'Timing técnico é diferente do timing político, por isso a importância da autonomia', defende presidente do BC

Roberto Campos Neto foi um dos expositores do segundo dia do LIDE Brazil Conference, que ocorre em Londres, na Inglaterra. Além dele, participam também Joaquim Levy e Henrique Meirelles, ambos ex-ministros da Fazenda.

Roberto Campos Neto durante Confere^ncia do LIDE em Londres.  Foto Felipe FerugonDurante a conferência, Roberto Campos Neto enfatizou a atuação autônoma do BC. (Foto: Felipe Ferugon / LIDE)

As economias fiscal e monetária dominaram o debate deste segundo dia do LIDE Brazil Conference, em Londres. O tema, que já havia sido mencionado pelos expositores no primeiro dia, ganhou ainda mais força com a presença do presidente do Banco Central do país, Roberto Campos Neto, que foi enfático em afirmar que o trabalho do órgão é técnico e o timing é diferente do processo político.

Com essa explanação, Neto defendeu a autonomia do Banco Central e explicou o porquê as taxas de juros do Brasil encontram-se em 13,75%. “O Brasil tem uma meta de inflação compatível com vários outros países emergentes. A inflação desancorada faz com que o custo da inflação seja muito mais alto e muito mais duradouro. Países que abandonaram o sistema de meta tiveram inflação muito mais alta”, comentou.

Quanto à expectativa da meta de inflação ideal (2%), de novembro do ano passado para cá, Campos Neto afirma que é preciso estender o debate a outros poderes.

“A inflação de mercado vinha caindo, mas, nos últimos dias ela deu uma volta por causa do texto do arcabouço”, explicou. A situação, porém, é considerada menos preocupante que o caso da vizinha Argentina, que registrou disparou nos índices de preços nos últimos anos, devido a um abandono no sistema de metas.

A preocupação social também foi parte do discurso do presidente do órgão, que comentou que esse segmento de atuação deve ser feito de forma sustentável. Neto mostrou o trabalho realizado com o PIX, que segundo ele, foi o maior projeto de inclusão financeira dos últimos tempos.

“À medida que o PIX entrou, as pessoas se ‘bancalizaram’, comenta. “Quanto mais pagamento instantâneo você tem, mais você formaliza a mão de obra”. No contexto digitalização, o presidente do banco fez uma prévia sobre o real digital, que deve passar pelo processo de implementação já a partir deste ano, com expectativa de operar até 2024.

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Eficiência

_Joaquim Levy durante Conferência do LIDE em Londres. Foto Felipe Ferugon _ LIDE (1)Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados no Banco Safra, endossou sobre a necessidade de redução de gastos. (Foto: Felipe Ferugon / LIDE)

O diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados no Banco Safra, Joaquim Levy, abriu sua fala sobre corte de despesas, que para ele, deve ser seguido o caminho de eficiência, portanto, análise dos gastos e o que pode ser banido desta lista.

“Como disse Roberto Campos, cortar gastos obrigatórios não é fácil, e ninguém nunca conseguiu fazer. Vamos conseguir olhando a eficiência”, conta.

Ainda nesta linha, debateu o cenário do novo arcabouço fiscal, defendendo que para que haja um controle da dívida é preciso ter um elemento importante além do aumento de receita: o crescimento. Esse fator é influenciado pela eficiência das firmas, que de acordo com Levy, há um desafio grande e a digitalização pode ser uma aliada.

“Com o tipo de sistema que conseguimos fazer, colocamos na mão de uma pequena empresa a capacidade de ela melhorar toda capacidade de gestão, além de dar os instrumentos financeiros”.

A reforma do Imposto sobre Valos Agregado (IVA) foi tratada pelo diretor como uma grande contribuição, citando o grande impacto que pode ocorrer com a simplificação do crédito financeiro para as empresas.

“É difícil pagar imposto e as empresas vão receber o que é delas de forma mais fácil”, diz. 

Confira o podcast LIDE Expresso: Roberto Campos Neto reforça autonomia do BC ao destacar 'timing técnico"

Otimismo realista

Mansueto Almeida, do  BTG durante Conferência do LIDE em Londres. Foto Felipe Ferugon _ LIDEMansueto Almeida, economista-chefe do Banco BTG  foi ponderado no quesito expectativas para o crescimento econômico (Foto: Felipe Ferugon / LIDE)

O que pode parecer até mesmo um paradoxo foi apontado pelo economista-chefe do Banco BTG, Mansueto Almeida. Em seu discurso, apresentou de forma inicial o que ele classificou como “parte ruim”, que é o cenário de crescimento baixo neste ano e ano que vem por conta dos juros altos.

