"A L’Oréal tem a meta de se tornar a Beauty Tech número um do mundo", diz An Verhulst-Santos

Em tempos de revisão de valores empresariais, presidente da L´Oréal Brasil desde 2017, lidera um time inclusivo e voltado ao futuro.

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An Verhulst-Santos lidera um time inclusivo e voltado ao futuro. (Foto: Divulgação)

An Verhulst-Santos iniciou sua carreira na L´Oréal em 1991, na Divisão de Produtos Profissionais (salões de beleza) da LOréal na Bélgica, seu país de origem. Entre 2005 e 2009, a executiva fez um trabalho exemplar como diretora da DPP no Brasil e lançou o projeto “Cabeleireiros contra Aids” — programa mundial de educação preventiva da L’Oréal em parceria com a UNESCO para promover saúde e conter a doença.

De 2009 a 2011, An presidiu essa mesma divisão de negócios nos Estados Unidos. Lá, trabalhou na integração do projeto SalonCentric’s, operação de distribuição de produtos profissionais da L´Oréal USA. Nos cinco anos seguintes, ela participou do Comitê Executivo do Grupo LOréal como Presidente da DPP, reportando diretamente ao CEO e Chairman Jean-Paul Agon. Ao atuar fortemente na aquisição das marcas de cosméticos profissionais Decléor e Carita, bem como as integrações, a executiva foi uma das responsáveis por fazer da divisão um player global no mercado de beleza profissional, tendo continuamente ganhado participação de mercado nos últimos anos.

No Brasil desde 2017, An Verhulst-Santos conduz uma equipe com cerca de 3 mil colaboradores, todos ávidos por valorizar uma marca que vai além de seus produtos, já que possui um papel único na nova maneira de se fazer negócios no mundo. A seguir, a presidente da L´Oréal Brasil fala dos desafios e conquistas da empresa, principalmente no âmbito social e da sustentabilidade e como tem atuado no combate à Covid-19.

Quais as principais ações da empresa no apoio aos funcionários e parceiros durante a pandemia do novo coronavírus e no próprio combate à doença?

An Verhulst-Santos: Como a empresa número 1 de beleza do mundo, a L´Oréal tem a responsabilidade de contribuir com o esforço coletivo no combate ao novo coronavírus. Desde o início, a nossa prioridade sempre foi a proteção dos colaboradores e a solidariedade com nossos parceiros e sociedade. Por isso, iniciamos de maneira voluntária o trabalho remoto para colaboradores cuja função permita. Para as demais posições, implementamos medidas de saúde e segurança em todas as unidades e reforçamos a importância das recomendações de higiene das autoridades.

Como forma de reforçar a parceria nesse momento desafiador, pensamos na proteção de nossos parceiros. Como exemplo, o lançamento do projeto de suporte aos salões de beleza que estão passando por dificuldades neste período. Eles são parte fundamental do nosso negócio e fazem parte da história de L’Oréal desde a criação da empresa. Para apoiá-los, a nossa divisão de Produtos Profissionais lançou o Movimento Beleza Amiga #juntospelosalao. O intuito é minimizar os impactos econômicos e manter os negócios do mercado da beleza profissional em funcionamento após o fim do isolamento social. Por meio do site www.belezaamiga.com.br, é possível comprar vouchers de R$ 50 que serão abatidos do valor final de serviços prestados por salões de beleza cadastrados quando eles reabrirem e que poderão ser utilizados até 31 de dezembro de 2020.

Ouvimos nossos parceiros, como ONGs e associações, para entender as necessidades das populações que vivem em comunidades carentes. Dessa maneira, estamos doando mais de 750 mil unidades de álcool gel e outros produtos de higiene, que irão beneficiar mais de 200 comunidades e 80 hospitais públicos.

REVISTA LIDE: Há três anos à frente da empresa, quais os principais resultados de sua gestão no Brasil?

O Brasil é um mercado desafiador, mas ao mesmo tempo repleto de oportunidades. Isso me trouxe um grande ensino: a capacidade de me adaptar em um contexto movente.

