O que está por trás do “quiet ambition”: por que profissionais recusam promoções?
Os pesquisadores Tatiana Iwai e Gustavo M. Tavares analisam o conceito de “Worries About Leadership” ou, na tradução, “preocupações sobre liderar”, e seus impactos na carreira, especialmente para mulheres.
Receio de ocupar posições de maior responsabilidade é resumido no conceito “Worries About Leadership” (WAL). (Foto: Freepik)
Por muito tempo, subir na hierarquia corporativa era visto como o caminho natural para um grande número de profissionais. No entanto, um novo fenômeno tem chamado a atenção dos pesquisadores: o crescente número de pessoas que, apesar de possuírem as qualificações necessárias, evitam assumir posições de destaque na empresa.
O receio de ocupar posições de maior responsabilidade foi resumido no conceito “Worries About Leadership” (WAL), que reflete as preocupações dos colaboradores com os possíveis efeitos negativos de uma promoção para um cargo de liderança.
Os pesquisadores Tatiana Iwai e Gustavo M. Tavares, do Insper, aprofundaram essa análise no artigo “Worries about leadership: Examining the role of career stage, gender, and personal resources”, publicado no primeiro semestre na European Management Review.
Nele, os dois pesquisadores examinam o WAL a partir de duas das principais preocupações sobre liderança: o receio de falhar ou não estar pronto para a posição de liderança e o receio do desequilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho. No estudo, a análise é feita levando em conta diferentes estágios da carreira e a percepção do profissional em relação às suas qualificações para assumir uma posição de liderança. Esse aspecto é analisado também na dimensão de gênero, flexionando esse aspecto com o estágio da carreira, os recursos pessoais e profissionais e o WAL.
Por meio de uma amostra heterogênea de quase 500 profissionais de diferentes níveis hierárquicos, o artigo mostra um declínio no receio de falhar à medida que os indivíduos avançam em suas carreiras. Essa queda é observada entre homens e mulheres. “Conforme a pessoa vai ascendendo, ela vai desenvolvendo maior percepção de autoeficácia e tem menos medo de falhar numa eventual próxima promoção. Isso porque, ao acumular progressivamente mais repertório e experiências à medida que avança na carreira, o profissional vai se sentindo mais seguro e pronto para desafios de maior complexidade. Assim, podemos dizer que essa preocupação é mais temporária”, afirma Iwai.
O artigo mostra também que “para os participantes com alta percepção de recursos pessoais, não houve diferença de gênero em termos de receio de falhar”. Esse aspecto está em consonância “com estudos que indicam que as mulheres precisam de mais qualificações para se sentirem preparadas para se candidatarem a um emprego do que os homens”, conforme explica Gustavo Tavares.
Uma maneira de lidar com essa questão, de acordo com o pesquisador, é alocar esses profissionais em funções e experiências que lhes permitam adquirir novas habilidades para ocupar posições de liderança.