualmente. Os investidores, na maior parte das vezes, são os próprios empresários dos países, americanos ou chineses.

“Hoje em dia, 95% dos clubes brasileiros estão endividados. A transformação em um modelo profissional pode ser uma oportunidade para captação de recursos financeiros, estabilidade na gestão, menor interferência política e visão de longo prazo”, diz Hazan. “Com mais recursos, o clube pode investir nas suas atividades, como melhoria da infraestrutura, elenco e pagamento das dívidas”, completa o consultor. 

O projeto aprovado no legislativo federal e sancionado pelo presidente é de autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (Democratas-MG). De acordo com a proposta, caso seja aprovada pelo clube em questão, todos os bens e direitos são transferidos para a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), que poderá emitir títulos no mercado. Hoje em dia, os clubes de futebol são classificados como uma associação civil sem fins lucrativos. Esses títulos deverão ser registrados em entidades autorizadas pelo Banco Central. 

Em relação às dívidas, elas não serão repassadas às empresas e permanecem em nome dos clubes. Isso evita, por exemplo, o não pagamento de salários de jogadores e funcionários porque o dinheiro foi penhorado por algum credor. Os credores, porém, vão ter direito a 20% do arrecadado pela SAF. 

“Pode ser um pontapé inicial interessante para uma transformação da indústria do futebol”, afirma o diretor executivo para Mercado Esportivo da EY, Pedro Daniel, sobre o projeto da SAF. A EY já presta consultoria para clubes interessados em se transformarem em empresas, como o Cruzeiro Esporte Clube e o América-MG, ambos de Minas Gerais.

 “Uma das premissas da nossa administração é construir um novo Cruzeiro a partir de uma gestão amplamente profissional. Temos analisado e debatido com muita seriedade essa pauta do clube-empresa”, diz o presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues, em texto publicado no site do tradicional clube mineiro. 

(Fonte: Agência EY)