Nestes três anos, aceleramos as nossas inovações, as nossas ações de sustentabilidade e temos trabalhado na transformação digitalização da companhia. Tivemos dezenas de lançamentos, muitos deles desenvolvidos no nosso Centro de Pesquisa & Inovação.

No segmento capilar, do qual o Brasil é o quarto maior mercado do mundo, lançamos novas franquias de Elseve, marca de L’Oréal Paris, incluindo Longo dos Sonhos, que é um sucesso. Reforçamos a nossa liderança em coloração com Cor & Ton, da nossa marca Niely, líder de mercado em volume há 11 anos. Nossa divisão de cosmética ativa também é líder de categoria no mercado de skincare. Na divisão de produtos profissionais, reforçamos a parceria histórica com salões e profissionais e aceleramos coloração (com INOA e Majirel em L’Oréal Professionnel e Shades EQ de Redken). Aceleramos também a nossa divisão de luxo, que tem um crescimento acima do mercado seletivo.

Qual é o processo e a importância da área de P&D em uma empresa como a LOréal? Vocês investem na própria formação dos profissionais internos?

A inovação está no coração da L’Oréal. No que diz respeito à beleza, as mulheres brasileiras estão entre as mais exigentes do mundo. Se conseguirmos satisfazer às suas necessidades, conseguiremos satisfazer qualquer consumidor do planeta. Essa importância da beleza para as brasileiras e a diversidade étnica e cultural fazem com que o Brasil seja um laboratório a céu aberto e desempenha papel importante no mercado de cosméticos.

No Brasil, investimos há mais de 10 anos em pesquisa e inauguramos, há três anos, um Centro de Pesquisa e Inovação, o único do Grupo na América Latina e um dos seis hubs regionais da L´Oréal no mundo. Este laboratório nos torna mais rápidos para desenvolver e lançar inovações adaptadas aos desejos do consumidor brasileiro, com potencial de lançamento mundial, mas também adaptar as melhores inovações globais para os nossos consumidores.

A L’Oréal quer protagonizar o campo da diversidade. De que maneira isso já acontece ou ainda pode ganhar espaço na empresa?

A diversidade e inclusão estão no DNA da L’Oréal e são estratégicos para o nosso crescimento sustentável. No Brasil, temos 63% de mulheres no nosso quadro de funcionários e 55% de mulheres em cargos de liderança. Em 2019, a L’Oréal alcançou o nível MOVE do certificado EDGE, certificação global que avalia como uma organização está estruturada em termos de equilíbrio de gênero. Também somos signatários da Carta de Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs) da ONU Mulheres. Com isso, assumimos publicamente o compromisso com a agenda de empoderamento das mulheres e fazemos parte uma rede global das Nações Unidas.

Temos também o L´Oréal Plural, nosso programa de diversidade, que tem três frentes: gênero e LGBT+, origem étnica & social e pessoas com deficiência. A L’Oréal também faz parte do Fórum de Empresas e Direitos LGBT+ e organizamos Workshops de Diversidade para nossos colaboradores.

Nosso desafio é representar a sociedade brasileira no que diz respeito à origem étnica e social. Temos ainda um longo caminho a evoluir e contamos com parcerias de empresas especializadas. Por isso, firmamos uma parceria com a EmpregueAfro para o recrutamento de colaboradores, assim como para o nosso Programa de Estágio. Para mim, falar de diversidade é falar de ética.

Quais são os atuais projetos e preocupações da empresa no campo ambiental atualmente?

Em 2013, a L’Oréal lançou o seu programa de sustentabilidade, o Sharing Beauty With All e, desde então, tem trabalhado em uma série de ações que comprovam ser possível inovar de maneira sustentável. Este programa permite que a L’Oréal contribua com 14 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. No Brasil, o programa tem três focos: combater as mudanças climáticas, transformar a cadeia de valor e promover o protagonismo social.

