Isolamento social ampliou a ética profissional
Flexibilidade moral diante de dilemas éticos reduziu, mas cenário ainda mostra que é preciso apostar na manutenção de um ambiente saudável para que os profissionais.
Pesquisa ouviu profissionais de diferentes níveis hierárquicos de 78 empresas. (Foto: Unsplash)
A pesquisa bienal (2021-2022) “Perfil Ético dos Profissionais das Corporações Brasileiras”, realizada pela Aliant, empresa especializada em soluções completas para Ética, Compliance, ESG, Governança e Privacidade, e que faz parte da holding ICTS, aponta que o profissional brasileiro está mais ético diante de dilemas morais, como subornos, confiabilidade de informações, gratificações indevidas, conivência com atos antiéticos e posicionamento frente a erros, entre outros.
O estudo, que contou com a análise do grau de flexibilidade moral de 3.240 profissionais de diferentes níveis hierárquicos de 78 empresas, mostra um crescimento do perfil flexível, ou seja, aquele que não demonstra um comportamento ético por convicção, mas que, se influenciado de forma positiva, tende a ter condutas na direção da conformidade e da ética. Este grupo representa 82,4% dos profissionais pesquisados. Se comparada à pesquisa divulgada em 2019, referente aos anos de 2017 e 2018, houve um aumento de 10 pontos percentuais desse perfil.
De acordo com Mauricio Fiss, diretor executivo da Aliant, os profissionais que apresentam média flexibilidade moral são influenciados por elementos externos, sejam eles fatores circunstanciais ou presentes no ambiente, mas não necessariamente representam grandes riscos. “Eles poderão ser lapidados positivamente se houver reforços de transparência, integridade, responsabilidade e respeito”, explica.
Na análise, é possível afirmar que o crescente número de programas de Compliance somado aos efeitos da pandemia podem ter refletido, de alguma forma, na percepção dos profissionais no sentido de risco compartilhado. O indicador teve esse reflexo em função dos profissionais passarem por uma transição que reforça deixar de pensar unicamente em seu resguardo individual para se perceberem responsáveis importantes pela sustentabilidade do negócio e pela manutenção de um ambiente saudável e ético.
“Trabalhar em isolamento foi um gatilho para que profissionais refletissem sobre propósito e ressignificação com suas atividades, além do legado que desejam construir e deixar por onde passam. Impactos emocionais e psicológicos devido ao isolamento desencadearam uma crescente busca por autoconhecimento, fazendo com que os indivíduos olhassem mais para dentro de si e revisitassem objetivos e valores pessoais, o que os levou a analisar a cultura do ambiente em que querem dedicar o seu tempo e sua atividade laboral, desencadeando uma relação mais afetiva com o trabalho”, explica Fiss.
Neste cenário, torna-se ainda mais relevante as empresas disseminarem sua cultura, além de treinamentos periódicos de Compliance e Código de conduta, visto que a pesquisa revela uma crescente percepção e preocupação dos profissionais em estarem aderentes às leis e às regras do meio em que atuam.
Quando analisada a percepção moral para aceitar e oferecer ilícitos, um sinal vermelho se acendeu nesta edição da pesquisa. Enquanto nos anos de 2019 e 2021 o perfil “predador”, ou seja, aquele que desconhece os limites, não existia, mantendo apenas percentuais de média e baixa flexibilidade, em 2023 foi considerado que 7% dos entrevistados apresentam baixa flexibilidade moral. Esse resultado pode ter ocorrido em função de novas empresas participantes da pesquisa e que ainda não desenvolveram um programa de compliance estruturado, concentrando um volume de respondentes que ainda não estão totalmente alinhados aos princípios éticos da sua organização. O mesmo ocorre na análise da apropriação indébita, que registrou 3% no indicador deste estudo, enquanto nas duas últimas edições este perfil era inexistente.
A convivência com atos antiéticos ou irregulares foi outro cenário que apresenta aumento no perfil de baixa flexibilidade moral, atingindo 9% dos entrevistados. Já as gratificações indevidas, ou seja, a exposição de dar ou receber presentes e gratificações, teve um salto para a baixa flexibilidade moral, saindo de 46% na edição da pesquisa de 2021 para 60,4% nesta versão atual.
De acordo com Fiss, neste último estudo houve o surgimento de dois extremos: de um lado o importante avanço de 10 pontos percentuais na percepção ética média do profissional brasileiro e, no outro, uma retomada do perfil “predador”, que havia praticamente desaparecido do estudo anterior.
“Podemos somente tentar adivinhar o real motivo destes extremos, mas os números mostram que o brasileiro médio, no seu ambiente de trabalho, se mostra mais ético e transparente em relação aos potenciais conflitos que é exposto diariamente, enquanto aquele de perfil de maior risco voltou às organizações, talvez devido à dificuldade de se realizar uma boa entrevista de seleção de forma remota ou mesmo pela barreira que o trabalho remoto cria para transmitir ao novo colaborador a cultura ética da empresa construída ao longo dos anos”, comenta Fiss.
Ainda de acordo com o executivo, isso comprova que um processo de recrutamento e seleção que leva em conta o perfil ético, assim como a comunicação e a implantação da ética corporativa para os novos colaboradores, é a maneira mais eficaz de evitar os riscos e as fraudes.