“Para reduzir essa taxa é preciso ter um ambiente ideal e infelizmente o Brasil não tem esse ambiente, porque a expectativa de inflação até 2027 está se afastando da meta”.

O arcabouço fiscal foi novamente tema de debate e de acordo com Almeida, pode ser aperfeiçoado no Congresso Nacional por toda trajetória que esse espaço político tem feito nos últimos anos com a aprovação das reformas.

“Vamos ser muito sinceros, o arcabouço fiscal não vai estabilizar a dívida neste governo, mas ele muda a velocidade de crescimento da dívida”, afirmou.

Os pontos positivos que levam o economista a acreditar no olhar otimista do país são pelas oportunidades de investimentos na nação em seus diferenciais: como em energia renovável e agricultura.

“Quando olho para essas particularidades do Brasil eu não fico pessimista, eu fico otimista”.


Teto de Gastos x Arcabouço Fiscal

Henrique Meirelles durante Conferência do LIDE em Londres. Foto Felipe Ferugon _ LIDEHenrique Meirelles falou sobre as ações adotadas na sua gestão enquanto Ministro da Fazenda (206-2018) (Foto: Felipe Ferugon / LIDE)

Responsável pela implementação do teto de gastos, o ministro da Fazenda (2016-2018) e presidente do Banco Central (2003-2011), Henrique Meirelles, esclarece que a medida adotada em sua gestão foi de extrema importância e acarretou diversos benefícios a economia do país. “O teto de gastos tirou o Brasil da sua maior crise da história recente, que em doze meses o PIB caiu 5,2%”, analisa.

“No momento em que nós aprovamos, o Risco Brasil passou a cair, a taxa de mercado caiu substancialmente e a expectativa de inflação caiu muito”, reforçou.

Meirelles explica que a regra do novo arcabouço fiscal é mais complexa que o modelo anterior e para que as metas sejam atingidas, o especialista conta que é preciso ter um aumento da receita nos próximos períodos.

“Por princípio, no mundo todo, as regras fiscais se concentram na despesa e não sobre a receita, que envolvem fatores diversos que estão fora do alcance do governo”. Complementa falando sobre esse grande desafio “conter gastos é sempre mais eficiente que aumentar as receitas”.

 

Visão internacional

Robert Wingley durante Conferência do LIDE em Londres. Foto Felipe Ferugon _ LIDERobert Wigley destacou as oportunidades no cenário financeiro em parcerias globais (Foto: Felipe Ferugon / LIDE)

O presidente do UK Finance, Robert Wigley, destacou as oportunidades no cenário financeiro em parcerias globais. Em relação ao Brasil, elogiou o lugar que o país ocupa como referência nos mercados de cryptomoedas, sendo um dos mais crescentes do mundo.

“Podemos falar mais sobre isso e trabalharmos juntos no futuro” e aconselhou que essa visão de mercado seja ampliada para a tokenização dos ativos, que segundo ele, vai dominar as discussões.

Paulo Hernandes Cos, durante Conferência do LIDE em Londres. Foto Felipe Ferugon _ LIDE
Pablo Hernandez de Cos defendeu a independência dos Bancos Centrais (Foto: Felipe Ferugon / LIDE)

Já o presidente do Banco Central da Espanha, Pablo Hernandez de Cos, defendeu que o bem-estar e o desenvolvimento econômico para os cidadãos. Para ele, dois atributos são chaves para conquistar políticas econômicas sustentáveis: a necessidade de políticas domésticas, com estabilidade macroeconômica com cooperação internacional. “Nós precisamos acreditar que Instituições são importantes para criarem políticas sustentáveis”.

Hernandez ainda mencionou a importância da independência dos Bancos Centrais- tema que ganhou destaque também no Brasil-, além desta liberdade aos supervisores e autoridades regulatórias.

“Isso garante consistência de visão de longo prazo que permita o Banco Central a cumprir com suas responsabilidades. É positivo para a sociedade”.