Visando uma cadeia de valor sustentável, a L’Oréal possui a ferramenta SPOT, que faz análise do ciclo de vida do produto. Com ela, conseguimos monitorar e controlar 100% das fórmulas novas ou renovadas com o objetivo de reduzir a pegada ambiental.

Um projeto de combate às mudanças climáticas é a nossa parceria com a ENGIE. A companhia nos fornece energia 100% renovável para todas as nossas unidades. Assim evitamos a emissão de 7 mil toneladas de CO2 na atmosfera, o equivalente ao plantio de 43 mil árvores. Nosso objetivo é nos tornarmos carbono neutro até o fim do ano.

De que maneira a L’Oréal atua com o pequeno empresário da beleza e profissionais do setor, um grupo quem tem sido muito impactado pela atual crise?

Desde a criação da L’Oréal, há mais de 110 anos no mundo e 60 anos no Brasil, os salões de beleza fazem parte da nossa história. Nosso fundador, Eugène Schueller, formulou sua primeira tintura capilar, sob o nome de Oréal, e a fabricou e vendeu para cabeleireiros parisienses.

Podemos destacar duas ações que reforçam nossa relação com estes profissionais. Na nossa sede, no Rio de Janeiro, temos a Academia L’Oréal, espaço dedicado a cursos, workshops e eventos para salões de beleza parceiros de nossas marcas L’Oréal Professionnel, Redken e Kérastase.

Outra iniciativa está dentro do nosso programa de sustentabilidade, onde temos o pilar de protagonismo social. Nossas escolas de capacitação já formaram mais de 1.100 profissionais para a indústria da beleza e 60% dos alunos acham um emprego ou abrem seu próprio salão de beleza após o curso.

A empresa é conhecida pela digitalização dentro de seu segmento. Como foi essa evolução?

A L’Oréal tem a meta de se tornar a Beauty Tech número um do mundo. A digitalização está revolucionando a experiência de beleza dos consumidores. Isso nos permite estar mais próximos deles, com conteúdo mais personalizado e com uma experiência de compra diferenciada por meio do e-commerce, onde somos líderes no segmento da beleza.

Desde 2016 estamos trabalhando no nosso upskilling digital de toda a companhia, independente da área. Só em 2019, treinamos 78% do nosso time de marketing/marketing estendido e RH, isso equivale a mais de 2500 horas. A nossa meta é treinar 100% do nosso time de marketing e marketing estendido.

No início deste ano lançamos, em parceria com a Fábrica de Startups, um programa de inovação com foco em soluções para os nossos desafios das áreas de comunicação, vendas e operações.

Além disso, mundialmente, a L’Oréal fez a aquisição da startup ModiFace, líder mundial em Realidade Aumentada e Inteligência Artificial aplicada à indústria da beleza. No Brasil, essa aquisição nos permite inovar em aplicativos que trazem uma melhor experiência para as consumidoras, como é o caso do “Virtual Mirror” de Lancôme, “Style My Hair”, de L´Oréal Professionnel, e o “Color Match”, de Garnier Nutrisse. Essas novas tecnologias permitem que a consumidora veja, em tempo real, como ficaria suas maquiagens ou cabelos usando uma determinada tonalidade.

Como Belga, quais as diferenças que você percebe no segmento de beleza no Brasil e no comportamento dessa consumidora?

No Brasil, a beleza é uma característica essencial, um sinal de expressão e de autoafirmação. A rotina capilar da mulher brasileira é mais complexa do mundo.

As condições climáticas (sol, umidade, vento) e as constantes alterações químicas nos cabelos deixam os fios danificados e isso faz com que os rituais de cuidado com os cabelos sejam sofisticados. Ela usa shampoo, condicionador, creme para pentear, spray de silicone e óleos. O Brasil é o único país do mundo onde se encontram os 8 tipos de cabelos catalogados pela L’Oréal, do mais liso ao mais cacheado.

O povo brasileiro também é muito criativo. Isso traz reflexos no trabalho. Os cabeleireiros daqui, por exemplo, inovam e lançam novas tendências de cores e cortes pelo mundo todo.