Brasil precisa aumentar as terras produtivas e isso não significa desmatamento, analisa Kátia Abreu
Ex-ministra da Agricultura foi uma das expositoras do segundo dia do LIDE Brazil Conference, que ocorre em Londres, na Inglaterra. Ela debateu sobre a importância do setor agro para autoridades do setor público, investidores e empresários.
Kátia Abreu, ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2015 - 2016), falou sobre a necessidade de ampliar a demanda de alimentos no país. (Foto: Felipe Ferugon / LIDE)
O agronegócio brasileiro e a importância deste segmento para a segurança alimentar não só nacional, como mundial, foi o tema central do segundo painel deste dia no LIDE Brazil Conference, que ocorre em Londres. Para reforçar o papel e responsabilidade do país nesta missão, Kátia Abreu, ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2015 - 2016), abriu sua fala com um dado importante: a necessidade do Brasil em aumentar a produção de alimentos em 41% até 2050, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Esta missão está dentro de um cenário da Organização que defini e recomenda essa elevação a alguns países para suportar a demanda nos próximos 27 anos. De acordo com a gestora, apesar do número expressivo, até mesmo acima da média de outros países como a China, mostra a importância nacional e da América Latina neste tema e comenta que o potencial está em uma região chamada MATOPIBA.
“O Brasil tem grande potencial em todos os lugares, mas mais no MATOPIBA, região delimitada pela Embrapa que corresponde aos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia”, explica.
Para atingir esse nível de produção, a também ex-senadora é enfática ao dizer que é preciso aumentar as terras produtivas. Esse anseio, no entanto, não vem acompanhado de crimes ambientais e desmatamento, mas sim, com o melhoramento da produtividade de terra.
“Nós temos grandes chances de aumentar essa produção apenas melhorando a produtividade da terra. São lugares antropizados, mas que tem baixa produtividade, não significa degradação”, afirma.
Para ela, a resposta para esse déficit é a falta de dinheiro que impende ainda que o produtor consiga ter condições tecnológicas para produzir em seu limite. Como exemplo, citou a evolução da pecuária, que após investimentos governamentais, conseguiu aumentar a sua efetividade, reduzindo a degradação ambiental e em menos espaço.
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Conselhos para o Brasil
Francisco Matturro, secretário de Agricultura do Estado de São Paulo Paulo (2022) e presidente da Agrishow, trouxe ao debate a importância de se modernizar o Manual de Crédito Rural. (Foto: Felipe Ferugon / LIDE)
O secretário de Agricultura do Estado de São Paulo Paulo (2022) e presidente da Agrishow, Francisco Matturro, expôs duas ações feitas em sua gestão política estadual que observa como grandes exemplos a serem seguidos pelo Brasil: processamento e análise de todas as propriedades do estado de São Paulo, que totalizam 406 mil, sendo 188 mil abaixo de 20 hectares.
“Foi um feito enorme e eu clamo para que o Brasil siga na sua regulamentação ambiental”.
O segundo ponto citado por Matturro é a elevação do status sanitário que para a defesa da pecuária e vegetais do estado. Ainda em seu discurso, trouxe a necessidade de modernizar o Manual de Crédito Rural, fazendo um apelo por essa demanda ao presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco. Esse pedido está estruturado na evolução dos produtores em expandir por todo território suas ações e garantir safra o ano todo.
“Nós produzimos, regeneramos os solos, reconstituímos áreas de preservação permanente, reconstituímos vegetação nativa e ainda temos renda. Não é uma tarefa fácil, mas a tecnologia e a ciência nos permitem isso”, complementa.
Grande oportunidade
Luiz Carlos Trabuco, presidente do Conselho de Administração do Bradesco, comentou sobre os desafios e reflexos causados pela pandemia e a guerra na Ucrânia. (Foto: Felipe Ferugon / LIDE)
A extrema importância do agronegócio para a economia brasileira e fonte de oportunidade de comércio exterior sustentou a fala do presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco. De acordo com ele, a evolução em pouco tempo do setor de forma moderna coloca-o em uma posição espetacular, sendo um fator importante para a segurança da balança de pagamentos, mesmo com os desafios enfrentados por outros segmentos.
O reflexo da pandemia e da atual guerra da Ucrânia, que colocaram restrições e dependências em abastecimento de produtos como fertilizantes, também trouxe uma reflexão, de acordo com o empresário: a de repensar a agenda ESG e de transição energética, que para ele, anda lado a lado com a de segurança alimentar.
“Produção de alimentos no mundo depende da confiabilidade e os países precisam acreditar em ambientes sustentáveis”, enfatiza.
Potencial pouco explorado
Milton Steagall,CEO do Grupo BBF (Brasil BioFuels) ressaltou sobre a importância de práticas sustentáveis no campo. (Foto: Felipe Ferugon / LIDE)
Em linha com a discussão de um agronegócio mais sustentável, o CEO do Grupo BBF (Brasil BioFuels), Milton Steagall, que atua em cinco estados da região amazônica, lembrou da importância do cultivo de palma para o Brasil e o seu grande potencial. De acordo com ele, mesmo com uma das legislações mais severas para uma cultura, ainda é tímida a produção de óleo de palma “o mais consumido pela humanidade”.
Steagall lembrou o processo com o Governo Federal e a Embrapa em colocar em prática o decreto 7.172 do Governo Federal de 2010 que, na época, vislumbrou 31 milhões de hectares passíveis de serem recuperados em áreas degradadas da Floresta Amazônica pela palma. Hoje, existem menos de 200 mil hectares cultivados por um pequeno número de empresas que atuam nos Estados do Pará e Roraima.
“O óleo de palma é o mais consumido pela humanidade, presente em diversos alimentos e itens de higiene e beleza, além de ser fundamental para a transição energética do Brasil. É a principal matéria-prima para o desenvolvimento dos inéditos biocombustíveis Diesel Verde (HVO) e Combustível Sustentável de Aviação (SAF), que o Grupo BBF produzirá a partir do final de 2025. Infelizmente, o Brasil ainda precisa importar grandes volumes de óleo de palma de países asiáticos: cerca de 30% do volume total para o mercado doméstico vêm de outros países, segundo dados de 2022 da Secretaria do Comércio Exterior do Ministério da Economia”, afirma Steagall.